Europa planeja reforçar sanções contra o Irã por repressão a protestos

Por Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Seis nações da União Europeia (UE) planejam impor 16 novas sanções do bloco ao Irã por sua violenta repressão aos protestos pelos direitos das mulheres ocorridos no país desde meados de setembro. A notícia foi publicada pela revista Der Spiegel nesta segunda (3), a partir de informações de uma fonte do ministério das Relações Exteriores alemão.

Além da Alemanha, os outros países que defendem as sanções são a França, a Itália, a Espanha, a Dinamarca e a República Tcheca. As medidas propostas têm como alvo pessoas e instituições diretamente responsáveis pela supressão das manifestações, e serão apresentadas em uma reunião da UE prevista para 17 de outubro, quando devem ser aprovadas de forma unânime, ainda segundo a revista.

Em postagem no Twitter nesta segunda, a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, afirmou que a repressão do Irã à onda de insatisfação popular expressa o medo que o regime tem "da educação e do poder da liberdade".

"É difícil lidar com o fato de que nossas opções de política externa são limitadas", escreveu ela. "Mas podemos amplificar essas vozes, criar conscientização pública, fazer acusações e aplicar sanções. E isso estamos fazendo." Alguns especialistas afirmam, no entanto, que sanções têm impacto limitado e não são suficientes para promover reformas significativas.

Iniciados com a morte de Mahsa Amini, de 22 anos, sob a custódia da polícia moral do Irã por supostamente não usar hijab, o véu islâmico, os protestos são a maior demonstração de oposição ao regime em anos, com muitos dos manifestantes pedindo o fim da teocracia em vigor no país desde 1979.

O governo, por sua vez, alega que os protestos são planejados por forças estrangeiras para desestabilizar o Irã. As acusações foram repetidas pelo líder supremo do regime, o aiatolá Ali Khamenei, nesta segunda, em seu primeiro pronunciamento sobre os protestos.

À mídia estatal, ele afirmou que a onda não foi idealizada por "iranianos comuns" e sim pelos arqui-inimigos do país, Estados Unidos e Israel, e que as forças de segurança estão sendo injustiçadas. "Aqueles que atacam a polícia estão deixando os cidadãos do Irã vulneráveis a bandidos, ladrões e aproveitadores", disse ele.

O aiatolá ainda descreveu a morte de Amini como um "incidente amargo", que "partiu profundamente" o seu coração.

O número de vítimas nas manifestações até agora é incerto. Enquanto na semana passada a TV estatal havia confirmado a morte de 41 pessoas, incluindo membros das forças de segurança, a contagem mais atualizada da ONG Direitos Humanos do Irã é de 133 indivíduos.

No domingo, houve mais um episódio de repressão, com a prisão de dezenas de estudantes que protestavam contra a morte de Amini em uma universidade proeminente de Teerã.

Segundo a agência de notícias Mehr, os cerca de 200 universitários reunidos no local foram combatidos pela polícia com gás lacrimogêneo e armas de paintball ou carregadas com balas de aço não-letais. Muitos foram feridos, segundo imagens e vídeos divulgados nas redes sociais.

Amini, jovem da cidade curda de Saqez, foi presa neste mês pela polícia moral em Teerã por vestir trajes inadequados -os agentes são responsáveis por aplicar normas do rígido código de vestimenta da República Islâmica para mulheres.

Policiais alegaram que Amini sofreu um ataque cardíaco após ser detida e negam que ela tenha sido agredida. Ativistas afirmam, no entanto, que a abordagem policial em casos do tipo tem sido violenta, muitas vezes com espancamentos, e integrantes da própria família da jovem acusa as autoridades de mentirem, impedindo-os de ler o relatório de autópsia ou ver o seu corpo após a morte.

No Irã, após a Revolução de 1979, que abriu espaço para um regime teocrático, a lei passou a afirmar que mulheres são obrigadas a cobrir seus cabelos com o véu e usar roupas largas para encobrir o formato de seus corpos. Aquelas que descumprem a norma enfrentam repreensões públicas, multas e mesmo a prisão.