Invers?o de pap?is
Homens assumem tarefas que antes eram realizadas somente pelas mulheres. E as mulheres, vice-versa, topam trabalhar fora
e deixar os filhos por conta do marido

Djenane Pimentel
30/11/04

A psic?loga Ana Stuart fala sobre a invers?o de pap?is entre pais e m?es e o pai de fam?lia, Rog?rio Marioni, conta sua experi?ncia

Ou?a! Ou?a!

Geraldo, Margarida, Lara e Tom?s Sempre fomos levados a crer que M?e ? aquela que fica em casa, cuida dos filhos, alimenta-os e d? carinho. J? o Pai ? aquele que trabalha fora todo o dia, mas ? noite est? l?, para brincar e, muitas vezes, at? nos protejer dos tapinhas da mam?e. Mas, h? algum tempo esses pap?is t?m se invertido.

Hoje, n?o ? dif?cil ver pais que ficam em casa, cuidando dos filhos, enquanto a m?e trabalha fora. Alguns podem at? estar desempregados, mas a maioria prefere mesmo ? trabalhar por conta pr?pria e assistir, de perto, o crescimento dos pimpolhos.

Este ? o caso do trabalhador aut?nomo, Geraldo Corr?a Rodrigues (foto acima), que al?m de gostar de mexer com carros antigos tamb?m administra o Museu do R?dio, em Juiz de Fora.

Sua esposa, Margarida, trabalha o dia todo em uma escola p?blica. Como ? concursada e possui dois cargos no mesmo emprego, diz que, apesar de sentir falta de ter um pouco mais de tempo para os filhos - Lara e Tom?s - tem que pensar duas vezes antes de largar o emprego. "J? fiquei tentada a largar v?rias vezes, mas n?o posso me dar a esse luxo", afirma. "Talvez, se o Geraldo n?o tivesse essa disponibilidade de tempo, eu j? tivesse largado", diz.

Para Margarida, deixar os filhos somente com bab? ou empregada exige uma dose grande de cuidado e confian?a. "N?o ? f?cil. Cada pessoa recebe um tipo de educa??o e eu discordo de muitas coisas que as vejo fazer", conta. "Mas, com o Geraldo sempre em casa, fico mais tranquila".

Experi?ncia gratificante
Geraldo e Lara Geraldo conta que ter filhos ? uma tarefa dif?cil. Desde que nascem, tornam-se primeiro plano na vida dos pais e sua cria??o ? um investimento di?rio para o futuro. Dessa forma, logo que chegam ao mundo, os pais tratam de prover o que h? de melhor para as crias: cuidam da sa?de, educa??o e ensinam valores para que um dia eles se tornem adultos respons?veis e conquistem sua independ?ncia.

Mais velho de cinco irm?os, Geraldo lembra que, como a m?e e o pai trabalhavam muito, ele ? quem cuidava da casa e dos irm?os. "E nem por isso deixei de ser homem. N?o ? vergonha ser um pai presente, estar em casa com os filhos, cuidar deles. Acho que s? aprendi e tenho mais a aprender, com toda essa experi?ncia", declara.

Pai presente, at? na cozinha
Rog?rio, Larissa e Matheus Antigamente, trocar fraldas e dar de mamar era visto como coisa de mulher, mas hoje, os homens j? rasgaram a velha cartilha e n?o se contentam mais apenas com o papel de provedor, que a sociedade h? tempos definiu. Rog?rio Marioni que o diga.

Rog?rio assumiu o comando da casa desde o ano passado, quando ele e sua esposa, Val?ria, fecharam o bar, onde trabalhavam juntos. Ela come?ou a trabalhar fora e ele optou por ficar em casa, trabalhando por conta pr?pria. Al?m de cuidar dos filhos, ele tamb?m est? craque nos servi?os dom?sticos: varre, lava, passa, cozinha e ainda diz que gosta!

"? tudo uma quest?o de necessidade, adapta??o e escolha. Optamos por n?o colocar uma empregada e n?s mesmos cuidarmos deles. Eu, que fui acostumado a ter tudo na m?o, n?o sabia fazer nem um caf?, aprendi a viver de forma diferente", conta. Orgulhoso, o pai lembra ainda que os filhos - Larissa e Matheus - recorrem somente a ele, quando querem qualquer coisa dentro de casa.

Rog?rio, Val?ria e Matheus "As mulheres lutaram para conseguir um lugar no mercado de trabalho, por?m acabam pagando um alto pre?o, ?s vezes. Mas ? uma op??o delas, assim como essa invers?o de pap?is acaba sendo tamb?m uma conseq??ncia disso", destaca.

Rog?rio acha importante que o machismo seja abolido de vez. "N?o faz sentido. A vida a dois implica em nos tornarmos um s?, porque imagina se existirem fac?es dentro de casa? S? o que nos interessa ? sermos espelhos para nossos filhos", finaliza.

Papo aberto
Ana Stuart A psic?loga e terapeuta familiar, Ana Stuart, considera que, para um rela??o onde existe invers?o de pap?is dar certo, ? preciso muita conversa e acordos pr?-definidos. "N?o ? imposs?vel e, se este tipo de rela??o for bem trabalhada, ela pode se tornar muito bem sucedida, como no caso da fam?lia de Rog?rio", diz. S? que a psicol?ga alerta: ainda existe muito preconceito, e por parte das pr?prias mulheres. "Percebo que os homens n?o est?o achando a situa??o ruim, mas as mulheres, sim, porque elas n?o est?o acostumadas a ver o homem como uma figura passiva e dominada", ressalta.

Segundo ela, muitas mulheres ainda t?m uma certa resist?ncia. Podem at? admitir a troca, por pura necessidade, mas, no fundo, v?o achar que o homem encontra-se acomodado com a situa??o, o que pode fazer com que o casamento entre em crise, com a perda da admira??o e at? do tes?o. "? l?gico que n?o estou falando de todos. Mas, para quem n?o admite isso, a ?nica sa?da ? a conversa franca e aberta", finaliza.


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