Amarelo da seleção é raro em torcida pelo Brasil na ocupação 9 de Julho

Por BRUNO LUCCA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um telão, 80 cadeiras de plástico e incontáveis copos de cerveja compunham o cenário montado em uma sala da ocupação 9 de Julho, na região central de São Paulo, para acompanhar a estreia da seleção brasileira na Copa do Mundo de Futebol, no Qatar, nesta quinta-feira (24).

Cerca de 60 torcedores, muitos visitantes, se aglomeravam no espaço, onde foi servido arroz, feijão e carne seca com abóbora. Com lotação acima do esperado, uma segunda sala foi aberta durante o intervalo de jogo para a transmissão e logo lotada.

Apesar de ser um jogo do time brasileiro, o verde e amarelo era minoria e competia, principalmente, com o branco e o vermelho, cores, coincidentemente, utilizadas pelo time sérvio.

"Dá uma vontade danada de torcer para o vermelho, nossa", dizia a publicitária Fernanda Ferreira, 24, antes do início da partida.

O adversário do jogo, iniciado às 16h (horário de Brasília), era pouco conhecido para muitos ali. "Tem que respeitar o grandão", repetia um torcedor, em referência ao atacante Mitrovic. Ataques do Brasil levantavam a torcida.

Mesmo com a empolgação e o clima de união da partida, os torcedores aproveitavam todas as oportunidades para falar de Neymar, em alguns momentos com direito a ofensas.

"A gente tá torcendo para bolsominion. É uma contradição, é complexo", disse o artista plástico André Ribeiro, 33. Ele se referia ao fato de Neymar ter declarado voto em Jair Bolsonaro (PL), candidato a presidência derrotado, no segundo turno das últimas eleições.

Por outro lado, Vinicius Junior era, de início, o mais celebrado, posto herdado por Richarlison após abrir o placar do jogo aos 22 minutos do segundo tempo. Onze minutos depois, o jogador do Tottenham, da Inglaterra, aumentou o placar para o time brasileiro.

A ocupação 9 de Julho, hoje lar de mais de 500 pessoas, fica em um edifício que abrigou o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e permaneceu vazio por mais de 20 anos até ser ocupado em 1997.

Desalojado por várias vezes nos anos seguintes, foi recuperada pela última vez em 2016 pelo Movimento Sem Teto do Centro e se tornou um dos símbolos da luta pela moradia na capital paulista.

O local, coordenado por Carmen Silva, que também é líder do movimento que fundou a ocupação, conta com brechó, marcenaria, cozinha coletiva --que costuma receber chefes famosos--, refeitório, sala de convivência, biblioteca com brinquedoteca, galeria de arte, quadra, horta comunitária e estacionamento.

Nesta quinta-feira, a programação da ocupação incluía, além da transmissão da partida, um almoço comunitário e apresentações de membros do Teatro Oficina.