Técnico embalava tênis e foi 'carregado' por LeBron até ganhar moral
SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Erik Spoelstra, técnico do Miami Heat, é altamente respeitado no mundo do basquete por seu trabalho. Porém, o caminho para chegar ao status de um dos melhores treinadores da NBA foi longo.
Spoelstra está em sua sexta final de NBA. Técnico do Heat desde 2008, o comandante conquistou bicampeonato em 2011/12 e 2012/13, ficando com o vice em 2010/11, 2013/14 e 2019/20.
O Heat é o único time de sua carreira na NBA. Spoelstra saiu de baixo para chegar ao topo: foi coordenador de vídeo e assistente técnico antes de enfim chegar ao cargo de treinador principal.
Por muitos anos, seu sucesso foi atribuído a LeBron James. Spoelstra só conseguiu campanhas profundas nos playoffs com o 'King' na equipe durante seus primeiros 12 anos no comando do Heat. O técnico precisou provar que não era capaz de vencer apenas com um 'supertime'.
DESISTIU DE SER JOGADOR, MAS NÃO DEIXOU O BASQUETE
Ele tentou ser jogador de basquete. Aos 18 anos, aceitou bolsa na Universidade de Portland e atuou na liga universitária por quatro anos, enquanto se formou em comunicação.
Spoelstra trabalhou em sua garagem encaixotando pares de tênis da Nike até receber proposta de um time europeu. Ele aceitou ser jogador-treinador do Tus Herten, da segunda divisão alemã, em 1993.
Spoelstra largou a carreira de jogador em 1995. Ele se candidatou à vaga de coordenador de vídeo do Miami Heat, franquia com sete anos de existência na NBA até então.
O funcionário do Heat trabalhou por 13 anos até chegar ao desejado cargo de treinador. Spoelstra virou assistente técnico em 1997, passou para o scouting em 1999 e chegou à diretoria do setor em 2001.
Presidente e então técnico do Miami Heat, Pat Riley confiou em Spoelstra. Quando decidiu se aposentar do cargo de treinador principal em 2008, o 'Poderoso Chefão' promoveu o assistente.
SUCESSO COM OS 'HEATLES'
Spoelstra levou o Miami Heat aos playoffs em suas duas primeiras temporadas, mas não venceu nenhuma série. O time estava em reconstrução após o título de 2006 e tinha como astro solitário, o ala-armador Dwyane Wade.
Mas o mercado de transferências de 2010 mudou para sempre a história da NBA. O então MVP LeBron James e o all-star Chris Bosh decidiram jogar juntos com o amigo Wade, transformando a cobrança sobre Miami: era título ou fracasso.
O começo de trabalho com o Big 3 não foi fácil. Spoelstra foi questionado por exigir demais dos veteranos nos treinos, e a cobrança só aumentou após o vice-campeonato em 2010/11, diante do Dallas Mavericks. O assunto "demissão" chegou a Pat Riley, mas o executivo bancou o técnico.
A glória máxima foi alcançada na sequência. O Heat se sagrou bicampeão nas temporadas 2011/12 e 2012/13, com LeBron James eleito MVP da temporada regular e das finais em ambas as ocasiões. O time voltou à decisão em 2013/14, mas perdeu do San Antonio Spurs.
NÃO CONSEGUE VENCER SEM LEBRON?
Apesar de dois títulos em quatro anos, LeBron decidiu deixar o Heat em 2014. O 'King' retornou ao Cleveland Cavaliers, deixando Spoelstra com elenco enfraquecido.
Wade caiu de rendimento após sofrer com lesões, e Bosh foi forçado a se aposentar por problemas no pulmão. Com suas estrelas em declínio físico, Miami venceu apenas uma série de playoff nos anos pós-LeBron.
Spoelstra manteve Miami com mais vitórias do que derrotas entre 2014/15 e 2018/19, mas longe de brigar por título. Durante os anos de transição, o Heat teve como protagonistas nomes como Goran Dragic, Hassan Whiteside e Josh Richardson.
TRABALHO AUTORAL E CONSAGRAÇÃO
Spoelstra sofria com a narrativa de que precisava de LeBron James para vencer. Os números indicavam a dependência: o técnico venceu apenas uma série de playoffs em sete anos sem o 'King', e 14 séries em quatro temporadas com ele.
O técnico recebeu o reforço de Jimmy Butler em 2019/20, que imediatamente colocou o Heat de volta na decisão -derrota para o Los Angeles Lakers, de LeBron. Spoelstra construiu um time ao redor do astro, dando protagonismo a Bam Adebayo e apostando nos jovens Duncan Robinson e Tyler Herro.
Spoelstra voltou à final nesta temporada, e de maneira ainda mais improvável. A franquia de Miami foi apenas a oitava colocada na Conferência Leste na temporada regular, mas chegou à decisão contra o Denver Nuggets, líder do Oeste.
O elenco do Heat ainda está longe de ser o mais badalado da NBA: sete atletas sequer foram escolhidos em seus respectivos drafts. Vários desses jogadores são protagonistas na campanha, como Gabe Vincent, Max Strus e Caleb Martin.
O atual trabalho de Spoelstra também é marcado pelas inovações táticas. O Heat 2022/23 é o time que mais defendeu por zona na história da NBA. Ofensivamente, a equipe aposta em bloqueios sem a bola para gerar bons arremessos de três pontos - Miami tem o melhor aproveitamento do perímetro nos playoffs.
Spoelstra nunca foi eleito técnico do ano, mas a premiação não faz falta em seu legado. O treinador do Heat ganhou respeito no mundo da NBA e já provou que pode levar seu time a voos altos, com ou sem LeBron James.
A final da NBA está empatada por 1 a 1. O jogo 3 será amanhã, em Miami, às 21h30 (de Brasília).