Cristiano Ronaldo chega à sua última Copa em momento de baixa e menos goleador
AL SHAHANIYA, QATAR (FOLHAPRESS) - Ainda eram 17h30 (horário local), mas já havia escurecido em Al Shahaniya, a cerca de 40 km de Doha, quando Cristiano Ronaldo pisou no gramado do clube em que a seleção portuguesa vai treinar durante a Copa do Mundo no Qatar.
A maioria das seleções optou por realizar as atividades no fim das tardes, com o sol se pondo, para amenizar o desgaste dos atletas devido às altas temperaturas no país.
A brisa na região também ajudou a deixar o clima mais agradável, mesmo com o termômetro marcando 31º C no começo da atividade.
Aos 37 anos, cuidar de sua condição física nunca foi tão importante para Cristiano Ronaldo, no momento em que ele está prestes a disputar o seu quinto e último Mundial, ainda com o sonho de conquistar o inédito título.
O astro vive uma situação inédita em sua carreira, sem saber onde jogará após participar da maior competição do futebol.
Às vésperas do torneio, entrou em litígio com sua atual equipe, o Manchester United, pelo qual disputou apenas 16 dos 21 jogos na temporada, sendo que em seis partidas nem entrou como titular. Até agora, foram apenas três gols marcados.
Em entrevista ao programa de TV britânico Piers Morgan Uncensored, ele fez duras críticas ao clube e ao técnico Erik ten Hag.
Na conversa, o atacante português acusou "algumas pessoas" de tentarem forçar sua saída do United e disse se sentir traído. Com o treinador holandês, ele foi ainda mais duro, ao afirmar que não o respeita, pois o técnico "não mostrou respeito" por ele.
A relação estremecida entre eles também ficou evidente em alguns jogos da temporada.
Primeiro, contra o Rayo Vallecano, em julho, pela Liga Europa, o atacante foi substituído no intervalo e foi visto deixando o estádio Old Trafford antes do apito final.
Mais recentemente, no último mês, Cristiano Ronaldo se recusou a entrar em campo nos minutos finais do jogo diante do Tottenham. Ten Hag se aproximou do português, que fez o sinal de negativo com o dedo indicador.
De acordo com o jornal inglês Daily Mail, o camisa 7 queimou suas ligações com o elenco com a atitude e, sobretudo, com as declarações. Ainda segundo a publicação, ele não teria mais condições de regressar ao clube após a Copa -ele tem contrato até o fim da temporada, em julho.
Ainda que esteja no Qatar com uma de suas melhores gerações, a seleção de Portugal não conseguiu se esquivar da polêmica envolvendo sua maior estrela. O assunto Cristiano Ronaldo tem dominado a mídia portuguesa e a de outros países e ofuscado a preparação dos lusos.
"Essa é uma questão do Cristiano. Não sou jogador do Manchester United e, mesmo que fosse, não responderia. Portanto, vou responder apenas questões relacionadas ao Mundial", disse neste sábado (19) o meia Bernardo Silva.
O atleta do Manchester City foi o primeiro português a conversar com a imprensa após a chegada da delegação ao Qatar e se mostrou incomodado com o assunto.
Como faz no meio de campo da equipe dirigida por Pep Guardiola, ele até tentou driblar o tema, mas não conseguiu. Mais da metade das perguntas foram sobre o companheiro de seleção.
Ele franzia a testa e dava, praticamente, a mesma resposta para todos os questionamentos. "As notícias que vêm da Inglaterra não têm nada a ver com a seleção."
A mais recente foi justamente a intenção do United de rescindir o contrato do camisa 7, inclusive sem ter que pagar nenhuma quantia relacionada aos salários que ele ainda teria de receber. São cerca de 16 milhões de libras (R$ 102 milhões).
Advogados ingleses que analisam o caso de forma independente afirmam que o clube poderia buscar uma rescisão unilateral porque o atleta teria violado o código de conduta da agremiação com suas palavras contra o time e o treinador.
"A maioria dos comentaristas jurídicos concorda que o United teria o direito de rescindir o contrato de Ronaldo após seus comportamentos recentes, incluindo sua entrevista provocativa com Piers Morgan", afirma Mike Tremeer, sócio do escritório de advocacia Fladgate.
De acordo com o jornalista Piers Morgan, apresentador do programa que leva seu nome, o craque havia sido avisado por seu estafe sobre as consequências de suas declarações. Ciente do que poderia acontecer, Cristiano Ronaldo decidiu ir em frente mesmo assim.
Em nota, o United afirmou que deu início aos "passos apropriados sobre a recente entrevista de Cristiano Ronaldo" e que não faria "outros comentários até que o processo chegue ao fim."
Jornais ingleses especulam que a intenção do luso era justamente provocar sua saída da equipe. Desde o fim da temporada passada ele já estava insatisfeito, sobretudo porque o United ficou fora da Champions League.
O atacante, no entanto, não conseguiu encontrar uma equipe de ponta que disputasse o torneio europeu e quisesse fazer um esforço para tirá-lo da Inglaterra.
Em sua polêmica entrevista, ele contou que sua filha mais nova, Bella Esmeralda, teve um problema de saúde e que foi preciso ficar perto da família. No entanto, o United teria duvidado do atleta.
"As pessoas esquecem-se de que sou um ser humano. Quando contei, parece que não acreditaram em mim, o presidente [do Manchester United] não acreditou que a minha filha estava doente, duvidaram da minha palavra", disse.