Concurso de redação revela deficiência na educação pública municipal
Concurso de redação revela deficiência na educação pública municipal Concebido como forma de debater problemas como crack e gravidez na adolescência, o concurso aponta para problemas no processo de ensino e aprendizagem
Repórter
8/10/2010
O concurso de redação promovido pela Casa de Cultura Evailton Vilela, que irá premiar, na próxima terça-feira, 12 de outubro, 50 alunos da rede municipal de ensino, revelou a deficiência no processo de ensino e aprendizagem dos alunos da rede pública municipal.
A intenção inicial do concurso era estimular as crianças e os adolescentes a escreverem sobre temas recorrentes, como crack e gravidez precoce, com objetivo de, em seguida, trabalhar o que tivesse sido abordado. Foram avaliadas 270 redações de alunos da Escola Municipal Jesus de Oliveira, localizada no bairro Ipiranga.
"Para nosso espanto, o nível foi muito inferior ao esperado. Fiquei chocada e decepcionada com o nível de escrita dos nossos alunos. Erros de português e de organização de ideias são muito comuns e revelam grande deficiência na leitura e na escrita", revela a educadora da Casa de Cultura, Angélica Januário.
Como exemplo, ela cita o caso de uma aluna do 4º ano do ensino fundamental que afirmou não poder participar do concurso por não saber ler nem escrever. Para Angélica, o caso é agravado pelo fato de, muitas vezes, estes alunos conviveram com o problema de drogas e da gravidez precoce. "Mas os temas ficaram em segundo plano. Aliás, percebemos que o interesse esteve focado apenas na premiação do concurso, que vai oferecer uma bicicleta a cada redação premiada."
Buscando entender a situação, Angélica avalia que os resultados são fruto de total falta de incentivo, o que gera desinteresse por parte dos estudantes. Diante deste quadro, a educadora lembra que será preciso mudar as ações. "Pensamos no concurso como forma de debater os problemas sociais, mas temos que ir mais fundo, discutindo a qualidade da educação e as formas de melhoria."
Segundo a técnica do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) Sul, Alexandra Rossi, que participou do julgamento dos textos, os desvios revelam a necessidade de ações imediatas.
Ações
Uma das primeiras iniciativas dos envolvidos com o concurso será realizar, junto ao CRAS Sul, o levantamento das famílias da região do bairro Ipiranga. "A situação está caótica. Temos intenção, inclusive, de entrar em contato com a Secretaria de Educação (SE), para verificarmos como poderemos agir", relata Angélica.
A técnica do CRAS Sul explica que o primeiro passo é conversar com as partes envolvidas, a fim de que medidas sejam propostas. "Buscamos apoiar as comunidades onde estamos inseridos. Entre as ações que deverão ser propostas estão palestras e contatos informativos, tendo em vista a sensibilização dos moradores."
A SE informou, por meio de sua assessoria, que, diante das dificuldades, a secretaria trabalha tendo como meta a melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem. Entre os projetos desenvolvidos está a realização de uma consultoria de alfabetização, que busca preparar bem os estudantes na fase de alfabetização, a fim de reduzir os problemas e evitar que os mesmos se agravem nas séries posteriores.
Além disso, o Centro Educacional Herval Braz, inaugurado em agosto, funciona como espaço de referência destinado aos alunos que apresentam dificuldades na aprendizagem, como casos de repetência e evasão escolar. De acordo com informações da SE, ainda que o tempo de funcionamento do centro seja recente, os resultados verificados são positivos.
Dificuldade
A grande dificuldade encontrada pelos organizadores do concurso foi a participação das escolas. "Gostaríamos de contar com duas escolas por região, mas só conseguimos apoio da Escola Municipal Jesus de Oliveira, as outras fecharam as portas para o projeto", afirma o presidente da Casa de Cultura Evailton Vilela, Negro Bússola.
Os textos são revisados por Thaísa Hosken