Secretário de Estado dos EUA viaja à América do Sul e evita Brasil um dia após eleição

Por THIAGO AMÂNCIO

WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - O secretário de Estado americano, Antony Blinken, chefe da diplomacia do governo Joe Biden, viajará à América do Sul na segunda-feira (3), um dia após o primeiro turno das eleições presidenciais brasileiras, mas não vai ao Brasil.

Blinken passará a semana toda na região e visitará três vizinhos do Brasil: Colômbia, Chile e Peru. Na pauta, encontros com presidentes, e discussões de acordos de cooperação e a ida à Assembleia-Geral da OEA (Organização dos Estados Americanos) em Lima.

A ausência do Brasil na agenda se justifica, segundo funcionários do governo americano que conversaram com a reportagem, pelo fato de que seria incomum a autoridade mais alta da diplomacia viajar ao país tão próximo das eleições, sob o receio de passar uma imagem de interferência externa no pleito.

Não deixa de pesar também, por outro lado, as sucessivas manifestações públicas que a Casa Branca e o Departamento de Estado têm feito de que confiam no sistema eleitoral brasileiro, em recados ao governo Jair Bolsonaro (PL) de que não aceitarão contestações do resultado.

O próprio Blinken afirmou na manhã desta sexta que "o Brasil tem instituições democráticas muito fortes, inclusive instituições eleitorais muito fortes."

Parlamentares americanos têm feito pressão para que o governo Joe Biden reconheça imediatamente o vencedor nas urnas brasileiras, de modo a dificultar contestações. Na última quarta (28), o Senado americano aprovou uma resolução que pede o reconhecimento instantâneo e a revisão de relações em caso de ruptura democrática.

Questionado pela Folha de S.Paulo nesta sexta (30) se o governo Biden reconhecerá o vencedor assim que o resultado for divulgado, o secretário assistente do Departamento de Estado para o Hemisfério Ocidental, Brian Nichols, afirmou: "Obviamente esperamos engajar com quem quer que o povo brasileiro escolha [presidente] o mais rápido possível e fortalecer a amizade a forte cooperação que temos."

Blinken não visitou o Brasil ainda desde que assumiu o cargo de secretário de Estado, em janeiro do ano de 2021. Na única outra viagem que fez à América do Sul, em outubro do ano passado, o americano foi apenas ao Equador e à Colômbia, onde se encontrou com presidentes, e também deixou o Brasil de fora --considerando toda a América Latina, ele já viajou também à Costa Rica e ao México.

A autoridade diplomática mais alta enviada pelo governo americano ao Brasil foi Jake Sullivan, assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, em agosto de 2021, quando se encontrou com o presidente Bolsonaro e reafirmou a confiança no sistema eleitoral.

Desde então, outras autoridades do gabinete de Biden foram ao país, como o secretário de Defesa, Lloy Austin, em julho --quando defendeu que as forças militares devem estar "sob firme controle civil"--, mas o país tem passado ao largo do centro da diplomacia americana. Desde 2021, por exemplo, o cargo de embaixador dos EUA está vago. A candidata indicada por Biden, Elizabeth Bagley, foi barrada no Senado e a Casa Branca não enviou outro nome, e quem ocupa a função de maneira interina é Douglas Koneff, encarregado de negócios.

Agora, Blinken passará a semana toda na América do Sul. Na Colômbia ficará entre segunda e terça-feira (4), onde se encontrará com o novo presidente do país, Gustavo Petro, além da vice, Francia Márquez, e do chanceler, Álvaro Leyva --a Colômbia é um dos principais parceiros dos Estados Unidos na região.

Segundo o departamento de Estado, o secretário vai discutir a crise climática (mais de 40% do território do país é composto pela floresta amazônica), imigração (cerca de 2,5 milhões de venezuelanos vivem no país, que também tem uma grande comunidade latina nos EUA), e o tráfico de drogas (a Colômbia é o principal produtor de cocaína do mundo). Outro assunto na pauta é o acordo de paz com as Farc de 2016, para o qual o secretário vai reafirmar "contínua colaboração com o governo colombiano", diz o órgão.

Na quarta-feira (5), Blinken vai ao Chile para se encontrar com o também novo presidente Gabriel Boric. O esquerdista recém-eleito virou uma figura pop e acabou de voltar dos Estados Unidos, onde teve uma agenda cheia de reuniões com líderes importantes no cenário global, como Emmanuel Macron (França) e Olaf Scholz (Alemanha), além do chefe do Banco Mundial e do ex-presidente dos EUA Barack Obama. Com Boric, Blinken quer discutir a segurança regional e direitos humanos, investimentos e comércio entre os dois países, além de discutir também migração e crise do clima.

Na quinta (6), viaja a Lima, onde terá o principal compromisso da viagem, a Assembleia-Geral da OEA, na qual deve pressionar por uma resolução contra a invasão russa à Ucrânia. No país, também se encontrará com o presidente peruano, Pedro Castillo, e voltará a discutir imigração.