Inflação na América Latina surpreende mercado em 67% das divulgações, diz estudo
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um estudo recente elaborado pelo Itaú BBA mostra um movimento correlacionado da inflação entre as principais economias da América Latina, o que mostra uma tendência de preços na região, que serve como indicativo para os próximos dados que serão divulgados.
Segundo o levantamento, quando as variações de preços aos consumidores de um país latino-americano surpreendem o mercado (para cima ou para baixo), normalmente isso tende a se repetir em outras nações da região.
O estudo, que abarca um período de análise que vai de fevereiro de 2019 a janeiro de 2024, mostra que, em média, a inflação divulgada na América Latina surpreende o mercado em 67% das publicações.
Isso equivale a dizer que, na maior parte das vezes, os preços têm um desvio de pelo menos 0,05 ponto percentual para mais ou para menos em relação à mediana das projeções de inflação do mercado.
Somente no Brasil, os dados de inflação surpreenderam o mercado em 58% das vezes.
O levantamento exclui a Argentina, já que o país está há tempos com os preços descontrolados em meio à crise econômica em que os argentinos vivem.
Somente para efeito de comparação, na Europa, a taxa de surpresas do mercado com os dados de inflação é de 22%. Já nos Estados Unidos está em 85%, mas em grande parte por causa do choque causado pela pandemia, que fez com que o país tivesse os maiores índices inflacionários em 40 anos.
Segundo a economista Julia Passabom Araujo, analista no Itaú BBA, há muito tempo já havia uma percepção no mercado financeiro de que a inflação nos países latino-americanos se movimentam de forma parecida e o estudo comprovou esse sentimento.
"Acho que todo mundo que está no mercado financeiro, quando começam a sair dados de inflação -no caso do Brasil, a gente olha o IPCA [Índice de Preços ao Consumidor Amplo]--, e eles vêm acima do esperado no Chile e na Colômbia, por exemplo, todo mundo fala: 'Aqui vai vir para cima também'. A nossa ideia então foi checar isso nos dados e não ficar só no anedótico", diz Araujo.
A economista afirma que as surpresas conjuntas na região com relação aos preços acontecem em razão de choques que acometem os países como um todo, como é o caso do fenômeno climático El Niño agora.
Ela cita ainda a variação cambial, já que as moedas da América Latina costumam se valorizar ou se desvalorizar ante o dólar em um movimento uniforme na maioria das vezes.
As surpresas acontecem, então, quando esses choques climáticos ou macroeconômicos na região são subestimados ou superestimados pelos analistas. O mesmo o ocorre com relação às previsões para o câmbio.
A correlação entre dólar e inflação foi só quebrado durante o choque da pandemia dentro da base de análise do estudo. Em 2022, por exemplo, em meio à disparada de preços em diversos países do mundo por causa do descompasso na cadeia de suprimentos globais, a inflação saltou, mas as moedas locais não seguiram o mesmo movimento.
Araujo também atribui esses desvios nos preços em relação ao projetado pelos economistas na América Latina às metodologias empregadas na região.
"Esses países têm cestas de inflação meio parecidas, que dão bastante peso para, por exemplo, alimentos e energia, que são itens muito voláteis. Então, os analistas têm de prever na vírgula, em cada mês, e acaba sendo difícil de ter uma assertividade grande", diz a analista.
Newsletter Folha Mercado Receba no seu email o que de mais importante acontece na economia; aberta para não assinantes. *** Como consequência das surpresas com relação à inflação, os economistas da região têm que constantemente rever suas previsões não só para os preços, como também para as decisões de juros pelos bancos centrais e, consequentemente, para o crescimento econômico do país.
De acordo com o estudo do Itaú BBA, o Brasil é o país latino-americano que apresenta a menor média e mediana de surpresas, ambas em 0,1 ponto percentual. O país com as projeções mais vezes de acordo com os preços divulgados é o México, onde apenas 45% dos dados de inflação surpreendem o mercado.
Em janeiro, a inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA, desacelerou a 0,42%. Mas a expectativa de analistas consultados pela agência Bloomberg era de uma variação menor, de 0,34%. O desvio, portanto, ficou em 0,08 ponto percentual.
O Chile, por outro lado, é o país que possui as maiores surpresas inflacionárias, com média de erro de 0,24 pontos percentuais e mediana de 0,2 p.p. No país vizinho, os economistas são surpreendidos em 83% das divulgações.