Fleury mantém interesse em aquisições, diz CEO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Grupo Fleury, que fez 16 aquisições desde 2017, dá sinais de apetite para buscar novas transações.
Segundo a CEO da companhia, Jeane Tsutsui, a ideia é seguir na expansão da medicina diagnóstica, mantendo o foco de crescimento na principal área de atuação do grupo, mas também avançar no negócio de clínicas de algumas especialidades em que a companhia ingressou nos últimos anos, como ortopedia, oftalmologia e infusão de medicamentos.
Entre 2022 e 2023, foram cinco operações com empresas presentes em estados como Pernambuco, São Paulo, Minas, Goiás e Pará.
"Temos uma visão de que o mercado de medicina diagnóstica vai continuar crescendo, assim como tem o potencial de crescimento dessas especialidades onde nós entramos. E o crescimento virá ainda de uma combinação de crescimento orgânico e possíveis M&As [fusões e aquisições]", diz.
Ela ressalva que, por ora, não há interesse de entrar em novas áreas nem em hospitais de alta complexidade. "A gente prefere crescer nessas especialidades a expandir para todas as especialidades."
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Pergunta - Os planos de saúde enfrentam uma fase difícil por vários motivos. Como está a preocupação do seu segmento diante disso?
Jeane Tsutsui - O setor tem questões estruturais. Houve um incremento de sinistralidade após a pandemia e há essa tendência macro de envelhecimento da população. Cada vez mais, serão necessárias medidas e soluções de prevenção. É nisso que o Fleury vem atuando. Quanto mais se mantém as pessoas saudáveis no controle de doenças crônicas, evitando gastos, principalmente com eventos que elevam sinistralidade, mais se consegue equilíbrio para essa equação.
Em todo o mundo, a sustentabilidade do setor de saúde, o envelhecimento da população e novos modelos vêm sendo debatidos. Assumimos um posicionamento estratégico amplo, não só atuando em medicina diagnóstica, que contribui para prevenção.
Acredito que seja um problema de todos que atuam no setor e de certa forma, da sociedade. A partir do momento que as pessoas têm consciência desse desafio e do impacto que isso vai ter na qualidade de vida, elas também passam a participar mais do debate.
P. - Na tendência de verticalização do setor, o Fleury tem feito aquisição de clínicas. Como está a expansão?
J. T. - No setor de saúde, não tem um modelo único. Há verticalização direta ou indireta. Cada vez mais, é integrar serviços e oferecer isso, por exemplo, para as operadoras. Nós temos um posicionamento de expansão em medicina diagnóstica. É a nossa principal avenida de crescimento. No ano passado, concretizamos a combinação de negócios com Hermes Pardini, que é uma empresa de medicina diagnóstica complementar às nossas atividades.
Mas além da medicina diagnóstica, temos expandido atuação na jornada de cuidado do paciente. Então, quando se fala de clínicas, nós estamos atuando em algumas especialidades como ortopedia, oftalmologia, infusão de medicamentos, indo além da medicina diagnóstica. O nosso core [negócio principal] continua sendo medicina diagnóstica, mas a gente passa a oferecer serviços completos em algumas especialidades. Hoje, nós atuamos desde telemedicina, atenção primária, diagnóstico, atenção secundária, até uma atenção terciária, porque oferecemos cirurgias e outros procedimentos de menor complexidade em ambiente de hospital dia.
Com essa jornada mais fluida, eu ofereço a solução completa para a operadora, evito que o paciente fique perdido no sistema. A gente consegue reduzir os custos com saúde, porque faz o diagnóstico precoce e tem integração de jornada. A depender da situação ou do modelo, se reduz em 17% o custo desse cliente.
P. - Vocês vão seguir fazendo as aquisições?
J. T. - Temos um histórico de M&As [fusões e aquisições]. Nosso crescimento ao longo do tempo é uma mistura de crescimento orgânico e inorgânico. Desde 2017, fizemos 16 aquisições, predominantemente de medicina diagnóstica, mas também de novos serviços como esses que eu falei, de oftalmologia, infusões, ortopedia. Olhando daqui para a frente, a gente continua. Nós tivemos uma combinação de negócios com o Pardini que foi um movimento de M&A grande. Mudamos o patamar de receita. O ano de 2022 fechou com a empresa combinada com receita de R$ 7,1 bilhões, sendo dois terços de Fleury e um terço Pardini. O ano de 2023 foi uma fase intensa de integração do Fleury e Pardini.
Daqui para a frente, temos uma visão de que o mercado de medicina diagnóstica vai continuar crescendo, assim como tem o potencial de crescimento dessas especialidades onde nós entramos. E o crescimento virá ainda de uma combinação de crescimento orgânico e possíveis M&As. Então, continuamos para um pipeline de M&As, mas com disciplina.
P. - Nessa expansão, também se pretende expandir a variedade dessas especialidades?
J. T. - Fizemos um estudo aprofundado de especialidades que estão mais relacionadas à questão do envelhecimento da população, com oftalmologia, ortopedia e cada vez mais infusão de medicamentos para pacientes crônicos.
Em oncologia, também, a gente tem anunciada uma joint venture com BP e Atlântica, e a gente acredita que essas especialidades precisam, cada vez mais, ganhar corpo em um modelo de negócio sustentável. A gente prefere crescer nessas especialidades a expandir para todas as especialidades. Nessas em que já estamos temos um mercado endereçável na saúde suplementar de R$ 40 bilhões por ano.
P. - E para hospitais, como estão olhando?
J. T. - Hoje nós atuamos em parceria com hospitais, prestamos serviço dentro de hospitais. Nossa atuação é predominantemente ambulatorial pelo nosso histórico e temos serviços de hospital de baixa complexidade, aquilo que a gente chama de hospital dia. Por exemplo: temos um hospital ortopédico, mas é baixa complexidade. O paciente não fica internado. Ele faz o procedimento e recebe alta no mesmo dia, que é muito próximo dessa nossa atuação mais ambulatorial. Hoje, nós não atuamos em hospital de alta complexidade, mas somos parceiros.
Raio-X
Jeane Tsutsui, 54
CEO do Grupo Fleury, a executiva é graduada em medicina pela faculdade de Ribeirão Preto da USP e ingressou na companhia em 2001 como cardiologista. Foi gerente e diretora nas áreas de pesquisa e desenvolvimento e gestão do conhecimento, diretora-executiva médica e diretora-executiva de negócios