China tem controle total de Hong Kong e não descarta usar força em Taiwan, diz Xi
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A caminho de seu terceiro mandato, Xi Jinping reforçou neste domingo (16), dia em que se inicia o 20º Congresso do Partido Comunista Chinês, o discurso que tem adotado em relação a Taiwan e a Hong Kong, duas áreas sensíveis de sua gestão.
Sobre a ex-colônia britânica, na qual Pequim fechou o cerco a movimentos dissidentes desde os amplos protestos registrados em 2019, disse que a China já alcançou o "controle total" sobre a região. "Transformando o caos em governança", nas palavras do líder chinês.
Já sobre Taiwan, disse querer promover a reunificação pacífica com a ilha --mas que Pequim não abandona a possibilidade de usar a força.
"Resolver a questão de Taiwan é assunto do próprio povo chinês, e cabe ao povo chinês decidir", disse o dirigente em uma mensagem voltada para a comunidade internacional, notadamente os Estados Unidos. "E reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias para isso."
A ilha --que, apesar de independente na prática, é considerada uma província rebelde por Pequim-- esteve no centro de uma tensão geopolítica no início de agosto agosto, após a presidente da Câmara dos EUA, a democrata Nancy Pelosi, visitar a região, em uma medida que desagradou inclusive correligionários.
O regime de Xi, após a ida da democrata, realizou uma série de exercícios aéreos ao redor de Taiwan, no que Taipé descreveu como simulações de ataques a seu território. O governo da ilha rechaça a possibilidade de uma guerra com a vizinha continental, mas também diz que não dará nenhum passo atrás na democracia.
Para Pequim, a reunificação também é vista como parte fundamental para o plano de rejuvenescimento nacional, objetivo da gestão de Xi. "A reunificação da pátria será alcançada", frisou ele neste domingo.
E seguiu: "Temos empenhado uma luta contra o separatismo e a interferência e demonstrado como a nossa determinação e capacidade de proteger a soberania nacional e a integridade territorial e nos opor à independência de Taiwan".
Taipé respondeu aos comentários. O gabinete presidencial da ilha disse que a região é um país soberano e independente. "A posição de Taiwan é firme: não recuar na soberania nacional e não comprometer a democracia; um encontro no campo de batalha absolutamente não é uma opção para os dois lados", afirmou, em nota.
Mais cedo, falando a jornalistas, o premiê taiwanês, Su Tseng-chang, sancionado por Pequim por ser considerado um separatista, disse que Xi Jinping deveria se concentrar em seu próprio povo. "Ele deveria prestar atenção na fumaça e nas faixas de protesto na ponte Sitong, em Pequim, em vez de pensar em usar a força para lidar com Taiwan."
O premiê se referia a um raro protesto contra Xi e contra as restrições impostas por Pequim para conter o avanço do coronavírus. O episódio foi registrado na quinta-feira (13), quando faixas que chamavam Xi de traidor e ditador foram colocas em uma ponte --e prontamente retiradas pelas forças de segurança.
De Hong Kong, comentários das autoridades questionando as declarações de Xi não são esperados. Afinal, John Lee, um aliado de Pequim, foi nomeado líder da ilha em maio após o regime comunista modificar a lei eleitoral honconguesa e ampliar seu controle. Lee, então candidato único ao cargo, é ex-chefe de segurança e foi responsável por implementar a dura repressão ao movimento pró-democracia local.
Pouco antes de ter início o congresso do PC Chinês, um porta-voz do partido adotou linha semelhante à de Xi: disse que, enquanto houver chance, Pequim fará o "seu melhor" para resolver pacificamente a questão de Taiwan e que "meios não pacíficos" serão o último recurso.
Também afirmou, segundo o South China Morning Post, que a independência de Taiwan é um beco sem saída, com chances nulas.
Taiwan é considerada pelos principais institutos internacionais que monitoram o nível de liberdades locais como uma democracia liberal e um país livre. A americana Freedom House descreve a ilha como um sistema democrático vibrante e competitivo, que permitiu três transferências pacíficas de poder entre partidos rivais desde 2000.
Na contramão, Hong Kong é tida como uma autocracia ou um regime parcialmente livre. As definições vieram após a implementação da Lei de Segurança Nacional em 2020, que ampliou o cerco à oposição.