Palco da final não tem clima de Copa a cinco dias do início do torneio

Por LUCIANO TRINDADE E ALEX SABINO

DOHA, QATAR (FOLHAPRESS) - Não é preciso sair da estação Lusail para começar a se impressionar com a arquitetura do Lusail Iconic Stadium, construído para receber dez jogos da Copa do Mundo no Qatar, incluindo dois da seleção brasileira e a final.

Se de longe a arena chama a atenção por seu formato que remete a tigelas de tâmaras da época de ouro do artesanato islâmico, de perto, no entanto, causa estranheza não ter turistas por ali, tirando fotos do local, a menos de uma semana para a abertura do Mundial, marcada para o próximo domingo (20).

Trabalhadores locais e profissionais da imprensa eram os únicos que apareciam com os celulares empunhados para uma selfie diante da arena na manhã desta terça-feira (15). O local tem capacidade para receber 86.250 pessoas.

Lusail também é uma cidade que carece de vida. Construída a partir do zero pelo governo do Qatar a partir de 2005, quando ser sede do Mundial ainda era apenas um sonho, a região pretende usar o torneio justamente para atrair mais moradores.

Idealizada pelo antigo emir xeque Hamad bin Khalifa al Thani, foi projetada para receber uma população de 200 mil habitantes, ao custo de US$ 45 bilhões (R$ 240 bilhões na cotação atual) para a Qatari Diar, uma construtora estatal.

"Seguindo aqui há uma grande avenida onde os torcedores vão se concentrar", diz o filipino Jejomar Rizalino, um funcionário encarregado de orientar quem sai do metrô. Mas o local indicado por ele, construído a poucos metros do estádio, também não tem aquele clima de Copa.

Não fosse pelas bandeiras dos países estendidas ao longo de um boulevard, são poucas as referências de que ali é um local prestes a abrigar torcedores do mundo todo.

Em vez do barulho de instrumentos musicais e cantorias, o som ao redor era de caminhões, tratores e maquinários. O estádio está pronto, mas seu entorno ainda tem obras de aprimoramento de calçadas, paisagismos, pavimentação de ruas e até algumas lojas estão em reforma.

"Tudo isso deve acabar até quinta-feira", diz um funcionário indiano, de 35 anos, que preferiu não dizer nem seu primeiro nome.

Nos últimos anos, o Qatar passou a ser alvo de intensas críticas de grupos de direitos humanos por causa das denúncias de situações de trabalhos análogas à escravidão, sobretudo com funcionários estrangeiros, que compõe a maior parte da população de cerca de 2,7 milhões de habitante.

Muitos têm medo de dar entrevistas por receio de serem deportados.

Esse não é o caso, no entanto, do inglês Blake Wilson, 29. Ele mora com a mulher e dois filhos perto da marina ao lado do golfo West Bay, trabalha na indústria de gás e passeava na manhã de terça (15) próximo ao boulevard recém-construído.

Fã do futebol brasileiro, "que vai ganhar o título", segundo ele, o inglês também acha que falta um clima de festa na cidade. "Talvez quando os jogos começarem a gente comece a ver mais turistas na rua."

Na quinta-feira (24), o local vai receber a estreia do Brasil, contra a Sérvia. O time de Tite também atuará no palco na última rodada da fase de grupos, contra Camarões, no dia 2 de dezembro.

"O movimento de turistas começou a melhorar só faz uma semana", diz Jojo Albert, que trabalha em uma loja de artigos esportivos. "Durante a noite, vem mais gente para cá, o clima fica mais agradável".

Próximo do meio-dia, os termômetros marcavam 33ºC na região. Foi justamente por causa das altas temperaturas do Qatar que a Fifa decidiu marcar a Copa do Mundo para novembro e dezembro, pois no meio do ano as médias ficam acima dos 40º C.

Durante o verão, as temperaturas podem ultrapassar os 50ºC. Por isso o projeto de Lusail também previu a construção de 175 km de tubos que vão formar um sistema de refrigeração em toda a região.

Também é recém-construído o sistema ferroviário que conecta a cidade à Doha, com 15 km de linhas de metrô e trem.

A conexão fácil com a capital do país, além do luxo que se vê nas construções locais, tem sobretudo dois objetivos: atrair moradores das classes mais altas depois que Doha viu sua população, principalmente de imigrantes, crescer 150% nos últimos nove anos.

Mais do que um refúgio para a elite do Qatar, Lusail também foi concebida para mudar a imagem do país no exterior.

A nação do Oriente Médio vive disputa diplomática e sofre embargo político e econômico de Arábia Saudita, Emirados Árabes, Egito e Bahrein.

Nas próximas semanas, o governo local quer mostrar que isso, no entanto, não os impede de fazer uma Copa do Mundo de sucesso. Só falta o público chegar para conferir.