O pique s? cai quando a gente quer

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Jussara Hadadd 11/08/2007

O pique só cai quando a gente quer

E bastava dizer que não queria para Joana Angélica se expor aos mais desagradáveis desaforos. Ele a ofendia dizendo que era fria e que não se interessava mais pela vida. Que tinha envelhecido e que a sua namoradinha há muito não existia mais. Que o mulherão que o deixava louco estava morta e enterrada. Joana Angélica já não se encontrava mais diante de tantas escolhas e diante do que a sua vida se tornara.

Seu marido John, um inexperiente homem de 31 anos, casado com ela há seis, não tinha a sensibilidade (ausência natural na maioria dos homens), para perceber que sua mulher não tinha o mesmo espaço e nem o tempo suficiente para se dedicar exclusivamente a ele e aos momentos de prazer que antes do casamento podiam dividir.

John, um homem de libido alteradíssima, procurava-a todos os dias. Sempre foi assim. E até que os filhos viessem, Joana correspondia, e adorava estar presente.

Casaram-se logo e, instintivamente, bem no início do casamento, produziram dois rebentos. Viam-se agora, sem razão que justificasse a união. Nem o desejo, nem a fidelidade, e muito menos a presença na vida um do outro como homem e mulher. Aos pouquinhos tornaram-se quase "amigos" e muito pouco cúmplices na necessidade inexperiente de conduzir a vida de dois seres que foram gerados em meio à paixão e à fantasia de uma "família" que provasse para a sociedade que a vida deles havia dado certo.

Este é um erro clássico entre os casais que começam cedo demais uma experiência conjugal, baseados em conselhos de parentes, religiões onde os líderes não são casados, em filmes e em contos da carochinha.

A meu ver e fundamentada em tantas histórias tristes de separação e de má convivência que chegam a mim diariamente por mulheres que sofrem com o fracasso do fim do casamento, as relações estáveis deveriam começar com propostas de solidificação mediante a certeza de uma intimidade bem gostosa e de forte presença na vida dos dois e também, é claro, depois que eles estivessem com suas carreiras profissionais bem encaminhadas e com uma boa renda garantida, óbvio, tudo isso formando uma malha que determina a vontade e a disposição dos dois de viverem intensamente.

O que a carreira profissional bem sucedida tem a ver com a cama? Ora, o casal apaixonado e bem sucedido, mesmo depois que geram filhos, tem mais facilidade para criar oportunidades e não deixar o gostoso da relação acabar. Na verdade, o certo seria isso acontecer sem dinheiro mesmo. Casais realmente apaixonados dão sempre um jeitinho de driblar a "tribo" doméstica e cuidar de manter forte a química entre eles, mas via de regra, a maioria precisa de alternativas.

Voltando ao assunto, este tempo antecedente aos filhos, propõe inclusive, se certificar de que o tesão por ambos e pela vida de cada um e dos dois juntos, não vai acabar com o tempo, porque como diz o nosso querido Roberto Freire*, "Sem tesão não há solução".

Gente, é coisa de maluco. O que tem de casais se separando por causa da interferência dos filhos e por que não tem dinheiro suficiente para manterem uma vida legal. Todo mundo dá palpite, e eles escutam todo mundo porque não têm um conceito de vida a dois pré-estabelecido, e aí a coisa descamba.

O homem trabalhando até tarde em uma função que normalmente despreza e a mulher abnegando de todos os seus projetos em nome de uma família feliz. Isto é mesmo clássico, mas há que se atentar para o fato de a experiência não ser positiva. É só olhar em volta e detectar quantos casos onde os casais abrem mão da sua intimidade em favor do que a sociedade impõe como padrão de "família feliz" e ver no que no sempre dá.

Concordo com Freire quando diz que o prazer tem que estar em tudo o que se faz na vida e como terapeuta sexual, e muito atenta às queixas das mulheres com quem converso, afirmo que o desprezo e o desrespeito aos momentos de prazer do casal tem muito a ver com a dissolução da união.

Já me ouviram dizer, e não foi uma vez, que o sexo é capaz de alimentar o corpo e a alma. Que o casal que prioriza a sua intimidade é um casal mais criativo e mais capaz de driblar qualquer crise. Que este casal é forte e impenetrável e que tudo que circula em torno deles como filhos, parentes, vizinhos, chefes mal amados enfim, tudo isto é administrável e não abala suas estruturas, porém pra quem é infeliz qualquer coisa é pretexto para não se viver bem, observem.

É como um circulo virtuoso - atração que gera tesão, que gera amor, que gera boa intenção, que gera disposição, que gera atenção, que gera boa produção, que gera atração...

Sempre quando escrevo sobre este tema me prometo que será a última vez, mas a necessidade se faz constante à medida que queixas desse tipo não param de chegar até a mim e cada dia mais me convenço de que minha tese é verdadeira.

Sendo assim, minha dica é que os casais não deixem nada e nem ninguém interferir na sua intimidade. Ah, e muito mais importante: Nem eles mesmos!

Beijem na boca todos os dias. Se amem sempre que der e façam dar o máximo possível. Fortaleçam-se nestes momentos para que quando a vida lhes apresentar um problema real possam ser cúmplices na missão de resolvê-lo. Não permitam que "coisinhas" sejam classificadas como problemas capazes de afetar vocês negativamente.

Aproveitem!

*Roberto Freire

Roberto Freire nasceu em 1927. Graduou-se em medicina com especialização em psiquiatria. Dono de uma longa e rica trajetória, com marcante presença na vida intelectual brasileira, destaca-se pela multiplicidade de sua obra: é escritor, dramaturgo, cineasta, roteirista de TV, jornalista, psiquiatra e "um militante do tesão", como se define.

Sem tesão não há solução - O Best-seller defende o fim do bloqueio que a sociedade impõe à satisfação do prazer

A teoria de Freire baseia-se na Soma, método corporal terapêutico criado por ele e que inclui reflexões sobre psicologia e política

Reunião de três longos ensaios, publicados em 1987, nos quais Freire destilou suas pesquisas e reflexões sobre Psicologia e Política. Inclui entrevistas dele, em épocas diferentes, discutindo Cleo e Daniel, Utopia e paixão, Coiote e a criação do Jornalivro (livros vendidos em bancas de jornal a preços populares).

Segundo Freire, Sem tesão não há solução influenciou a introdução do uso da palavra tesão, com seu atual significado, no português falado no Brasil. Usada apenas pelos jovens, e para descrever excitação sexual, com o livro, que teve 20 edições, a palavra deixou de ser chula e ganhou todas as faixas etárias e camadas sociais, literatura, rádio e TV, foi publicada em revistas e jornais. E sempre com o sentido que Freire lhe deu: paixão por algo que desperte prazer total.

www.editorafrancis.com.br


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Jussara Hadadd é terapeuta holística,
especializada em sexualidade
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