EUA vão enviar navios à parada do 7 de Setembro no Rio

Por IGOR GIELOW

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os Estados Unidos decidiram participar da parada naval do 7 de Setembro no Rio de Janeiro, mas não enviarão representantes ao palanque montado por Jair Bolsonaro (PL) na capital fluminense no dia da celebração do Bicentenário da Independência.

Conforme a Folha de S.Paulo mostrou na terça (30), os americanos se viram numa posição complicada, dado que três de seus navios de guerra estão a caminho do Rio para participar do exercício multilateral Unitas-2022, um evento anual realizado em países da América Latina sob o comando da Marinha dos EUA desde 1960.

A escolha do Brasil para sediar o evento este ano ocorreu antes de Bolsonaro ser eleito em 2018, e a diplomacia americana temia a associação entre sua presença e o discurso golpista do presidente contra o sistema eleitoral. A Marinha brasileira convidou todos os participantes do exercício para a parada naval.

Ao tentar associar a data nacional a um evento de defesa de seu governo e contra a Justiça Eleitoral, Bolsonaro criou um constrangimento diplomático --aumentando um mal-estar colocado quando ele chamou embaixadores em Brasília para expor suas teses falsas contra as urnas eletrônicas.

Funcionários americanos haviam afirmado, sob reserva, que o país não deveria integrar a parada prevista para percorrer o litoral carioca no 7 de Setembro, do Recreio dos Bandeirantes até o Leme, passando pelo palanque de Bolsonaro em Copacabana. Oficiais da Marinha, por sua vez, diziam que a presença estava confirmada.

A reportagem do jornal Folha de S.Paulo sobre isso foi publicada às 11h51 da terça. No fim da noite, a Embaixada dos EUA divulgou nota afirmando que 2 dos 3 navios que estarão no Unitas iriam participar da parada. O país assim compartilha a decisão chilena de manter a fragata Williams, enviada ao Unitas, no desfile que será liderado pela nau-capitânia brasileira Atlântico e pelo Cisne Branco, veleiro de instrução e relações públicas da Marinha.

O caso de Santiago é ainda mais intrincado, já que o governo chileno convocou o embaixador brasileiro para explicar as acusações infundadas feitas por Bolsonaro contra o presidente do país, Gabriel Boric, de que ele teria depredado patrimônio público nos protestos de 2019 no país. Mas a política de boa vizinhança, particularmente entre as Forças Armadas, falou mais alto.

Entre militares consultados, havia a expectativa da participação das duas autoridades americanas que estarão na abertura do Unitas, no dia 8, no evento do Rio. Não houve convite formal, mas a decisão de Washington é não ter ninguém no palanque carioca.

Diplomatas minimizam tal incômodo, buscando manter boas relações com o Brasil, mas o fato é que os EUA deram sinais inequívocos de reprovação da campanha do presidente contra o sistema eleitoral. A embaixada em Brasília chegou a divulgar uma nota oficial dizendo que as urnas eletrônicas eram exemplo para o mundo, após o constrangedor episódio com os representantes internacionais e Bolsonaro.

Embaixadas têm acompanhado de perto as eleições brasileiras. A voz corrente é o tradicional "vamos trabalhar com qualquer um que ganhar", mas há preocupações com a campanha promovida contra a lisura do pleito pelo presidente.