'Não vou parar de bailar', diz Vini Jr após ser vítima de fala racista
SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - 'Enquanto a cor da pele for mais importante do que o brilho nos olhos, haverá guerra'. Foi citando essa frase que Vinicius Junior quebrou o silêncio e se pronunciou após ter sido vítima de um comentário racista e xenofóbico em um programa de televisão espanhol por comemorar seus gols dançando.
Em um vídeo publicado nas redes sociais, o atacante do Real Madrid e da seleção enfatizou que não vai parar de "bailar". Seja no sambódromo, no Santiago Bernabéu ou onde ele quiser. Vini Jr também destacou que sua felicidade, de um brasileiro preto e vitorioso na Europa, incomoda e que o preconceito não é novidade em sua vida.
A manifestação do jogador de 22 anos acontece um dia depois que Pedro Bravo, presidente da Associação Espanhola de Empresários de Jogadores da Espanha, ter utilizado termos racistas e xenofóbicos para criticar o brasileiro durante o programa 'El Chiringuito'. O agente disse que Vini deveria "parar de fazer macaquice" e ir ao "sambódromo do Brasil" caso quisesse dançar.
'Enquanto a cor da pele for mais importante do que o brilho nos olhos, haverá guerra'. Tenho essa frase tatuada no corpo, e tenho atitude na minha vida que transforma essa filosofia em prática. Dizem que felicidade incomoda. A felicidade de um preto, brasileiro, vitorioso na Europa, incomoda muito mais", introduziu, no depoimento.
"Mas a minha vontade de vencer, o meu sorrido e o meu brilho nos olhos são muito maiores do que isso. Fui vítima de xenofobia e racismo em uma só declaração, mas nada disso começou ontem. Há semanas, começaram a criminalizar as minhas danças", continuou. Vini destaca que as danças não são dele, mas também de Ronaldinho, Neymar, Pogba, Griezmann e outros jogadores que costumam comemorar de tal maneira.
"São danças para celebrar a diversidade cultural do mundo. Aceitem, respeitem ou surtem, eu não vou parar. Não costumo vir publicamente rebater críticas. Sou atacado e não falo. Sou elogiado, e também não falo. Eu trabalho, e muito, dentro e fora de campo", enfatizou.
O brasileiro ainda afirmou que sempre tenta ser um exemplo de profissional e de cidadão. "Mas isso não dá clique, não engaja em rede social. Então os covardes inventam algum problema para me atacar. E o roteiro sempre termina com um pedido de desculpa, ou um 'fui mal interpretado'. Mas repito para você, racista: eu não vou parar de bailar. Seja no sambódromo, no Bernabéu, ou onde eu quiser", finalizou.
POLÊMICA E PEDIDO DE DESCULPA
A discussão no programa espanhol foi iniciada tendo como tema as comemorações de Vinicius Junior. Os passos do brasileiro, inclusive, fizeram com que o capitão do Atlético de Madri, Koke, falasse ontem que "haveria" confusão se o brasileiro dançasse após marcar no clássico deste domingo (18), pelo Campeonato Espanhol.
Foi então que Pedro Bravo, ao comentar o assunto, fez a declaração racista e xenofóbica. Após a repercussão de sua fala, o agente foi ao Twitter pedir desculpas e tentar se justificar.
"Quero esclarecer que a expressão 'fazer macaquice' que utilizei mal ao qualificar a dança do Vinicius na comemoração dos gols foi de maneira metafórica ('fazer idiotices'). Como minha intenção não foi de ofender ninguém, peço sinceramente desculpas. Sinto muito!", alegou.
Por conta do episódio, a hashtag 'BailaViniJr' foi lançada e viralizou. Vinicius Junior recebeu apoio público de personalidades do futebol, como Neymar, Raphinha, Thiago Silva e Pelé. Além disso, a CBF se solidarizou com o jogador e o Real Madrid disse que vai tomar medidas legais contra "qualquer pessoa que use expressões racistas" contra seus atletas.