O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) anunciou que o Futsal não fará parte dos Jogos da Juventude de 2023 por não ser uma modalidade olímpica. A decisão de tirar o futsal da competição causou indignação nos atletas e ex-atletas do esporte. O ex-jogador e um dos melhores jogadores do mundo de todos tempos, Falcão, postou em seu stories no Instagram seu descontentamento com a decisão do COB. Falcão também é presidente do Magnus Futsal. Fundado em 2014 a equipe já conquistou a Copa Libertadores, Copa Intercontinental, Taça Brasil e Super Copa do Brasil. Em seu perfil oficial nas redes sociais o time do ex-jogador emitiu uma nota contra o posicionamento do Comitê.
Por conta dos diversos posicionamentos contrários à decisão do Comitê, em nota o COB informou.
"O Comitê Olímpico do Brasil (COB) reconhece a importância do futsal para o esporte brasileiro. Contudo, os recursos e as estruturas das cidade-sede para a realização dos Jogos da Juventude são limitados. Para a inclusão de novas modalidades, é preciso que outras saiam para equilibrar o número de participantes. O COB entende que a inclusão das modalidades águas abertas, esgrima, tiro com arco e triatlo servirá para estimular a prática desses esportes. Agora, todas as 19 modalidades dos Jogos da Juventude também fazem parte dos Jogos Olímpicos.
Incentivamos que os Governos Estaduais continuem realizando suas etapas estaduais, em parceria com as Federações, para fortalecer o futsal regional, selecionando suas melhores equipes para as etapas nacionais, que seguem sendo realizadas por outras entidades que fazem parte do sistema esportivo nacional.
O COB segue seu propósito de desenvolver o esporte olímpico e de fortalecer o Movimento Olímpico no país através dos Jogos da Juventude, em parceria com as Confederações Brasileiras e governos estaduais, que são responsáveis pelo processo seletivo e participação dos melhores atletas do Brasil no maior evento multiesportivo organizado pelo Comitê, reconhecidamente a porta de entrada para o caminho olímpico".
De acordo com o COB, desde 2000 os Jogos reúnem anualmente mais de 4.500 atletas com até 17 anos, oriundos de escolas públicas e privadas de todo o país. Mais de 2 milhões de estudantes das 27 unidades federativas (26 estados e o Distrito Federal) participam das etapas classificatórias.
Provando ser uma vitrine de novos talentos, a oito vezes melhor do mundo no Futsal, Amandinha, foi uma dessas atletas descobertas nos Jogos da Juventude.
ATLETAS JUIZ-FORANOS SE MANIFESTAM
Os Jogos da Juventude são uma base para futuros atletas e celeiro de novos talentos. A preocupação com a retirada da modalidade do campeonato é que isso impacte negativamente as futuras gerações, é o que conta Marina Loures, multicampeã de Futsal e atleta do Celemaster Uruguaianense.
"Pra mim é uma decisão de quem desconhece totalmente a importância do futsal na formação de atletas ou de crianças e adolescentes mesmo. Hoje, o futsal é o carro chefe de todas as escolas do Brasil, praticado no mundo inteiro e vem crescendo cada vez mais. Isso também desvaloriza muito a modalidade, pois o Futsal já não é um esporte olímpico e com muito investimento. Precisamos de ter base, precisamos que meninas e meninos cresçam jogando Futsal", inicia Marina.
Marina ressalta a importância de meninas gostarem do esporte e passarem por essa base. Caso isso não ocorra, ela acredita que o nível técnico dessas atletas pode ser comprometido.
"É preciso que as meninas joguem para que elas gostem, que tomem gosto pela competição e quando elas chegarem para disputar alguma coisa em alto nível, estarão preparadas pra isso justamente por terem passado por toda aquela categoria de base. Se tirarmos os jogos escolares as meninas de 13 até 17 vão jogar onde? Onde elas serão vistas? Aí elas terão que chegar com essa idade e enfrentar uma mulher de 20, 25 anos que já joga em alto nível desde os 18? É um desnível técnico muito grande, de força, de maturidade, corporal e tudo. Elas precisam competir na idade delas e os jogos estão aí pra isso", explica.
Caso essa decisão perdure Marina não enxerga o futuro com bons olhos.
"Na minha opinião o que é que vai acontecer. A menina tem 15,16 anos e tem o sonho de jogar futsal, não tem jogos escolares, ela não tem a prática , não tem competição para a idade dela e ela vai tentar um teste na equipe adulta. Vai chegar lá, e se ela não for aquele fenômeno, coisa de 1 em 1milhão que a gente sabe que é difícil, ela praticamente não vai pegar na bola, não vai ser vista, não vai pegar gosto por aquilo e não vai competir. Aí ela não vai seguir esse caminho, vai se dedicar a outras coisas, pois ela não terá esse espaço", conta.
Ela continua.
"E isso impacta diretamente nas novas gerações do futsal, quem vai ser a sucessora da Amandinha? Quem vai ser a sucessora da Marta? Todas essas meninas começam no futsal, então impacta diretamente em nós, que jogamos em alto nível, pois um dia iremos parar e precisamos que as meninas que estão chegando venham preparadas e os jogos escolares estavam aí pra isso, pra preparar essas meninas para jogar em alto nível, ser um atleta de rendimento e jogar em uma liga nacional".
Compartilhando da mesma opinião de Marina, Leo Santana, multicampeão com passagem pela Seleção Brasileira e jogador do time espanhol ElPozo Murcia, também enxerga como um retrocesso a decisão do COB.
"Não vejo com bom olhos essa decisão. O futsal, na minha opinião, precisa de cada vez mais espaço, e tirar competições de expressão não ajuda nesse desenvolvimento"
Leo também acredita que os Jogos da Juventude é uma base e a combinação certa entre esporte e educação. Ele também acredita que a decisão impacta diretamente no futuro.
"Pra mim, a competição, é a combinação perfeita, o esporte e a educação lado a lado, ajudam demais a nossa sociedade e acho que essa decisão diminui ainda mais a oportunidade de grandes talentos aparecerem, muitas vezes por não serem vistos por causa dessa falta de competições. É uma grande perda para o esporte", finaliza.
O ex-atleta Ramon Pavão, com passagem vitoriosa pelo futsal tailandês, também expressou seu sentimento em relação à decisão do COB.
"Nosso esporte, que é um dos mais praticados do país, revela centenas de atletas por ano, mas principalmente forma cidadãos, e a decisão pela sua retirada do maior evento esportivo estudantil, organizado pelo COB, vai contra tudo aquilo que se defende em termos esportivos e sociais, visto a importância do futsal brasileiro em ambos os cenários Espero que essa decisão seja revista pelas entidades competentes, e que a nossa modalidade, tão importante para o Brasil, seja respeitada da forma que merece", diz Ramon.
Em um ponto em comum, Marina e Leo tem dúvidas se o COB volta trás da decisão.
"Não acho que o COB volta atrás, mas a ABAFS (Associação Brasileira dos Atletas de Futsal) já se movimentou com as federações do Brasil para que o ele volte atrás, mas acho bem difícil", finaliza Marina.
"Não posso dizer se irá voltar atrás, vai depender da mobilização de uma grande massa", explica Leo.
INDIGNAÇÃO NAS ENTIDADES
A Confederação Brasileira de Futsal (CBFS) emitiu uma nota dizendo estar decepcionada com a posição do COB. Leia abaixo.
"A CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL DE SALÃO (CBFS) entidade nacional de administração do Futsal bem como as Federações de Futsal do Brasil, foram surpreendidas com a informação de exclusão do Futsal dentre as modalidades desportivas dos Jogos da Juventude.
A decisão do COB, além de unilateral e decepcionante, está em confronto com diversos princípios estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, em especial o dever do Estado de fomentar práticas desportivas formais e não-formais de crianças e adolescentes.
Milhares de jovens foram atingidos com tal atitude repentina. Afinal, os Jogos da Juventude têm como primordial função fomentar o esporte de base, reunindo atletas dos 26 Estados Brasileiros e do Distrito Federal na faixa etária até 17 anos.
O Futsal é uma modalidade consolidada e tradicional, que promove a inclusão e a disseminação de princípios éticos e morais na formação de cidadãos e cidadãs para nossa sociedade. Além disto, através do contato com a bola em um espaço relativamente reduzido, desenvolve a coordenação motora de forma lúdica, além de ser também base formadora do Futebol. Na Copa do Mundo de Futebol 2022, 10 jogadores dos 26 convocados iniciaram no Futsal. Nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2021, a Seleção Brasileira Masculina, bicampeã olímpica, 13 dos 22 jogadores convocados iniciaram no Futsal.
Por essas e diversas outras razões, não entendemos a decisão unilateral do COB em retirar de forma arbitrária o Futsal dos Jogos da Juventude, evento base para os Jogos Olímpicos da Juventude.
Estamos apoiados pelas 27 Federações Estaduais, pela ABAFS - Associação Brasileira dos Atletas de Futsal, pela ABTFS - Associação Brasileira dos Treinadores de Futsal, pela ANAFUTSAL – Associação Nacional dos Árbitros de Futsal, pela coirmã Confederação Brasileira de Futebol, pela Liga Feminina de Futsal, por atletas de renome do Futsal brasileiro e por todos os admiradores da bola pesada, conforme notas publicas das citadas entidades corroborando o pleito que encaminhamos em anexo.
A relação entre a CBFS e o COB sempre foi de respeito e colaboração mútua, razão pela qual buscaremos um ajuste de entendimento entre as entidades, mas não se pode permitir que haja a manutenção de decisão tão deletéria ao Futsal, esporte genuinamente brasileiro.
Informamos que já abrimos conversas com o COB e o Ministério do Esporte para tratar do referido assunto."
A Associação Nacional de Árbitros de Futsal também se manifestou através de suas redes sociais. Veja o texto abaixo.
"CARTÃO VERMELHO AO COB!
A Associação Nacional de Árbitros de Futsal, entidade representativa da arbitragem de futsal do país, vem por meio desta nota lamentar profundamente a notícia de que a nossa modalidade não faz mais parte do programa esportivo dos Jogos da Juventude a partir deste ano.
Um dos esportes mais praticados em todo Brasil, base da formação de jovens cidadãos e atletas, que são referência de alta qualidade e rendimento, estar fora do maior evento esportivo estudantil organizado pelo COB, acende um alerta preocupante em toda a comunidade da bola pesada.
Não iremos deixar de lutar pelo futsal e queremos que esta decisão seja revisada pela entidade com urgência. Nenhuma perda pode ser tolerada em uma modalidade genuinamente brasileira que se tornou a cara do Brasil no exterior".
A reportagem do Portal Acessa.com entrou em contato com a Federação de Esportes Estudantis de Minas Gerais (FEEMG) responsável pelos Jogos Escolares de Minas Gerais (JEMG), que classificam para os Jogos da Juventude, para saber se o Futsal será retirado da competição mineira. Até o fechamento dessa matéria não tivemos retorno, mas uma fonte, que não quis se identificar, garante que a modalidade irá continuar no calendário em 2023.
A Secretaria de Esportes da Prefeitura, também informou que o esporte continua na grade dos Jogos Interescolares da cidade, que classifica para o JEMG.
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