Com 'caminho mais importante que resultado', Messi leva Argentina à batalha final

Por ALEX SABINO

DOHA, QATAR (FOLHAPRESS) - No túnel de acesso ao gramado do Maracanã, em 11 de julho de 2021, Lionel Messi reuniu os demais jogadores para fazer o discurso antes da decisão da Copa América. Anos antes, aquilo lhe seria difícil e ele tropeçaria nas palavras. Daquela vez, não.

"O caminho é mais importante do que o resultado", disse.

Talvez por não focar mais apenas no placar final, naquela tarde ele conquistou seu primeiro título importante com a seleção.

O objetivo seguinte seria o mais importante. Segundo o goleiro Emiliano Martínez, antes de iniciar a competição continental, Messi havia avisado a todo o elenco que o Mundial de 2022, no Qatar, seria seu último.

"Por causa disso, ele nos disse que daria tudo", explicou Martínez.

A Argentina está na final da Copa do Mundo em grande parte por causa do futebol de seu capitão e camisa 10. Neste domingo (18), a equipe decide o título contra a França, no estádio de Lusail, às 12h (de Brasília).

A mensagem de Messi ficou tão marcada para jogadores e comissão técnica que continuou a ser repetida. Antes da viagem ao Oriente Médio e após a surpreendente derrota na estreia para a Arábia Saudita, nas fases eliminatórias.

"O importante é o caminho, o objetivo que traçamos até agora. Estou convencido de que quando se desfruta, as coisas saem diferentes", opinou o técnico Lionel Scaloni.

A estrada de Messi até chegar perto do título em 2022 é diferente de todos os que teve no passado da Copa do Mundo. Mesmo em 2014, quando foi vice e eleito o melhor da competição, não fez nenhum gol a partir das oitavas de final. O atacante jamais havia anotado em partidas eliminatórias.

No Qatar, marcou nas oitavas (Austrália), quartas (Holanda) e semifinal (Croácia). Fez jogadas e deu assistências que já estão na história das Copas, como diante de holandeses e croatas.

"Vejo Leo feliz. Vi um grande Leo na Copa América [de 2021], um dos melhores que vi na vida. Mas, neste Mundial, ele deu um passo mais adiante. É difícil superar o Messi da Copa América. Isso gera muita energia à equipe", completou Martínez.

É trajetória que transformou o craque que é a referência de futebol argentino. Sua Copa até agora é maradoniana dentro e fora de campo. Só não é igual porque não houve jogo contra a Inglaterra e até agora não houve título, como aconteceu com Maradona em 1986.

Messi nunca havia tomado tantas atitudes capazes de unir o elenco. Desde escolher a música que seria trilha sonora da seleção (o "Muchachos" da banda La Mosca de Tsé-Tsé) até tirar satisfações com técnicos e jogadores adversários (Louis van Gaal e Wout Weghorst).

Com cinco gols (ao lado de Mbappé), ele chega à final como artilheiro do Mundial. Em 2018, na Rússia, ele anotou apenas uma vez. Na África do Sul, em 2010, nem isso. Passou em branco. Ele chegou aos 11 marcados, o que o tornaram o maior goleador argentino na história da competição.

O caminho emocionou até Scaloni, que chegou à beira das lágrimas em sua entrevista deste sábado (17), ao falar do grupo que formou desde que assumiu o cargo, em 2018, e dos atletas que receberam oportunidades, mas não estão no Qatar.

Uma emoção que contraria o que ele mesmo disse após a vitória na fase de grupos contra o México. Ao ser questionado sobre o choro de seu auxiliar Pablo Aimar após o gol de Messi, falou que o futebol não poderia ser vivido daquela maneira, com tanta paixão. Era apenas um jogo.

A invasão argentina a Doha, com cerca de 40 mil pessoas e estádios lotados, o fez conceder que sim, há uma emoção envolvida que torna esta jornada ainda melhor.

"Estar emocionado é parte da cultura argentina, de como se vive o jogo. Temos a melhor torcida do mundo e que estava necessitada desta alegria. As imagens [de Buenos Aires] chegam e como não te vão emocionar? Na Argentina, mesmo que você não vá entender, é mais do que o futebol, é algo que faz as pessoas felizes. E que esta campanha tenha feito as pessoas felizes nos deixa emocionados. São coisas que emocionam e somos seres humanos", analisou.

É mais um discurso roubado de Lionel Messi, o líder inquestionável da seleção e do futebol do país finalista da Copa do Mundo. A cada contato com a imprensa, ele escuta sempre o pedido para "mandar uma mensagem" às pessoas que estão no seu país natal, como se fosse necessário dar uma palavra de esperança.

"Com o seu futebol, ele mostra onde podemos chegar. Leo é um fenômeno", concedeu Alexis MacAllister. Uma declaração discreta perto da que deu Martínez após o título da Copa América do ano passado, quando disse que "morreria por Messi."

Foi quando Messi disse que a jornada é o mais importante. Mas se esta terminar com o título neste domingo, para ele e para os companheiros que o idolatram, vai coroar o caminho mais bonito de todos.