Sem lances, leilão de marcas lendárias da Chocolates Pan entra na terceira fase
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A segunda fase do leilão das 37 marcas pertencentes à falida companhia de doces Pan (Produtos Alimentícios Nacionais), entre elas clássicos como o Chocolápis, a Moeda de Chocolate Ao Leite e as balas Paulistinha, não recebeu nenhum lance e entrou em sua terceira fase na tarde desta sexta-feira (16).
Mas assim que passou para a nova fase do certame, que tem duração de 16 dias, com encerramento previsto para o dia 4 de março, três lances já foram dados. O lance atual mais alto é de R$ 251 mil.
Segundo o leiloeiro oficial, Erick Teles, a terceira fase pode representar uma estratégia do mercado, inclusive com a possibilidade de haver um aumento na disputa pelas marcas.
"Temos muita confiança nesta etapa. Desde o começo, o leilão foi atraindo cada vez mais empresas, que se habilitaram em cada fase. E ainda temos outras que estudam entrar na disputa", afirma.
Até agora, o leilão tem sete habilitados, segundo a Positivo Leilões, responsável pelo certame. Por questões legais, contudo, os nomes não foram revelados. Os interessados no leilão podem participar neste link: www.positivoleiloes.com.br.
Na primeira fase, que também não teve lance, havia 12 empresas interessadas, sendo dez delas do segmento alimentício.
O valor da venda tem como objetivo pagar credores como o fisco, tanto municipal, estadual e federal, e depois os fornecedores.
Segundo Fabio Rodrigues Garcia, da ARJ Administração e Consultoria Empresarial, administrador judicial da falência da fábrica, não há nenhum fornecedor com garantia real, que possa ter prioridade na lista de credores.
Na primeira etapa dos certames da massa falida da Pan, houve o leilão de veículos, equipamentos e o próprio prédio e terreno onde estavam a fábrica da empresa. Esse dinheiro arrecadado deverá quitar todos os débitos com os funcionários. Na época que a companhia faliu, ela tinha 52 empregados.
Garcia diz esperar que até março todas as dívidas trabalhistas estejam quitadas.
Em outubro do ano passado, a Cacau Show arrematou o prédio e o terreno da fábrica da Pan, em São Caetano do Sul, no ABC Paulista, por R$ 70 milhões.
Agora, Garcia espera que outra grande companhia do segmento de chocolates arremate as marcas, para que a Pan continue sua atividade, gerando empregos e cumprindo sua função social.
"A Pan é uma marca quase centenária, que veio degringolando por falta de investimentos, mas que traz uma memória afetiva grande entre os brasileiros, e tem possibilidade de retrofit [reciclagem da marca] muito rápido dentro de um mercado grande no Brasil, que é o de chocolate", diz Garcia.
Avaliada em R$ 27,5 milhões, a marca Pan pode chegar a um faturamento de R$ 51 milhões em cinco anos, segundo relatório de avaliação aprovado pela Justiça. A Pan é considerada madura e consolidada e, por isso, segundo o laudo, poderia gerar royalties de licenciamento.
Fundada em 1935, companhia viveu seus tempos áureos entre as décadas de 1940 e 1990, e fez sucesso entre crianças e adolescentes com os famosos cigarrinhos de chocolate, cuja embalagem trazia a imagem do garoto Paulo Pompeia, à época com 9 anos.
Posteriormente, contudo, em meio a uma mudança de conscientização sobre a imagem de uma criança com o cigarro entre os dedos, o chocolate se transformou em lápis, vendidos em pacotes coloridos dentro de uma caixinha que se assemelhava às embalagens de lápis de cor.
Em 2020, a fábrica Pan entrou com pedido de recuperação judicial, após arrastar por uma década problemas de endividamento, que pioraram durante a pandemia de Covid-19.
Com dívidas acumuladas no valor de R$ 260 milhões, sendo R$ 12,3 milhões de pendências trabalhistas, a empresa então apresentou pedido de autofalência, que foi aceito pela Justiça dias depois.
Além de ser lembrada com carinho pelos brasileiros, a história da Chocolates Pan tem relação muito próxima com São Caetano do Sul, onde está localizada a fábrica que era da empresa, na esquina das ruas Maranhão e Nossa Senhora de Fátima, no bairro de Santa Paula.
Moradores da região se lembram do cheiro de chocolate que invadia os apartamento até mesmo nos andares mais altos. E também se recordam do tempo em que a fábrica distribuía doces a crianças que passavam por lá perto de datas festivas, como Páscoa e Natal.