Para 56%, servidor público não representa a diversidade do brasileiro, segundo Datafolha

Por LUANY GALDEANO E TATIANA CAVALCANTI

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A maior parte dos brasileiros, 56%, avalia que servidores públicos não representam a realidade da sociedade e também não conhecem os desafios dos cidadãos. As conclusões são de pesquisa Datafolha, encomendada pelo Movimento Pessoas à Frente, dedicado à gestão de pessoas no setor.

O levantamento a respeito da percepção da população sobre os profissionais que trabalham no serviço público foi feito com 2.025 pessoas maiores de 16 anos, entrevistadas entre os dias 11 e 18 de setembro em capitais, regiões metropolitanas e cidades do interior. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

A diversidade no serviço público, especialmente em cargos de liderança, desempenha papel significativo na eficácia das políticas públicas, de acordo Helena Wajnman, diretora-executiva do Instituto República.org.

Para ela, a diversidade na burocracia reflete a população e garante que as demandas de diversos grupos sejam atendidas nas tomadas de decisão.

"É crucial entender que os formuladores e implementadores de políticas públicas não são neutros, eles trazem consigo contextos e perspectivas que influenciam suas escolhas. A representação, portanto, é essencial para que as políticas públicas abordem efetivamente as necessidades da população."

Clarissa Malinverni, integrante da diretoria executiva do Movimento Pessoas à Frente, também apontou que a falta de diversidade nas posições de liderança do setor público, predominantemente ocupadas por homens brancos, resulta em uma diminuição da confiança da população.

Dados da pesquisa mostram que 71% dos entrevistados confiariam mais nos governos se os ocupantes dessas posições fossem mais semelhantes a eles. Esse sentimento é corroborado por pesquisas anteriores, como o Latinobarómetro, que, segundo Clarisse, revelou baixos níveis de confiança nas instituições no Brasil.

"A promoção da diversidade de gênero e racial no serviço público é vista como fundamental [na pesquisa do Datafolha], refletindo a crescente maturidade da população em relação a essas questões."

Ela afirmou que os cidadãos brasileiros exigem cada vez mais a valorização das capacidades dos servidores públicos. A falta de transparência sobre as posições de liderança, como a ausência de informações sobre o perfil racial e de gênero, também é apontada por ela como um obstáculo que afasta a população do governo.

"Esses números refletem o crescente debate sobre diversidade no Brasil e o reconhecimento dos ganhos que ela traz para a eficiência dos serviços públicos. A falta de transparência nos dados sobre servidores de segundo e terceiro escalões é prejudicial, por isso é importante disponibilizá-los de maneira clara e acessível para promover a diversidade e construir a confiança da população."

De acordo com o Datafolha, os números indicam que a diversidade racial e de gênero também é vista positivamente pela sociedade brasileira, com 86% dos entrevistados concordando que ações para promover e garantir igualdade de gênero no serviço público são importantes, número que chega a 89% quando a pergunta se refere à representação racial.

Ter mais mulheres nos quadros tornariam o serviço público melhor para 90% e a diversidade racial melhoraria o atendimento em instituições governamentais para 82%.

Helena Wajnman lembrou em exemplo prático ao citar a distribuição de absorventes em escolas públicas que, segundo ela, só avançou devido ao protagonismo das mulheres na discussão.

"Homens, por si só, dificilmente perceberiam a importância disso e o impacto que a falta de acesso a absorventes tem na frequência escolar de milhares de meninas. Portanto, a representatividade de gênero e diversidade em espaços de tomada de decisão é essencial para garantir políticas públicas mais sensíveis e equitativas."

De acordo com o coordenador do Núcleo de Estudos Raciais do Insper Michael França, pesquisador e colunista Folha, o caminho para alcançar um serviço público mais representativo e eficiente é a inclusão significativa de mulheres, negros e outros grupos historicamente marginalizados, segundo ele, a fim de melhorar a confiança e a coesão social.

"Ainda é importante destacar a necessidade de ampliar a discussão sobre outras formas de diversidade, como questões indígenas, de deficiência e LGBT, para garantir uma sociedade mais inclusiva e equitativa."

Para França, o fato de a população não se enxergar nos servidores públicos é um ponto crítico, e a representatividade desempenha um papel fundamental nesse contexto. Para ele, a ausência de modelos sociais para diferentes grupos pode afastar as pessoas da participação e do interesse em determinados setores da sociedade. "A inclusão de vozes diversas pode enriquecer as discussões e a tomada de decisões."

Ele explicou que é importante notar que, mesmo com a melhor das intenções, a predominância de homens brancos de alta renda em posições de poder pode ter implicações prejudiciais nas políticas públicas.

"A falta de diversidade nas lideranças pode levar a escolhas equivocadas e desconsiderar as realidades vividas por grupos historicamente marginalizados. Portanto, a inclusão substancial é fundamental para trazer mudanças significativas na sociedade."

A questão da legitimidade também é ce ntral nesse contexto, de acordo com França, uma vez que as narrativas tradicionais de mérito estão sendo questionadas. "A desigualdade de oportunidades e privilégios gera uma crise de legitimidade, especialmente quando a população percebe que o sucesso não é apenas uma questão de mérito individual."

Neste sábado (28), celebra-se o Dia do Servidor Público.