Depois de 15 anos e 2 bi de euros, Manchester City é, enfim, campeão europeu

Por ALEX SABINO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - As câmeras mostraram a imagem do magnata russo Roman Abramovich no Luzhniki Stadium. No meio da disputa de pênaltis entre Chelsea, clube do qual era dono, e o Manchester United, na final da Champions League de 2008, ele simulou sofrer um infarto por causa da tensão.

"O que você pode comprar para alguém que tem tudo? Isso. Você não pode comprar isso", comentou Clive Tydesley, narrador do canal britânico ITV.

O Manchester City tentou, ano após ano, mostrar que dinheiro pode não comprar, mas ajuda muito. Depois de 15 anos e 2,27 bilhões de euros (R$ 12 bilhões em valores atuais) gastos em contratações, a equipe inglesa, enfim, conquistou o título que seus donos da família real dos Emirados Árabes Unidos mais almejaram.

Com a vitória sobre a Internazionale por 1 a 0, neste sábado (10), em Istambul, o City venceu pela primeira vez o mais cobiçado troféu de clubes do planeta. Rodri, aos 23 minutos do segundo tempo, definiu o placar.

Foi um jogo mais duro do que muitos anteciparam. O esquema defensivo da Inter criou problemas para o time de Manchester, que só teve dois lances de maior perigo no primeiro tempo. Em um deles, Bernardo Silva errou o alvo. No outro, Haaland parou em Onana.

Atrapalhou os planos da formação inglesa a lesão do meia Kevin De Bruyne, substituído aos 35 minutos da etapa inicial. Na final, a Inter se fechava bem até que o zagueiro Akanji avançou. Bernardo Silva recebeu na área e teve o passe desviado. Rodri bateu com precisão da entrada da área.

Houve chances para o clube italiano buscar o empate. Ederson teve o travessão atingido, aos 26 do segundo tempo, em finalização de Dimarco. Lukaku não conseguiu aproveitar o rebote. Depois, aos 43, cabeceou livre na pequena área. Ederson defendeu com a perna e assegurou o troféu.

O novo campeão europeu pertence, desde 2008, ao City Football Group, de propriedade do Abu Dhabi United Group, fundado e comandado pelo xeque Mansour bin Zayed Sultan Al Bahyan, integrante da monarquia dos Emirados Árabes Unidos. Ele transformou um time de médio porte da Inglaterra, que vivia na sombra do rival da cidade, o Manchester United, na maior força do futebol nacional e, agora, europeu.

A vitória sobre a Inter dá a tríplice coroa ao City, também vencedor do Campeonato Inglês e da Copa da Inglaterra na temporada. A equipe iguala assim o maior orgulho do seu adversário local. Até este final de semana, o único inglês a obter tal feito havia sido o United, em 1999.

Tudo mudou na história da equipe a partir de 2012, quando o clube azul de Manchester ganhou a liga nacional pela primeira vez depois de 44 anos. Foi o instante e que a Champions League virou prioridade.

O título europeu também é o triunfo de Pep Guardiola, o maior treinador de sua geração, que volta a levantar o troféu após 13 anos. Campeão com o Barcelona em 2009 e 2011, ele rebate as críticas, a que nunca deu a menor importância, de que não conseguia ganhar o torneio sem Lionel Messi no seu elenco.

A união entre City e Guardiola, em 2016, foi a tempestade perfeita. O melhor técnico do planeta tinha cheque em branco para contratar quem quisesse. Depois de perder a final da Champions em 2021 para o Chelsea, o clube ligado à família real dos Emirados Árabes Unidos gastou 299,4 milhões de euros em reforços nas duas temporadas seguintes (R$ 1,58 bilhão pela cotação atual).

A última delas, por 60 milhões de euros (R$ 318,6 milhões), foi a última peça do quebra-cabeças. O norueguês Haaland foi o camisa 9 que faltara ao time em alguns momentos decisivos no passado. Macou 58 gols em 59 jogos entre 2022 e 2023 pelo City. Foram 12 deles apenas na Champions League.

Se o City tinha arcos como Kevin De Bruyne, Phil Foden e Gündogan, passou a ter a flecha mais cobiçada do futebol mundial.

"Eu não faço ideia do que um zagueiro pode fazer para parar Haaland. Ele tem tudo", espantou-se o belga De Bruyne.

Antes de Haaland, a equipe teve derrotas traumáticas na competição europeia. Na partida mais importante antes de enfrentar a Inter (contra o Chelsea, em 2021), foi anulada pelo esquema tático do alemão Thomas Tuchel. Em 2022, tinha a vaga para a final nas mãos, mas levou dois gols no fim do Real Madrid na semifinal.

O troféu coloca também o City no último Mundial de Clubes no formato atual e possivelmente no caminho de um brasileiro, caso algum deles conquiste a Copa Libertadores.

Na geopolítica, o título é uma vitória do projeto de "sportswashing" dos Emirados Árabes, país sem democracia, que restringe a liberdade de expressão e as críticas à família real.

MANCHESTER CITY

Ederson; Akanji, Rúben Dias e Aké; Stones (Walker) e Rodri; Gündogan, De Bruyne (Foden), Bernardo Silva e Grealish; Haaland. T.: Pep Guardiola

INTER DE MILÃO: Onana; Darmian, Acerbi e Bastoni (Gosens); Dumfries (Bellanova), Brozovic, Barella, Çalhanoglu e Dimarco; Lautaro Martínez e Dzeko (Lukaku). T.: Simone Inzaghi

Local: Estádio Olímpico Ataturk, em Istambul, na Turquia

Data e horário: 10 de junho de 2023, às 16h (de Brasília)

Árbitro: Szymon Marciniak (POL)

Assistentes: Pawe? Sokolnicki (POL) e Tomasz Listkiewicz (POL)

VAR: Tomasz Kwiatkowski (POL)

Cartões amarelos: Barella (Inter de Milão); Ederson (Manchester City), Inzaghi (Inter de Milão)

Gols: Rodri (Manchester City), aos 23 minutos do segundo tempo