OMS recebe novos dados de Covid na China que sustentam tese de subnotificação
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um dia depois de afirmar que a China não está mostrando em números o impacto real dos novos surtos de Covid-19 em seu território, a OMS (Organização Mundial da Saúde) recebeu novos relatórios do país asiático. Os dados sustentam a tese de que pode haver subnotificação dos efeitos da crise sanitária chinesa, em especial no número de mortes, e apontam alta de quase 50% no índice de hospitalizações em decorrência do coronavírus.
A partir das informações fornecidas por Pequim, a OMS contabilizou 218 mil novos casos e 648 mortes na semana encerrada em 1° de janeiro. No mesmo período, as autoridades chinesas confirmaram oficialmente apenas nove mortes.
Não está claro o motivo de tamanha discrepância (variação de 7.100%), mas alguns fatores podem explicá-la. Um deles é que a definição de mortes por Covid na China é diferente da de outros países -e o diretor de emergências bateu nessa tecla na quarta-feira (3) ao afirmar que é uma "definição muito estrita". Outro fator tem também peso geopolítico; a OMS inclui nos dados não apenas a China continental, mas Hong Kong, Macau e Taiwan -ilha que busca independência mas é considerada por Pequim uma província rebelde.
O relatório mais recente aponta um total de 22.416 hospitalizações por Covid na mesma semana, o que representa aumento de 47,85% em relação às 15.161 internações do período imediatamente anterior, embora ainda abaixo do pico histórico de quase 29 mil registrado no início de dezembro.
Pequim deixou de enviar relatórios à OMS depois de suspender a política de Covid zero, no início de dezembro. Em âmbito doméstico, dois dos principais órgãos de saúde do país, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) e a Comissão Nacional de Saúde (NHC) haviam anunciado que deixariam de divulgar informes diários sobre casos e mortes por Covid sob a alegação de que o fim das medidas mais restritivas na prática impossibilitavam um acompanhamento mais detalhado.
O apagão de dados, somado ao histórico de controle estrito sobre a circulação de informações no regime de Xi Jinping, acendeu alertas sobre a subnotificação dos efeitos da crise chinesa em meio a relatos de hospitais lotados, médicos forçados a trabalhar mesmo quando infectados e uma alta não totalmente explicada na demanda de serviços funerários.