PCC citava códigos 'STF' e 'STJ' para planejar fuga, diz Polícia Federal

Por FABIO SERAPIÃO

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A investigação da Polícia Federal para desarticular o plano de fuga de lideranças do PCC (Primeiro Comando da Capital) mapeou o uso de códigos, como "STF" e "STJ", para designar as táticas que seriam utilizadas na ação de resgate.

A apuração começou em dezembro de 2021 após o setor de inteligência do Depen (Departamento Penitenciário Federal) informar à PF que lideranças do PCC, em conversas com advogados, citavam nomes de defensores e "recursos ao STF (Supremo Tribunal Federal) e STJ (Superior Tribunal de Justiça)" para cobrar o andamento do plano.

A PF então descobriu que os nomes dos advogados e dos recursos às cortes superiores não existiam de fato e passou a apurar a suspeita de uso de códigos para designar os planos de fuga.

A partir daí, com base em interceptações telefônicas, quebras de sigilo telemático e conversas gravadas no parlatório dos presídios federais, os investigadores descobriram a existência de possíveis três planos de fuga articulados pelos advogados e por integrantes da facção em liberdade.

O primeiro deles, designado pelo código "STF", mirava a fuga de lideranças, entre elas Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, do presídio federal em Brasília.

Segundo apurou a Folha de S.Paulo, nesse plano estava previsto utilizar a tática do novo cangaço, empregada por integrantes da facção em roubos a bancos no interior do país. A ideia envolveria cercar o presídio em Brasília e resgatar Marcola e outras lideranças.

Dados coletados pelos investigadores apontam que o plano utilizaria de 40 a 60 homens fortemente armados, que participariam do ataque à penitenciária de segurança máxima.

O outro plano, chamado de STJ, mirava o sequestro de diretores do Depen para posterior troca pela liberdade das lideranças da facção.

Um terceiro plano, caso os dois primeiros não obtivessem sucesso, era gerar uma mega rebelião no presídio federal para facilitar a fuga das lideranças.

A PF afirma que tomou várias medidas para evitar que os planos fossem colocados em prática desde que percebeu a intensificação dos pedidos das lideranças, entre elas Marcola, para que os advogados acionassem os responsáveis pela execução.

A operação deflagrada na manhã desta quarta (10) e que cumpre mandados de prisão e buscas e apreensão é um dessas medidas e visa, também, avançar na apuração dos envolvidos no planejamento dos crimes.

Entre os presos que seriam resgatados estão, além de Marcola, lideranças da facção como Cláudio Barbará da Silva, o Barbará, e Valdeci Alves dos Santos, o Colorido.

Um dos mandados de busca e apreensão foi cumprido em uma residência da mulher de Marcola, localizada em Alphaville, na Grande SP. Ela mora com a irmã do líder do PCC, que é advogada e é apontada como integrante do grupo que planejava os ataques para resgatar os presos.

A reportagem não localizou a defesa de Marcola, sua esposa e sua irmã.

Para entender que STF e STJ eram códigos utilizados para designar os planos de fuga, os investigadores analisaram conversas gravadas no parlatório dos presídios federais desde 2020.

Nessas conversas, eles afirmavam que iriam "trocar o advogado" em caso de não realização do plano de fuga. A polícia suspeita que esse era uma ameaça aos próprios defensores, também em forma de código.

Além das conversas gravadas, um documento apreendido numa quebra de sigilo telemática mostrou aos policiais que "STF" era o plano para invadir o presídio federal de Brasília e resgatar Marcola.

Após a descoberta, Marcola foi transferido de Brasília, em março de 2022, para a penitenciária federal de Porto Velho (RO). Embora preso, ele foi alvo de outro mandado de prisão na operação desta quarta (10).