Palavras ao vento

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Ailton Alves 12/4/2010

Palavras ao vento

Para alguns torcedores, não todos (generalizações são sempre perigosas), ser eliminado do campeonato é como presenciar um apocalipse. Só falta mesmo - em algumas oportunidades não falta - a visão psicodélica do início daquele filme do Coppola, com a canção do Jim Morrison emoldurando a cena: “Este é o fim/ Dos nossos elaborados planos, o fim/ De tudo que permanece, o fim/ Sem salvação ou surpresa, o fim”. De tudo não fica nada, absolutamente nada. Jogos, jogadores e jogadas são lançadas ao limbo de uma memória seletiva, imagens que vão se apagando antes mesmo do início do próximo campeonato.

Para alguns cronistas escrever sobre a eliminação do campeonato é praticamente impossível. E mesmo se fosse possível, de nada adiantaria. Seriam apenas palavras e sensações ao vento, esquecidas no mesmo ritmo das paixões modernas.

Ademais, não faz realmente nenhum sentido escrever 3.000, 3.500 mal-traçados caracteres sobre a eliminação do Tupi no campeonato quando todo o mundo se comunica agora em 140 caracteres, no tal de twitter: pessoas interessantes, outras nem um pouco, fazendo observações sobre o cotidiano no estilo moderno do fast food.

Eles, no entanto, é que estão certos. Errados são aqueles que insistem em dizer que “no princípio era o verbo, no princípio era o verbo”, esquecendo que são dos versículos que são feitos os grandes sermões.

Mas, voltando ao único assunto que a minha insignificância me permite, o futebol anda mesmo devagar, a 140 caracteres, a julgar do que falam dele. Depois que o Galo empatou aquele jogo contra o Ipatinga e saiu do campeonato, nós, os Carijós, ouvimos coisas óbvias, terríveis e até pretensamente “profundas” sobre o acontecido.

Porém, foi algo passageiro. Com a ressaca findada, as nossas mágoas e tristezas mantidas, eles nos contaram, com júbilo e em partes (para caber no aparelho do twitter), que o Botafogo venceu o Fluminense pela primeira semifinal da segunda fase do campeonato carioca (também chamada de Taça Rio). E que o Flamengo venceu o Vasco pela segunda semifinal do segundo turno do campeonato carioca (também conhecido como Taça Rio). E que, agora, flamenguistas e botafoguenses vão disputar a dita Taça Rio. E que se der os adeptos da Gávea, estes vão duelar em mais dois jogos com os fãs da Estrela Solitária. Porém, nos explicaram, que se o Botafogo vencer o Flamengo na final da Taça Rio, será proclamado campeão estadual. Isso porque o alvinegro venceu a segunda semifinal do primeiro turno do campeonato carioca (também chamado de Taça Guanabara) e depois a final da primeira fase (conhecida também como Taça Guanabara).

Ficamos enternecidos e agradecidos com tanta informação. E cientes de que, no mundo de hoje, são essas as informações que interessam.

Todo o resto, tudo que for dito serão apenas palavras ao vento.

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Desde 27 de novembro de 2007 ocupei este espaço no Portal ACESSA.com (com a benevolência da Ludmila e depois da Priscila). Foram exatas 125 tentativas de escrever crônicas de futebol. Foi bom, muito bom e, para mim, inesquecível. Agora é chegada a hora da despedida e dos agradecimentos aos meus parcos leitores. Como o Tupi, fui, infelizmente, vencido pelas circunstâncias. Voltando à canção do Morrison: “Este é o fim, o fim/ Dói/ O fim das mentiras suaves/ O fim das noites que tentava vencer e escrever/ Este é o fim”.

 



Ailton Alves é jornalista e cronista esportivo 
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