No Athletico, Fernandinho tem que esquecer Guardiola e se adaptar a Felipão
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Fernandinho havia acabado de estrear pelo Athletico Paranaense na vitória por 4 a 1 sobre o Atlético Goianiense, em duelo pelo Campeonato Brasileiro, quando foi questionado após a partida se seu time havia jogado igual ao Manchester City, onde atuou por quase dez anos antes de voltar à equipe que o revelou.
Prontamente, o volante rechaçou a comparação. "Não, está longe ainda", disse, surpreso com a pergunta. "Qualquer comparação entre um time e o outro a gente tem que desconsiderar porque são dois contextos completamente diferentes", argumentou.
Dois meses antes do primeiro jogo em sua volta ao Athletico, o meio-campista disputou seu último duelo no Campeonato Inglês, a Premier League, considerada a liga mais forte do mundo. A despedida dele foi com uma vitória sobre o Aston Villa, por 3 a 2, resultado que deu ao City seu oitavo título inglês, o sexto nas últimas dez edições.
O brasileiro fez parte de cinco dessas conquistas, sendo uma peça fundamental na era mais vitoriosa da história do clube. De 2013 a 2022, ele ganhou 13 títulos pela equipe de Manchester.
Lá, desde 2016, foi treinado por Pep Guardiola, que o considerava indispensável para a equipe que tem como característica a posse de bola, a pressão na saída do adversário e a construção das jogadas a partir da circulação e dos passes rápidos.
No Athletico, aos 37 anos, Fernandinho está precisando se acostumar a um novo estilo. Sob o comando de Luiz Felipe Scolari, o time paranaense é mais reativo, valoriza menos a posse de bola e busca ser efetivo nas jogadas de contra-ataque.
Foi assim que chegou à semifinal da Libertadores, fase em que vai enfrentar o Palmeiras. A partida de ida será nesta terça-feira (30), às 21h30, na Arena da Baixada, com transmissão do SBT e da Conmebol TV. O jogo de volta será no dia 6, em São Paulo. São embates em que o recém-repatriado prevê dificuldades.
"É um adversário difícil, complicado de enfrentar, vem de duas conquistas de Libertadores recentemente. É um grupo que está junto há bastante tempo, um técnico que comanda há bastante tempo, tem uma forma de atuação definida, está acostumado com este tipo de jogo", destacou. "Serão dois grandes jogos, e espero que nosso time esteja inspirado."
O volante reforçou a equipe a partir das quartas de final, fase na qual o clube rubro-negro superou o Estudiantes, da Argentina, com um empate sem gols em casa e uma vitória fora, por 1 a 0.
Ao todo, por enquanto, o atleta soma oito partidas com a camisa athleticana desde o retorno. Ainda sem marcar nenhum gol, acumula uma estatística defensiva que ajuda a entender seu novo comportamento em campo.
Em média, ele passou a cometer mais que o dobro de faltas do que cometia no City. Pelo time brasileiro, foram 16 faltas em 8 duelos, uma média de duas infrações por partida, segundo o site Footstats, em confrontos pelo Campeonato Brasileiro, pela Libertadores e pela Copa do Brasil.
Na temporada 2021/22, ele fez 27 partidas pela equipe inglesa nos dois principais torneios disputados pelo elenco de Pep Guardiola. Foram 19 jogos na Premier League e oito na Champions League. Em média, ele cometeu 0,5 falta por confronto, de acordo com informações do site oficial da competição inglesa e do SofaScore.
A precisão nos desarmes somada à capacidade de liderança fizeram Guardiola se render ao brasileiro, tratado pelo treinador como peça indispensável.
"Ele pode fazer tudo", elogiou o catalão, recentemente, pouco antes de saber que o perderia. "O que nós alcançamos até agora seria impossível sem ele. É rápido, inteligente, forte no jogo aéreo e pode jogar em várias posições. Logo que vê um espaço vazio, corre até lá para preenchê-lo. Se um time tivesse três Fernandinhos, seria campeão."
No time de Guardiola, o brasileiro acumulava menos faltas porque precisava ser menos exigido no setor defensivo, sobretudo pelo fato de o time valorizar a posse de bola. No campeonato nacional, por exemplo, a média de posse por jogo do City foi de 67,9%. Na Champions, a marca foi de 60,3%.
Em comparação, em duelos pelo Campeonato Brasileiro, o Athletico fica menos da metade do tempo com a posse de bola, 45,5%. Na Libertadores, o número chega a 55,5%.
Fernandinho, porém, já estava pronto para encarar essa mudança de estilo no jogo, afinal conhece bem o trabalho de Felipão. O treinador do time paranaense foi o responsável por dar ao jogador a chance de disputar a primeira das duas Copas do Mundo em que esteve presente, em 2014.
Assim como boa parte daquele elenco, o meio-campista acabou marcado pelas falhas cometidas na fatídica derrota por 7 a 1 para a Alemanha, na semifinal --o quarto gol, por exemplo, saiu com sua contribuição decisiva.
Mesmo assim, conseguiu recuperar seu prestígio e fez parte, também, do plantel que representou o Brasil na Copa de 2018, na Rússia. Novamente, porém, foi duramente criticado após a derrota por 2 a 1 para a Bélgica, num jogo em que fez um gol contra e foi facilmente driblado no segundo gol do adversário.
"As pancadas da vida vão fazendo com que a gente amadureça", disse o jogador, que agora tenta fazer com que sua experiência possa fazer diferença no Athletico.