Governo da Catalunha perde maioria no Parlamento sob críticas de aproximação com Madri

Por Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A três dias do 5º aniversário da independência unilateral da Catalunha, a região autônoma da Espanha voltou a ser alvo de crises políticas. Nesta sexta-feira (7), o governo local perdeu a maioria no Parlamento após seu principal aliado abandonar a coalizão por não concordar com o atual tom relativamente amistoso entre Barcelona e Madri.

Hoje, a Catalunha é governada pelo presidente Pere Aragonès, filiado ao pró-independência Esquerra Republicana (ERC) -legenda com o maior número de parlamentares junto com o Partido Socialista Catalão (PSC), contrário à separação da Espanha. Até então, a maioria governista no Legislativo era sustentada pelo apoio do Junts, partido fundado por Carles Puigdemont, um dos líderes da independência catalã.

Nas últimas semanas, porém, o Junts vinha se queixando do ritmo das conversas que Aragones mantinha com o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, sobre a independência da região. O ERC é a favor de uma negociação com Madri para chegar a um referendo e ampliar o apoio dos catalães à saída da Espanha; já o partido de Puigdemont defende uma retórica mais agressiva, o que poderia desencadear conflitos separatistas como os de 2017.

Na época, aliás, a Catalunha era governada pelo líder separatista, que mobilizou milhares de moradores a irem às ruas para protestar contra Madri. O então governo regional foi além e organizou um plebiscito sobre o assunto, que terminou com 90,09% dos votos favoráveis à separação do território do resto da Espanha, em um dia marcado pela violência policial.

Na prática, porém, o resultado não vigorou. A votação tinha sido proibida pela Justiça e, por isso, partidos e defensores da manutenção da Catalunha na Espanha boicotaram o pleito. Assim, a vitória do movimento pró-independência não foi reconhecida pelo governo espanhol, e, dois anos depois, líderes separatistas foram condenados por sedição pela Justiça espanhola -inclusive, Puigdemont, que fugiu para Bruxelas.

A atual discordância sobre os trâmites das conversas com Madri atingiu tensões máximas na semana passada, quando líderes do Junts ameaçaram pedir um voto de confiança contra Aragonés sob a justificativa de que o presidente catalão estava pouco comprometido com a independência da região. Aragonés, porém, se irritou com o tom dos aliados e afastou seu vice-presidente, filiado ao partido de Puigdemont.

O movimento, claro, desagradou ainda mais o Junts, que convocou uma votação para decidir o futuro da coligação. O resultado saiu nesta sexta, com 55,7% dos membros do partido aprovando a saída do governo. Cerca de 20% dos filiados não participaram da consulta.

"O governo de Pere Aragonès é um governo falido", disse a presidente do Junts, Laura Borràs após a votação. "Trata-se de um governo que perdeu a legitimidade democrática e que priorizou os pactos com o Partido Socialista [legenda de Sánchez] em vez de priorizar os acordos que permitiram a sua própria investidura", acrescentou.

Até agora, pelo menos, a ruptura não causou o fim do governo de Aragonès. Dias antes, seu partido já havia descartado a possibilidade de convocar novas eleições em caso de rompimento com o Junts e, nesta sexta, o presidente afirmou que seria irresponsável deixar a Catalunha sem um governo.

Ainda assim, é incerta a capacidade do ERC de governar sozinho a região, visto que conta com apenas 33 cadeiras das 135 do Parlamento. Especialistas apontam que Aragonès precisará se aliar ainda mais com os socialistas, aliados de Madri.

O primeiro-ministro espanhol lamentou a ruptura da coligação. "Nestes tempos difíceis e complexos, a estabilidade dos governos é essencial", disse Sánchez a jornalistas em Praga, onde participa de uma cúpula da União Europeia.

Mas a estabilidade, por ora, não parece factível na região separatista.