Brasil busca vaga extra nas Olimpíadas sem 'tropa de choque' do surfe

Por GUSTAVO SETTI

SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - O Brasil chega desfalcado para a disputa do ISA Games, que começa nesta sexta-feira (16), em Huntington Beach, nos Estados Unidos, campeonato de surfe que dará vagas extras nas Olimpíadas de Paris-2024. A equipe brasileira está sem seus maiores nomes, tanto no masculino quanto no feminino.

Em 2024, o surfe será realizado em Teahupo'o, na Polinésia Francesa, a milhares de quilômetros de Paris. Serão 48 surfistas no total (24 no masculino e 24 no feminino), oito a mais que nos Jogos de Tóquio-2020.

Cada país pode classificar até dois surfistas por gênero, mas este número pode aumentar para três por gênero com as vagas extras distribuídas exclusivamente no ISA Games de 2022 e 2024, organizado pela ISA (Associação Internacional de Surf).

O ISA Games é disputado por países, com três atletas de cada nação na chave masculina e outras três na feminina. Os surfistas competem individualmente em cada chave. O país campeão será o que tiver os atletas com os melhores desempenhos nas duas chaves e terá direito a uma vaga no masculino e uma no feminino para os Jogos de Paris.

Esta vaga pertencerá ao país, e não ao atleta. No caso do Brasil, caso a equipe brasileira seja campeã do ISA Games, a CBSurf (Confederação Brasileira de Surfe) decidirá quem irá para as Olimpíadas. A entidade ainda não estabeleceu um critério.

"Ainda não temos nenhum critério de classificação para essa terceira vaga tendo em vista que ela ainda não foi conquistada. Vamos com muita fé com o time que aceitou representar o Brasil. Vamos primeiro tentar conquistar essa terceira vaga olímpica para aí sim pensarmos as regras para quem vai ser beneficiado com essa vaga caso o Brasil consiga", disse Paulo Moura, vice-presidente e diretor de esportes da CBSurf, à reportagem.

BRASIL NÃO TERÁ 'TROPA DE CHOQUE' COM MEDINA, ITALO E FILIPINHO

A CBSurf definiu um critério para convidar os atletas brasileiros para o ISA Games: o primeiro é o ranking do Circuito Mundial, organizado pela WSL (Liga Mundial de Surfe). Depois, vem o ranking da própria CBSurf. Os convites foram feitos em 22 de julho, e os surfistas tiveram até dia 25 do mesmo mês para responder.

No masculino, os três melhores do ranking do Circuito Mundial eram Filipe Toledo, Italo Ferreira e Miguel Pupo. Filipinho recusou alegando que estava focado no WSL Finals, que ele venceu na semana passada e se sagrou campeão mundial. Italo e Miguel aceitaram, enquanto Samuel Pupo, irmão de Miguel e quarto melhor brasileiro na WSL, topou ser o substituto de Toledo.

Porém, Italo revelou nesta semana uma lesão no pé e abriu mão do ISA Games. A CBSurf, então, foi às pressas atrás dos demais brasileiros do Circuito Mundial, seguindo a ordem de melhor ranking. Segundo a entidade, Caio Ibelli disse que está de férias, e Yago Dora alegou que está finalizando seu retorno após lesão.

Desta forma, a CBSurf chamou Jadson André, que topou e fez as malas correndo para embarcar para os Estados Unidos. Gabriel Medina encerrou a temporada atrás de Jadson após abrir mão da primeira metade do ano para cuidar da saúde física e mental. Ele seria o próximo da fila caso Jadson tivesse declinado o convite.

No feminino, a entidade amargou mais negativas. A única brasileira no Circuito Mundial em 2022, Tatiana Weston-Webb, também não aceitou devido ao WSL Finals. As demais convidadas são do ranking da CBSurf.

As primeiras colocadas do ranking em julho, Tainá Hinckel e Silvana Lima, recusaram alegando que disputariam o QS de Saquarema (etapa da segunda divisão do Circuito Mundial) na mesma época do ISA Games - mais tarde, o evento em Saquarema acabou transferido de setembro para outubro. A terceira do ranking na época, Mariana Areno, topou o convite.

Segundo a CBSurf, as duas surfistas na sequência do ranking não tinham visto de entrada nos Estados Unidos. Como não havia tempo hábil para tirar o documento, a entidade convidou Karol Ribeiro e Yanca Costa.

O time brasileiro, no final, ficou com Miguel Pupo, Samuel Pupo e Jadson André (masculino), além de Mariana Areno, Karol Ribeiro e Yanca Costa (feminino).

São mais de 50 países no ISA Games. O Brasil tem chances de título, mas Estados Unidos e Austrália aparecem como principais favoritos.

"É bem legal esse lance de time. A gente está acostumado com tudo tão individual, esse lance de time, ainda individual, o time inteiro tem que ir bem. Curto muito isso de ir na areia, balançar a bandeira, grito de guerra. Dá um a mais na competição. Assim que recebi o convite, eu aceitei na hora porque sei quão legal é a atmosfera desse evento", disse Miguel.

Sexto colocado no ranking do Circuito Mundial em 2022, o surfista acha justo que a vaga olímpica fique com o possível vencedor do ISA Games, mas com uma ressalva.

"É difícil dizer. Se um brasileiro vencer esse ISA Games, ele deveria ficar com a vaga, se a vitória dele ajudar o time a ser campeão, a conquistar essa vaga. Mas também se for pelo ranking do Circuito Mundial, também acho válido para o terceiro melhor brasileiro do ranking, que no caso pode ser qualquer um de nós. Se essa pessoa estiver no top 10, também acho bem válido receber essa vaga."

DEMAIS VAGAS NAS OLIMPÍADAS

Se o ISA Games de 2022 dá duas vagas nas Olimpíadas (uma por gênero) para o país campeão, os surfistas brasileiros, principalmente no masculino, têm a maior chance de se garantirem em Paris-2024 através do Circuito Mundial de 2023.

No masculino, os 10 primeiros do ranking (com limite de dois atletas por país) ao término da temporada de 2023 do Circuito se classificam para as Olimpíadas. No feminino, as oito primeiras do ranking carimbam a vaga nos Jogos de Paris, também respeitando o limite de duas por país. Diferentemente do ISA Games de 2022, essas vagas via Circuito Mundial pertencem aos surfistas, e não ao país.

As demais vagas olímpicas serão distribuídas de diferentes formas, como no ISA Games de 2023 e 2024 e no Pan de 2023.