Ataque com facão na Espanha recoloca imigração ilegal em pauta na Europa

Por IVAN FINOTTI

MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) - O ataque que matou a golpes de facão um sacristão e feriu um padre na quarta-feira (25) em Algeciras, no sul da Espanha, recolocou nos holofotes a questão da imigração irregular na Europa.

Por acaso, ministros da União Europeia já tinham uma reunião marcada nesta quinta (26) para discutir maneiras de conter as entradas ilegais e enviar mais migrantes de volta aos países de origem. A conversa aconteceu duas semanas antes de uma cúpula, com líderes do bloco em 9 e 10 de fevereiro, que pode estabelecer novos parâmetros para o tema.

O suspeito, Yassin Kanja, 25, natural do Marrocos, encontrava-se na Espanha em situação irregular. Em 16 de junho passado, foi detido em Cádiz, e a polícia constatou que ele não tinha a documentação necessária para residência. Automaticamente, os trâmites de expulsão foram iniciados, mas, como o homem não tinha antecedentes criminais e tinha endereço fixo, o processo se arrastou sem que ele deixasse o país.

Após a detenção, o marroquino poderia ter sido transferido para um Centro de Internação de Estrangeiros, para que, em até 60 dias, fosse enviado ao Marrocos. Nos casos em que o processo não é concluído no prazo, o processo continua com os migrantes em liberdade.

Kanja não tinha ligações conhecidas com terrorismo, mas rastros de chats jihadistas foram encontrados pela polícia em seu celular. Nos ataques, segundo algumas testemunhas, ele teria gritado frases como "morte aos cristãos" e "Alá é grande".

A polícia revelou que o suspeito já havia sido expulso do país. Em 5 de agosto de 2019, ele atravessou o estreito de Gibraltar com outros marroquinos, mas o grupo foi interceptado e devolvido ao país africano três dias depois. Não se sabe quando ele conseguiu efetivamente entrar na Espanha.

Segundo a agência de fronteira da UE, a Frontex, cerca de 330 mil imigrantes entraram no continente de forma ilegal em 2022, o maior número em seis anos, com um aumento acentuado na rota dos Bálcãs. "Temos um grande aumento de chegadas irregulares", disse a comissária de Assuntos Internos da UE, Ylva Johansson, na conversa com os 27 ministros da Migração do bloco nesta quinta, em Estocolmo.

"Temos uma taxa de retorno muito baixa e posso ver que podemos fazer um progresso significativo aqui", afirmou, segundo relato da agência de notícias Reuters. Hoje, só cerca de um quinto dos migrantes é enviado de volta. Mais pressão por meio de vistos e ajuda para o desenvolvimento de cerca de 20 países que a UE considera não cooperar na retomada de seus cidadãos foram alguns dos temas tratados.

Desde 2015, quando mais de 1 milhão de refugiados tentaram se estabelecer na Europa, o bloco vem reforçando fronteiras e leis de asilo. Uma das sugestões, vista como tabu mas que vem tomando corpo, é a construção de muros, a exemplo do que o ex-presidente dos EUA Donald Trump fez de forma um tanto mambembe na fronteira americana com o México.

Fala-se, por exemplo, em um bloqueio separando Turquia e Bulgária. O ministro da Justiça e Segurança da Holanda, Eric van der Burg, disse estar aberto ao financiamento da UE para barreiras fronteiriças.

Enquanto muitas nações protestam contra a imigração irregular, em especial se feita por muçulmanos do Oriente Médio e do norte da África, a Alemanha acena no sentido contrário. Segundo a ministra do Interior, Nancy Faeser, o país precisa de trabalhadores de fora do bloco. "Queremos concluir acordos de migração, particularmente com países do norte da África, que permitiriam uma rota legal para a Alemanha."

Correndo por fora, por ter saído da UE, o Reino Unido segue com seu ruidoso plano de enviar a Ruanda imigrantes que aportarem de maneira irregular. O país fica a 7.000 km de Londres, no centro da África, e tem o 160º pior IDH do mundo.

A ideia foi recebida com horror pela oposição trabalhista. Mas, no mês passado, em uma vitória para o premiê Rishi Sunak, a Justiça britânica considerou que o projeto não fere nem a legislação de direitos humanos do país, de 1998, nem a Convenção da ONU sobre Refugiados, de 1951.