Enquanto espera por Ancelotti, seleção brasileira tem base e DNA do técnico

Por IGOR SIQUEIRA

SÃO PAULO, SP, RIO DE JANEIRO, RJ, E BARCELONA, ESPANHA (UOL/FOLHAPRESS) - A CBF ainda não sabe se Carlo Ancelotti será o treinador da seleção brasileira. Mas o time que enfrentará a Guiné, no sábado (17), em Barcelona, tem muito do DNA do treinador italiano.

OS TRAÇOS DE ANCELOTTI NA SELEÇÃO

A escalação do possível time titular não deixa dúvidas: cinco jogadores estão ou já estiveram sob as ordens do favorito da CBF ao cargo. Três do atual elenco do Real Madrid (Vini Jr, Rodrygo e Eder Militão) e outros dois que trabalharam com "Carleto" em diferentes momentos de suas carreiras (Richarlison e Casemiro).

O sistema de jogo da seleção também é parecido com o usado pelo treinador Real Madrid: ele não abre mão da uma linha de quatro defensores. À frente da defesa, usa dois volantes, um meio-campista mais leve, dois pontas e um atacante que sai da área para jogar.

A formação clássica do "Ancelottismo" se mantém com Ramon e é uma herança de Tite, um fervoroso seguidor dos métodos do italiano. O ex-treinador da seleção, comandante da equipe nas Copas de 2018 e 2022, devorou o livro "Liderança Tranquila", que explica a forma de trabalhar de seu ídolo.

AUMENTO DE PROTAGONISMO COM O CHEFE

Para a próxima temporada do Real Madrid, Vini Jr. e Rodrygo ganharam novos números de camisa: 7 e 11, respectivamente. A mudança mostra a importância que eles ganharam no clube merengue: recentemente, os números foram usados por Cristiano Ronaldo e Gareth Bale.

O trio do Real Madrid está consolidado no clube e na seleção. E foi justamente Ancelotti que deu a Éder Militão, Rodrygo e Vini Jr. o protagonismo na equipe espanhola. Sob o comando do treinador, os três tornaram-se titulares absolutos e são parte dos planos de futuro no Santiago Bernabéu.

Esse aumento no protagonismo acontece também na seleção brasileira. O projeto para a Copa de 2026 pode nem passar pelas mãos de Ancelotti, mas inclui Militão, Rodrygo e Vinícius como peças-chave da equipe.

O zagueiro começa o ciclo como titular, herdando a vaga que foi de Thiago Silva e podendo, eventualmente, também ser aproveitado na lateral. É algo que ele já fez no Real Madrid, quando necessário. Usar defensores centrais como laterais (e vice-versa) é um expediente que faz parte do repertório do italiano. Além de Militão, o elenco atual do clube tem Nacho e Alaba com essa característica de polivalência.

Vini Jr. e Rodrygo têm uma posição ainda mais marcada. O ponta-esquerda só se tornou titular absoluto na reta final da preparação para a Copa do Mundo, mas foi o principal jogador brasileiro na temporada europeia. Ele é o principal candidato a craque do Real Madrid e da seleção no período que vai até 2026.

Já Rodrygo conquistou o espaço ao longo dos últimos 12 meses: ganhou a vaga de Marco Asensio no Real Madrid e superou a forte concorrência de Raphinha e Antony na seleção. Em entrevista coletiva na quarta-feira (14), ele foi perguntado se preferia ser treinado por Ancelotti no clube ou na seleção. "Nos dois, se fosse possível".

EFEITO NO POMBO

No clube de Liverpool, Ancelotti não foi bem. Mas a relação com Richarlison sempre foi de admiração mútua, a ponto de o brasileiro ter sido observado pelo Real Madrid quando o italiano voltou ao clube. Ele acabou indo para o Tottenham.

"Ele me ajudou muito no Everton, eu me sentia um fenômeno na mão dele, fazia gol sem parar. Ajudou muito, virei parceiro e ia para casa no carro dele no fim de todo o jogo, me sentia até filho dele", contou Richarlison em entrevista coletiva em Barcelona, na quarta (14).

A relação de Carleto com os brasileiros ?no passado e no presente? é um dos motivos pelos quais ele é o favorito da CBF. A entidade ouviu jogadores como Kaká, Cafu e Ronaldo para saber mais sobre os bastidores do trabalho do italiano.

A CBF indica que pode esperar até mais um ano por Ancelotti. E, enquanto espera por seu novo treinador, a seleção vai se moldando ao estilo dele.