Exército Brasileiro evita competição militar organizada pela Rússia
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Exército Brasileiro desistiu de participar de uma competição anual entre forças militares organizada pela Rússia, país que invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro, mudando o balanço geopolítico do planeta.
Os Jogos Internacionais do Exército, realizados desde 2015, começaram no sábado (13) e irão até o próximo dia 27. Eles compreendem 36 competições em 12 países, incluindo pela primeira vez a Venezuela, principal aliada de Moscou no quintal estratégico dos Estados Unidos.
Questionado, o Centro de Comunicação Social da Força confirmou que não haveria delegação brasileira, mas não citou motivos. Segundo oficiais com conhecimento do assunto, a decisão foi política: participar de um evento do gênero montado por um país em guerra poderia sugerir que o Brasil tem lado na disputa.
A orientação difere do comportamento do governo de Jair Bolsonaro (PL), que condenou a invasão em voto na ONU, mas não integra o grupo de países que aplicam sanções ao governo de Vladimir Putin. Ao contrário, o presidente brasileiro procurou novos negócios de oportunidade, particularmente comprar diesel mais barato.
O Brasil participou como observador das edições de 2015 e 2019, e competiu no ano passado na categoria de países sem uso de veículos blindados. Ganhou uma prova de salto de paraquedas e ficou em terceiro lugar geral.
Há todo tipo de simulação militar no evento. A Venezuela sediará a competição de franco-atiradores em fronteiras, e teve uma base reformada pelos russos para receber os competidores. O regime chavista é sócio militar de Moscou desde os anos 2000, tendo adquirido caças, tanques, sistemas antiaéreos e todas sorte de armamento leve.
O Comando Sul dos Estados Unidos já classificou a presença militar russa, além da pegada econômica chinesa em países latino-americanos, como um desafio estratégico. Na véspera dos Jogos Internacionais, aliás, os americanos concluíram seu principal exercício anual na região, o Panamax.
Os jogos já foram apelidados por observadores de "Olimpíadas do Eixo do Mal", resgatando o derrogatório termo cunhado pelo então presidente George W. Bush em 2002 para falar de países rivais dos EUA ?no caso, Irã, Iraque e Coreia do Norte.
Nesta edição, 21 países distantes ou rivais dos EUA participarão. O destaque é a antagonista de Washington na Guerra Fria 2.0, a China, que terá em seu solo uma disputa entre blindados e outra, de limpeza de campos minados. Dois dos competidores não são reconhecidos pela ONU: os protetorados russos de Abkházia e Ossétia do Norte, extirpados da Geórgia após a guerra de 2008 contra Moscou.
Outros nomes são conhecidos das listas proscritas dos americanos: Belarus, Irã, Sudão e a própria Venezuela, apesar dos esforços de reaproximação recentes do governo de Joe Biden.
Nem sempre foi assim, como a presença brasileira no passado indicou. A Grécia foi o único país da Otan, a aliança militar ocidental, a participar dos jogos. EUA, França, Alemanha, Holanda, Eslovênia e Turquia, todos membros do clube, já enviaram observadores em edições anteriores.