Tite se esquiva de comentar violações de direitos humanos no Qatar

Por VICTORIA DAMASCENO

DOHA, QATAR (FOLHAPRESS) - O técnico Tite evitou comentar as violações de direitos humanos que ocorrem no Qatar e foram alvo de constante discussão desde que o país foi anunciado como sede da Copa do Mundo.

Em entrevista após a vitória por 2 a 0 contra a Sérvia, nesta quinta-feira (24), o comandante da seleção brasileira disse que luta para que "não haja discriminação" mas que sua área é o esporte. Ele afirmou ainda que seu desejo é ser um exemplo de inspiração para os mais jovens.

"Sem alienação, são escolhas", disse.

Futebol e política dividiram os holofotes nos primeiros dias do Mundial, com protestos de algumas seleções.

Entre elas está a Alemanha. Em foto oficial antes da derrota para o Japão, os jogadores cobriram as própria bocas, em reação à proibição pela Fifa do uso da braçadeira com a expressão "One love", em apoio à comunidade LGBTQIA+.

Jogadores da Inglaterra e do Irã também fizeram gestos antes de suas partidas de estreia. Já os atletas brasileiros mantiveram distância do tema nesta quinta.

Organizações internacionais denunciaram a morte de milhares de trabalhadores migrantes que se dedicavam à construção da infraestrutura do evento. Eles também não tinham acesso a alimentação, assistência médica, Justiça trabalhista, sindicatos e moradia paga.

O regime chegou a iniciar reformas trabalhistas em 2017 que garantiriam melhores condições para os trabalhadores, mas organizações internacionais seguem cobrando que o governo reafirme o compromisso e siga com as mudanças após o torneio.

O país também é questionado por conta das suas leis contra a comunidade LGBT+. No país, ser homossexual é crime passível de morte. Dois meses antes do início do mundial, o emir Tamim bin Hamad Al Thani disse que torcedores homossexuais de todo o mundo eram bem-vindos "sem discriminação" ao país, em uma tentativa de apaziguar temores de ativistas.

Um mês depois, a Human Rights Watch emitiu nota afirmando que forças de segurança qatarianas arbitrariamente prenderam gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros no mesmo período em que o emir garantiu ao mundo a segurança da comunidade.

Pouco antes do início da Copa, o ex-jogador da seleção do Qatar e embaixador do evento, Khalid Salman, chamou a homossexualidade de "dano mental".

O direito das mulheres foi outro ponto de tensão para o regime qatariano. No país, elas devem usar roupas que estejam acima do joelho e não devem deixar os ombros à mostra.

Também são submetidas à tutela de homens -normalmente pai, irmãos, tios e avôs- e precisam de sua autorização para estudar fora com bolsas governamentais, casar e receber alguns tratamentos reprodutivos, segundo a Anistia Internacional.