Deputados dos EUA planejam pedir à Casa Branca deportação de Bolsonaro

Por PATRÍCIA CAMPOS MELLO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Deputados americanos pretendem se reunir nesta semana para discutir um pedido de deportação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está na Flórida. O democrata Raúl Grijalva afirmou à Folha de S.Paulo que boa parte da bancada do partido apoia a ideia de tirar o líder de extrema direita do país para que ele possa ser investigado e eventualmente julgado por seu papel nos ataques contra a democracia no Brasil.

A ideia é pedir à Casa Branca que inicie o processo. "É preciso tirar Bolsonaro dos EUA para que enfrente no Brasil as consequências de ter instigado os ataques à democracia no Brasil, de forma semelhante ao que o ex-presidente Donald Trump fez nos EUA e que culminou [na insurreição] no Capitólio", disse Grijalva. "Os brasileiros e a democracia do país têm o direito de julgar a responsabilidade de Bolsonaro."

Outros dois congressistas pediram publicamente a deportação de Bolsonaro -Joaquín Castro, que representa a minoria democrata no Comitê de Hemisfério ocidental, e Alexandria Ocasio Cortez (AOC). À CNN Castro afirmou que "os EUA não deveriam ser um refúgio para o autoritário que inspirou terrorismo doméstico no Brasil". Já AOC, no Twitter, afirmou: "Os EUA precisam deixar de dar guarida a Bolsonaro".

De acordo com Grijalva, basta uma decisão da Casa Branca e do Departamento de Segurança Doméstica, órgão que, para o democrata, decide "deportar inúmeras pessoas todos os dias, inclusive brasileiros pedindo refúgio com motivos legítimos para tal, mas que estão encurralados na fronteira com o México".

"O ex-presidente do Brasil não deveria ter o luxo de estar de férias nos EUA, tirando fotos da Flórida e fingindo que não está envolvido nos ataques à democracia. Ele precisa ser responsabilizado", disse. "Devemos fazer com ele o que o governo Trump sempre fazia com migrantes -removê-lo do país."

O democrata afirma que essa seria uma oportunidade para o presidente Joe Biden provar que sua defesa da democracia é consistente. O presidente americano realizará a segunda edição da Cúpula para a Democracia, nos EUA, no final de março. "O que aconteceu no dia 6 de janeiro de 2021 nos EUA está sendo exportado, e o Brasil é o exemplo mais gritante; Biden deveria enviar a mensagem de que estamos comprometidos com a defesa da democracia não apenas no nosso país."

Para o congressista, as ligações entre as duas insurreições são inegáveis -elas compartilham a mesma narrativa de eleição roubada e fomentam ressentimentos políticos e culturais, além de mentiras que "criaram o que vimos neste domingo em Brasília e o que vimos no 6 de Janeiro dois anos atrás".

"Os esforços para responsabilizar Trump no sistema judicial dos EUA por seu papel nos ataques contra o Capitólio continuam. Até agora, ele conseguiu evitar a responsabilização", disse.

Grijalva afirmou ainda que a extradição também seria uma opção, caso o governo brasileiro faça um pedido. "O Brasil tem uma democracia que merece ser defendida, e estamos prontos para ajudar."