PIB do terceiro trimestre perde força, mas consumo ainda garante taxa positiva

Por LEONARDO VIECELI E EDUARDO CUCOLO

RIO DE JANEIRO, RJ, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil perdeu força no terceiro trimestre deste ano, mas ainda apresentou leve variação positiva de 0,1% em relação aos três meses imediatamente anteriores. É o que indicam dados divulgados nesta terça-feira (5) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O resultado ficou acima da mediana das estimativas do mercado financeiro, que esperava contração de 0,3%, segundo a agência Bloomberg.

Pelo lado da demanda por bens e serviços, o PIB do terceiro trimestre contou com contribuição positiva do consumo das famílias, que subiu 1,1%. A alta, conforme o IBGE, foi puxada pela retomada do mercado de trabalho e pelas transferências de programas sociais. A iniciativa em destaque nessa área é o Bolsa Família.

A alta do consumo atenuou os efeitos de contribuições negativas, como a dos investimentos produtivos na economia brasileira, medidos pela FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo). Esse indicador caiu 2,5% no terceiro trimestre, na comparação com os três meses imediatamente anteriores.

Os juros em patamar ainda elevado foram apontados como responsáveis pela redução dos investimentos. "É um reflexo da política monetária contracionista, com queda na construção e também na produção e importação de bens de capital. Todos os componentes que mais pesam nos investimentos caíram neste trimestre", disse a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.

A desaceleração do PIB no terceiro trimestre vem após a atividade econômica registrar desempenho acima do esperado na primeira metade de 2023.

O indicador havia sido impulsionado pela agropecuária no primeiro trimestre, quando o crescimento chegou a 1,4%, e por parte dos serviços e da indústria no segundo, quando a alta foi de 1%. Houve revisões nos dados desses trimestres.

Inicialmente, os resultados sinalizavam um avanço maior de janeiro a março deste ano (1,8%) e uma alta menor de abril a junho (0,9%). Conforme o IBGE, as duas revisões ficaram mais relacionadas à agropecuária, já que o instituto incorporou novas estimativas do setor.

A variação de 0,1% no terceiro trimestre marca a terceira taxa positiva do PIB em sequência. Com o resultado, o indicador está novamente no maior patamar da série histórica, com dados desde 1996. Também opera 7,2% acima do nível pré-pandemia, do quarto trimestre de 2019.

Pelo lado da oferta, 2 dos 3 grandes setores econômicos avançaram de julho a setembro. Tanto a indústria quanto os serviços registraram alta de 0,6%. A agropecuária, por outro lado, caiu 3,3%, sob impacto do fim da safra de soja.

"A agropecuária atingiu o seu maior patamar no trimestre passado e neste há a saída da safra da soja, a maior lavoura brasileira, que é concentrada no primeiro semestre. Então há a comparação de um trimestre em que há um grande peso da soja com outro em que ela não pesa quase nada", disse Palis.

A queda do setor, segundo a pesquisadora, era esperada. Ela também destacou que 2023 "está sendo um bom ano" para a agropecuária, que acumula alta de 18,1% até o terceiro trimestre.

Na indústria, o IBGE ponderou que o único crescimento foi registrado pelo setor de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (3,6%), influenciado pelo crescimento no consumo de energia.

"Está sendo um ano bom para o setor, sem problemas hídricos e com bandeira verde. Também foi muito quente, o que favoreceu o consumo de eletricidade e de água", apontou Palis.

De julho a setembro de 2023, o Brasil ainda registrou sinais positivos no mercado de trabalho, de acordo com dados do próprio IBGE. A geração de vagas de emprego formal e o aumento da renda média e da massa salarial foram vistos como fatores de estímulo para o consumo de bens e serviços.

O BC (Banco Central) até iniciou em agosto o ciclo de cortes da taxa básica de juros (Selic), mas analistas alertam que o reflexo dessa medida tende a aparecer com algum atraso na atividade econômica.

Com o aperto da política monetária e o fim do impulso da safra agrícola, instituições financeiras passaram a prever perda de fôlego para o PIB no terceiro trimestre. O que não aparecia na maioria das previsões era a variação positiva.

Inflação mais moderada e crescimento do crédito também teriam ajudado o consumo das famílias, conforme o IBGE. "Por outro lado, apesar de começarem a diminuir, os juros seguem altos e as famílias seguem endividadas", disse Palis.

No acumulado de 2023, a projeção do mercado financeiro é de crescimento de 2,84% para o indicador, conforme a mediana da edição mais recente do boletim Focus, divulgada pelo BC na segunda-feira (4) ?ou seja, antes da publicação dos dados do PIB de julho a setembro. A estimativa para 2024 é de avanço menor, de 1,5%.

CÁLCULO DO PIB

Produtos, serviços, aluguéis, serviços públicos, impostos e até contrabando. Esses são alguns dos componentes do PIB, calculado pelo IBGE, de acordo com padrões internacionais. O objetivo é medir a produção de bens e serviços no país em determinado período.

O levantamento é apresentado pela ótica da oferta (o que é produzido) e da demanda (como os produtos e os serviços são consumidos). O PIB trimestral é divulgado cerca de 60 dias após o fim do período em questão, trazendo dados preliminares.