Biden chama de ultrajante ação policial que matou homem negro após Memphis divulgar vídeo
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente dos EUA, Joe Biden, manifestou indignação e disse ter ficado "profundamente dolorido" ao ver as gravações que registraram agressões a Tyre Nichols, um homem negro de 29 anos, em uma abordagem policial. Nichols morreu em 10 de janeiro, três dias depois da ação, que teve as imagens divulgadas na noite desta sexta-feira (27).
O democrata descreveu a conduta dos policiais de ultrajante. "Como muitos, fiquei indignado e profundamente triste ao ver o vídeo horrível do espancamento que resultou na morte de Nichols", disse Biden, em comunicado, no qual voltou a cobrar do Congresso a aprovação da lei nomeada em homenagem a George Floyd, que prevê uma série de reformas policiais e ficou travada no Senado.
Segundo o presidente, a família de Nichols merece que o caso seja investigado a fundo e de forma transparente.
As imagens divulgadas nesta sexta foram registradas por câmeras de vigilância das ruas de Memphis, no estado do Tennessee, e por uma câmera corporal acoplada no uniforme de um agente envolvido na ação.
Elas mostram que Nichols foi abordado inicialmente dentro de seu carro. Um agente puxa ele para fora do veículo, enquanto o homem diz que queria apenas ir para casa e que não havia feito nada. Depois de ser jogado no chão, ele consegue se desvencilhar e fugir. Um policial parece falhar ao usar uma arma de choque para evitar a fuga.
Outro vídeo, de uma câmera de segurança, mostra Nichols cercado pelos agentes, aparentemente no momento em que foi recapturado. Nesse momento ocorrem as agressões mais fortes, com o homem aparentemente resistindo em ser algemado. Um agente dá ao menos cinco socos no rosto de Nichols, enquanto outro segura as mãos dele por trás; em outro momento, o homem é atingido por dois chutes na cabeça. Os agentes também usaram spray de pimenta e cassetetes para as agressões.
Segundo a rede CNN, foram ao menos nove agressões em um período de quatro minutos. Os vídeos também mostram Nichols gritando pela mãe enquanto está imobilizado no chão -a casa dela estaria a cerca de 100 metros de onde tudo aconteceu.
Os cinco policiais envolvidos no caso foram formalmente acusados de assassinato nesta quinta (26). As cenas não permitem saber detalhes de por que Nichols foi parado pelos agentes, mas sua divulgação desencadeou protestos em diferentes cidades dos EUA, incluindo a própria Memphis e Nova York --as autoridades demonstraram antes algum grau de preocupação com esses atos, pedindo por calma.
A autópsia oficial do caso ainda não foi concluída, mas advogados da família disseram em entrevista à CNN americana que um exame médico constatou que Nichols foi severamente espancado. "Nenhuma mãe deve passar pelo que estou passando agora -perder seu filho da forma violenta que eu perdi o meu", disse RowVaughn Wells em entrevista coletiva nesta sexta.
Os cinco policiais foram identificados como Tadarrius Bean, Demetrius Haley, Emitt Martin 3º, Desmond Mills Jr. e Justin Smith. Suas idades variam de 24 a 32 anos e seus tempos de serviço em Memphis vão de dois anos e meio a cinco anos. Eles faziam parte de uma unidade especializada que patrulhava áreas de alta criminalidade da cidade, a segunda maior do estado do Tennessee -e onde mais de 60% dos 630 mil habitantes são negros.
Além das acusações de homicídio, os cinco responderão por agressão e sequestro, ambos com agravantes, má conduta oficial e opressão oficial.
Todos foram demitidos no sábado (21), após investigação interna no departamento concluir que violaram os protocolos, usaram força excessiva, falharam na abordagem e não prestaram socorro. Eles também foram detidos na manhã de quinta, mas, segundo o jornal americano The New York Times, acabaram liberados nesta sexta-feira (27) depois de pagarem fianças que variaram entre US$ 250 mil (R$ 1,3 milhão) e US$ 350 mil (R$ 1,8 milhão).