'Aos mestres, com carinho'
No Dia do Professor, conheça a história de quatro profissionais da Educação Especial de Juiz de Fora
Professor, do latim Professus, significa “pessoa que declara em público” ou “aquele que afirmou publicamente”. Mas, se perguntarem por aí, os significados podem ser um pouco diferentes, como ‘eterno sonhador’, ‘aquele que incentiva’, ‘aquele que transforma realidades’, podendo ser confundido por 'enfermeiro' ou 'psicólogo', ou chamado até mesmo de ‘pai’ e ‘mãe’ pelos seus alunos. Inúmeros são os significados para aqueles que escolheram ensinar sobre uma matéria, sobre a vida e sobre o futuro para os estudantes. Por causa disso, o Dia do Professor, comemorado neste domingo (15), é uma celebração aos profissionais que desempenham um papel fundamental na vida de milhares de vidas ao redor do mundo.
Segundo o Ministério da Educação (MEC), a educação oficial no Brasil começou em 15 de outubro de 1827, através de um decreto imperial de Dom Pedro I, que determinava que todas as cidades, vilas e lugarejos tivessem suas escolas de primeiras letras. É por causa desse decreto que o Dia do Professor é comemorado no dia 15 de outubro. Porém, a data só foi oficializada em 1963.
Então, para homenagear esses profissionais, o Portal ACESSA.com buscou pelas histórias de quatro personagens que ensinam um pouco mais sobre a profissão da esperança, do cuidar e do amar.
Onde os sonhos começaram
Ida Paula, 44, é professora de Educação Física há cerca de 20 anos. Ainda jovem, sentia vontade de ajudar outras pessoas a superarem desafios e atingirem seu pleno potencial. "Foi por volta dos meus 20 anos que essa vocação se tornou inegável e decidi me dedicar a essa missão de vida [, a educação]."
Atualmente, sua especialização é em educação especial e Educação Física. Ela trabalha com apoio de aluno especial e na Educação Física com alunos especiais dentro das turmas. Seu foco está em adaptar as atividades para atender às necessidades específicas dos alunos com deficiência. Para ela, é muito importante proporcionar a todos os alunos, independentemente de suas habilidades, uma oportunidade de aprender e se desenvolverem, oferecendo a eles um ambiente inclusivo e acolhedor.
Como Ida, a vontade de se tornar professora surgiu para Juliana Brandão, 43, quando também era mais jovem, na sua adolescência. Porém, mesmo desejando estudar Magistério, precisou deixar seu sonho de lado, pois seu pai não via a profissão com bons olhos.
Apesar de escolher outros caminhos, o passar dos anos não a fizeram esquecer da sua vontade em lecionar: "Estava lá dentro, no meu íntimo e ainda latente. Foi aí que, aos 33 anos, resolvi dar voz ao meu sonho e reescrevi minha história", conta.
Em 2013, ela iniciou a faculdade de pedagogia. Algum tempo depois, já introduzida no ambiente educacional através de um estágio, começou a se atentar para uma vertente mais específica quando vivenciou uma colega de profissão excluindo uma criança portadora de Transtorno do Espectro Autista (TEA), de forma velada. "Ali me deu o start para mudar, ou ao menos tentar, e fazer diferente nessa área [da Educação Especial].”
Para Roberta Angélica, 42, o início no meio educacional foi um pouco diferente. Quando ingressou na faculdade de pedagogia, também em 2013, não fazia ideia de como seria dali para frente. Foi somente entrando em contato com a realidade que pôde ter certeza do que queria fazer nessa profissão. "Entendi isso quando fui viver a realidade da sala de aula, as dificuldades pedagógicas, o contexto social, a vida familiar, o cognitivo e tudo mais que interfere na educação."
Hoje em dia ela é professora de apoio e conta que conheceu essa vertente através de uma colega da faculdade que faleceu em 2021, Gisele Viana. "Ela era intérprete de Libras, uma das melhores que eu conheci, e me mostrou o quanto a educação inclusiva é desafiadora e ao mesmo tempo gratificante."
Rose Alves, 51, carrega em si o famoso 'jeito com criança' desde a juventude, quando sua família já reparava em como ela era envolvida com os pequenos. Sua primeira oportunidade de trabalhar na educação foi em 2005, depois de concluir o Magistério, em uma creche em Sapucaia/RJ, e esse lugar foi despertando nela o gosto de poder cuidar de crianças. Sempre com muita afinidade com a educação infantil, ela conta que seu gosto está em desenvolver os pequenos nos anos iniciais. Porém, nessa trajetória, em 2013, houve a necessidade de ingressar no curso de pedagogia para atualizar os seus conhecimentos, já em Juiz de Fora.
Durante esse período, precisou cumprir a etapa de estágio em uma escola onde conheceu um aluno especial que ficava em um carrinho de bebê. “Ele ficava nesse carrinho, porque era um aluno que corria e batia nas pessoas. Isso me despertou e eu fiquei muito incomodada com aquela situação."
Com esse incômodo, ela se formou e conseguiu ser contratada pela Prefeitura para trabalhar nessa mesma escola e desenvolver aquele aluno. "Eu sabia que ia ser um desafio, mas estava pronta para enfrentar isso. Pela observação que eu tinha feito internamente, enquanto estagiária, acreditei que o carrinho de bebê era uma trava na vida daquele aluno e que ele precisava se socializar com os demais", e assim ela fez. Ao sair do carrinho, aquele aluno recebeu o desfralde e foi ressocializado no meio das crianças. Contando sobre essa recordação, Rose revela que aquele foi um ano desafiador em que aprendeu muito sobre a esperança e sobre a crença de que todas as pessoas podem se desenvolver, independente das dificuldades.
A Educação Especial, para ela, vai muito além do curso, porque cada aluno é único e vem com uma bagagem que vai além dos diagnósticos. "O professor deve estar ali para parar aquela limitação. Ele tem que acreditar que o aluno pode ir muito além."
Principais desafios enfrentados pela educação
A Educação Especial, segundo essas professoras, enfrenta muitas dificuldades atualmente. A falta de recursos materiais, estruturais e do apoio familiar são os principais problemas apontados por elas. "Na maioria das vezes compramos e fabricamos materiais por nossos próprios meios. Além disso, muitos alunos têm dificuldades em frequentar a escola regularmente por não ter meios de se locomover. Isso dificulta muito para eles e seus familiares", conta Roberta.
Ainda, para que o trabalho do educador seja efetivo, é preciso um acompanhamento com os profissionais específicos, como fonoaudiólogos, neurologistas, psicólogos e fisioterapeutas para que seja feito um trabalho complementar à escola. Sem isso, o desenvolvimento perde a continuidade e a constância, podendo alongar um processo que seria mais facilitado com o auxílio de todos os profissionais necessários. Sobre esse assunto, Rose considera que o principal desafio são as questões familiares: "O professor tem uma linha pedagógica, mas ele não consegue avançar a partir do momento em que há necessidade de uma avaliação médica, e muita das vezes os pais não têm esse tempo para estar cuidando dos filhos."
Motivação para continuar
Mesmo com tantos empecilhos, todas essas profissionais, sem exceção, contam sobre como é gratificante perceber a progressão de cada aluno através do seu trabalho: “Um momento que me marcou profundamente foi quando um aluno com deficiência motora conseguiu realizar uma atividade física que ele acreditava ser impossível. Foi um momento de superação e realização para ele, para mim e para toda a equipe envolvida”, relata Ida.
Roberta conta que “o que para muitos parece uma conquista tão simples, para o aluno especial é uma vitória enorme, como: reconhecer seu nome, aprender uma palavra, ler ou escrevê-la. Ver os colegas de sala de aula os acolhendo e incluindo nas tarefas do dia a dia também é muito gratificante”. Mesmo não dando mais aula para alguns desses alunos que já atendeu, Roberta continua mantendo contato com as mães, sentindo uma alegria imensa em perceber a evolução das crianças com o passar do tempo. E ela continua: “O aprendizado não é de um dia para o outro. Ele se constrói ao longo dos anos e às vezes levamos um ano inteiro para consolidar apenas um conteúdo [...] Uma frase que gosto muito, e acho que define muito bem a educação inclusiva, é do Mestre Paulo Freire, ‘A inclusão acontece quando se aprende com as diferenças e não com as igualdades’.”
"O aluno especial te apresenta um mundo que você só consegue ver através dos olhos dele. Não é fácil, mas quando o professor tem, de alguma forma, a resposta daquele aluno que era dado por muitos como 'incapaz', com um estímulo tão simples e tão complexo ao mesmo tempo, é uma alegria que não dá para explicar. Ver os pais confiarem à você a jóia mais preciosa de suas vidas enche o coração de orgulho e esperança." Dessa forma, Roberta continua acreditando que a educação pode mudar o mundo e tirar a ignorância e o preconceito das pessoas.
"O professor é um arquiteto de sonhos,
um engenheiro do futuro,
um motorista da vida dirigindo no escuro,
um plantador de esperança
plantando em cada criança
um adulto sonhador.
E esse cordel só foi escrito,
porque eu ainda acredito
na força de um professor."
- Bráulio Bessa