Do destino é possável fugir

Por

 Ailton Alves 29/3/2010

Do destino é possível fugir

Nós, os Carijós – mais do que quaisquer outros torcedores – sabemos o que é destino. Não faz muito tempo (para ficar apenas em um exemplo) aceitamos aqueles quatro jogos seguidos contra o Macaé, para tudo, no final, dar no que deu: a não classificação para a Série C do futebol brasileiro. Era destino. Agora mesmo, nesta reta final do Campeonato Mineiro/2010, após a derrota para o Uberaba, já estávamos aceitando jogar, nas quartas-de-final, em desvantagem, contra o Atlético Mineiro. Tudo estava bem. Como disse, os Carijós sabem que tabela de campeonato (assim como o destino) não se discute, cumpre-se. Não adianta nada ficar nesse muro de lamentações mais forte do que o de Jerusalém: se tivéssemos segurado o empate em Governador Valadares... Se tivéssemos vencido o Uberaba...

Somos assim. É mais ou menos voz corrente que de destino ninguém foge. Desde que Edward Dmytryk fez aquele filme com o Bogart, e agora com as lembranças propícias e típicas da Semana Santa. Ninguém mais que Jesus Cristo aceitou seu destino, como se fosse algo imutável e, mais importante, um desígnio do Deus único.

Aliás, estou convencido de que não há torcedor mais cristão que o Carijó: cada domingo parece de Ramos, com aquelas bandeiras e aquela euforia a caminho do estádio — embora nunca pensemos em expulsar vendilhões do Templo Mário Helênio; cada partida parece a Santa Ceia (por aquilo que tem de característica derradeira) e há um martírio, um sofrimento, em cada confronto que mais parece uma sexta-feira da Paixão; e sempre há, na nossa cabeça, um árbitro Judas, a nos perseguir, premiado com 30 moedas, até que chegue a Ressurreição.

Mas... Pode ser que as coisas estejam mudando. As coisas mudam. O Tupi não parece mais um time predestinado a morrer na praia. Pode, sim, muito bem mudar um destino traçado há séculos e que me parece sempre vítima de uma maldição futebolística jogada sobre a cidade.

Nesse sentido, este domingo, 28 de março, foi um divisor de águas. O Tupi foi tentado, como somos todos na Quaresma. Nos primeiros quarenta minutos de jogo fez o seu gol. Nos quarenta minutos da etapa final levou o empate e depois de muita tensão conseguiu o tempo da vitória. Porém, isso era pouco, era quase uma obrigação, para cumprir o destino: ficar em quinto lugar e enfrentar o Galo da capital nas quartas-de-final.

Ai entrou em campo o imponderável, tanto quanto a famosa ressurreição de Cristo, depois de ser pregado na cruz. E o ocaso dos ídolos. No Mário Helênio estava praticamente anônimo Evair, esquecido pelas torcidas de Palmeiras e Vasco (onde foi fundamental em grandes conquistas verdes e cruzmaltinas), e agora lembrado pelos moradores do Triângulo Mineiro como o técnico que treinava o Uberlândia quando o time caiu para a Segunda Divisão.

Em Ipatinga, estava Marinho, que fez o gol do Villa Nova aos 45 minutos do segundo tempo e devolveu ao Tupi aquilo que lhe era de direito: um lugar no G-4, entre os grandes das Gerais. Para quem não se lembra, Marinho era o centroavante do Galo juizforano em 2004, quando os Carijós caíram para a Segunda Divisão.

Daquele destino selado, Marinho e o Tupi não puderam escapar. Agora, seis anos depois, é bem provável que seja possível fugir de outro tipo de desígnio.

 



 

Ailton Alves é jornalista e cronista esportivo 
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