Colômbia e ELN chamam Brasil para atuar como garantidor das negociações de paz

Por Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O governo da Colômbia e a guerrilha ELN (Exército de Libertação Nacional) decidiram chamar nesta sexta-feira (25) representantes do Brasil, Chile e México para que atuem como garantidores das negociações de paz, que procuram encerrar cerca de 60 anos de conflitos. As partes também propuseram a participação dos Estados Unidos nas mesas de negociações.

As conversas, que estavam suspensas desde 2019, foram retomadas na segunda (21) em Caracas, na Venezuela, como resposta a promessas feitas por Gustavo Petro, que assumiu a Presidência em agosto. Sob seu governo, a Colômbia recentemente retomou os laços diplomáticos com o país liderado pelo ditador Nicolás Maduro, e a volta das negociações com o ELN faz parte da mesma lógica.

Após cinco dias de discussões, o governo colombiano e o ELN divulgaram comunicado em que relatam, em tom otimista, avanços em um "ambiente de confiança" entre as partes. Representantes dos três países latino-americanos devem se juntar a Cuba, Noruega e Venezuela no papel de fiadores dos processos de paz e da fiscalização dos compromissos assumidos.

O governo dos Estados Unidos também será encorajado a nomear um enviado especial para participar das mesas de negociações. "Concordamos em realizar ações diplomáticas com o governo dos EUA para saber sua disposição de participar desse processo", informou nota divulgada pela Noruega.

Antes, na terça (22), Pablo Beltrán, chefe da delegação do ELN, havia chamado de "nefasta" a participação dos EUA no processo anterior de paz na Colômbia, iniciado durante o governo do ex-presidente Juan Manuel Santos (2010 a 2018).

"O papel dos EUA na América Latina foi nefasto para os processos de paz. O que foi instalado na Colômbia, em 2016, teve a oposição de várias agências americanas", afirmou Beltrán. Desta vez, acrescentou, disse esperar que Washington tenha atitude "proativa e de apoio" em relação às conversas.

Já os europeus Alemanha, Suécia, Suíça e Espanha serão chamados para participar no processo como "países acompanhantes". Sem divulgar detalhes, o governo colombiano e o ELN também se comprometeram a promover ajudas humanitárias.

Durante a campanha eleitoral, Petro prometeu estabelecer a "paz total" na Colômbia, promovendo avanços em relação ao acordo firmado em 2016 com as Farc. A ideia do presidente esquerdista é que todos os envolvidos no conflito colombiano sejam ouvidos e tenham a possibilidade de cumprir penas reparatórias em troca de relatos sobre suas ações, o compromisso de não repeti-las e serviços às vítimas.

A estratégia recupera em certa medida a que havia sido adotada pelo então presidente Juan Manuel Santos, em 2016, ao estabelecer as negociações, baseadas no Equador. O político dizia acreditar que não haveria como reduzir os níveis de conflito no país apenas com a desmobilização das Farc.

Em 2019, porém, o ataque a uma escola de cadetes em Santander, no qual 22 estudantes morreram e mais de 70 pessoas ficaram feridas, desencadeou a interrupção das conversas com o ELN, já no governo de Iván Duque --que pensava diferente do antecessor e reforçou o discurso punitivista.

Considerada a última guerrilha em atividade no país, o ELN nasceu nos anos 1960 e é conhecido por ter, desde então, apego mais sistemático a ideias marxistas. Sua atuação se concentrou em sequestros, extorsões e participação no narcotráfico. O fim das Farc abriu novas rotas, facilitando a entrada da guerrilha em território venezuelano, onde hoje possui quartéis e acampamentos de treinamento.

Tentativas anteriores de negociação com o ELN, que tem cerca de 2.400 combatentes e foi fundado em 1964 por padres católicos radicais, não avançaram em parte por causa da dissidência dentro de suas fileiras. Os líderes do ELN dizem que o grupo está unido, mas não está claro quanta influência os negociadores têm sobre as unidades ativas.