'Graças a Deus, Messi está bem': o alívio dos argentinos em Doha ao ver o camisa 10 em campo
DOHA, QATAR (FOLHAPRESS) - "Então é isso. Lionel Messi está fora da Copa do Mundo."
A frase de um repórter alemão fez outros presentes olharem para ele. Alguns riram da ironia. Outros, nem tanto. Era o segundo treino consecutivo em que o craque, camisa 10, capitão e dono da seleção argentina não aparecia no campo da Universidade do Qatar.
Na sexta-feira (19), foi dada explicação de que ele havia permanecido na academia. Fez apenas exercícios físicos. Um dia pode até ser normal. Mas neste sábado (20), a ausência voltava a se repetir.
"Naaaaaaaaaa. Não é nada. Tranquilo", dispensou o chefe de imprensa da AFA (Associação de Futebol Argentino), Nicolás Novello, quando questionado por um jornalista do país se havia algum problema com Messi.
Mas não havia outro assunto na imprensa que acompanhava o treinamento. Onde estava Lionel? A atividade, fechada depois de 15 minutos, era banal. O técnico Lionel Scaloni distribuiu os coletes de forma que parecia aleatória e formou-se uma roda de bobinho. Ao fundo, os goleiros, liderados por Dibu Martínez, defendiam chutes de integrantes da comissão técnica.
Uma das soluções para quem acompanhava, mas não tinha nenhuma informação, era tentar ler a linguagem corporal dos outros atletas. Se havia algo de errado, eles estariam com expressões sérias, preocupadas.
"Estão todos sorrindo. O clima está leve", observou um repórter de rádio ao gravar seu boletim.
A preocupação é porque Messi é o Rei Sol do futebol argentino. O site da AFA disponibilizou nos últimos dias os vídeos de todos os seus gols pela seleção. Jornais o colocam como manchete todos os dias. Tudo o que ele ou sua mulher, Antonella Roccuzzo, fazem rende dias de discussões. O Clarín, principal diário do país, mantém um minuto a minuto apenas sobre o atacante.
Se a Argentina vai enfim voltar a ser campeã mundial, tudo terá de passar pelos pés de Lionel Messi. Por isso que a sua ausência pelo segundo treino consecutivo, por mais rotineira que pudesse parecer, incomodou alguns presentes à beira do campo em Doha.
A seleção já perdeu dois jogadores nas primeiras horas no Qatar. Por lesão, os atacantes Nicolás González e Joaquín Correa foram cortados. Uma das principais dúvidas de Scaloni é o que fazer com a vaga de Lo Celson, que nem foi chamado, também por contusão. O principal candidato é Alexis MacAllister.
Papu Gómez, com dores no joelho, poderá estar à disposição apenas contra o México, na segunda rodada. A equipe estreia na próxima terça-feira (21), diante da Arábia Saudita. Dybala se recuperou recentemente de lesão. Também há preocupação com a condição física de Marcos Acuña.
Por causa de inflamação no tendão de Aquiles, o próprio Messi fez soar o alarme na seleção antes da lista de convocados ser divulgada. Ele foi poupado de partida do Paris Saint-Germain contra o Lorient, pelo Campeonato Francês.
Também o PSG tem interesse de ver o craque argentino em ação no Mundial. O clube pertence a empresa subsidiária do fundo soberano qatariano, controlado pela monarquia. O torneio também quer ter um Messi no auge. Sua imagem é a mais popular nas pinturas e cartazes em Doha. A camisa argentina com o 10 às costas, versão pirata, é a mais usada por imigrantes nas ruas da capital.
Se qualquer contratempo físico com ele causaria consternação na Argentina, no Qatar não seria muito diferente.
Afinal, por que Messi não aparecia no campo pelo segundo dia consecutivo?
O alívio veio pouco antes de os jornalistas serem retirados da beira do campo e obrigados a ir para a sala de mídia, sem visão do gramado. O barulho de espocar das máquinas fotográficas, todas viradas para a porta de acesso ao campo, flagrava a chegada do principal ídolo do futebol do país.
De tênis, chutando uma bola de maneira preguiçosa ("está, como sempre, com sua melhor amiga nos pés", disse um radialista) e acompanhado de um preparador físico, Messi caminhou até o segundo campo. Começou a fazer alguns exercícios e dar toques para o lado.
"Os 15 minutos acabaram. Vocês precisam sair", veio a ordem da assessoria de imprensa.
Foi obedecida.
"Graças a Deus, Messi está bem", comentou jornalista argentino, antes de dar as costas para o campo.