Putin reitera ameaça nuclear em Stalingrado e volta a associar Ucrânia ao nazismo

Por IVAN FINOTTI

MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) - O presidente da Rússia, Vladimir Putin, fez da comemoração dos 80 anos da batalha de Stalingrado uma oportunidade para atacar a Ucrânia e seus aliados do Ocidente --exatamente como era esperado. O chefe do Kremlin visitou a cidade, palco da disputa mais sangrenta da Segunda Guerra Mundial e agora chamada de Volgogrado, e reiterou o discurso de que sua ofensiva no país vizinho seria parte de uma luta renovada contra grupos neonazistas.

"De novo e de novo temos que repelir a agressão do Ocidente. É incrível, mas é um fato: estamos novamente sendo ameaçados por tanques Leopard alemães com cruzes neles", disse Putin a uma audiência formada por oficiais do Exército e por membros de grupos patrióticos locais. O líder russo faz dupla referência: aos blindados anunciados por membros da Otan como reforço ao arsenal de Kiev e aos símbolos utilizados por forças ucranianas que guardam semelhanças com insígnias nazistas.

"Infelizmente, vemos que a ideologia do nazismo em sua forma e manifestação modernas novamente ameaça diretamente a segurança de nosso país", prosseguiu Putin em seu discurso. Não é a primeira vez que o russo ou membros do alto escalão do Kremlin associam a Ucrânia ao neonazismo, mas, desta vez, o local das declarações não poderia ser mais sugestivo.

Quando Putin emprega argumentos atrelando Volodimir Zelenski e seu governo ao nazismo, porém, ele utiliza uma definição ligeiramente diferente da mais comum no Ocidente. Seria, segundo especialistas, uma perspectiva stalinista que tacha de nazista algo que quer destruir a União Soviética --ou, agora, o que sobrou dela.

A associação com o nazismo é rechaçada por Zelenski, que é judeu, e não é levada a sério por nenhum país do Ocidente, que, ao contrário, entende que a Rússia é a agressora desta vez. Na Segunda Guerra, aliás, a Ucrânia ainda era parte da União Soviética e sofreu parte da devastação perpetrada pelos exércitos alemães.

Stalingrado foi o ponto de virada da Segunda Guerra. Foi a partir dessa vitória que a União Soviética de Josef Stálin (1878-1953) começou a avançar sobre a Alemanha de Adolf Hitler (1889-1945), quase um ano e meio antes do Dia D (6 de junho de 1944), quando os Aliados invadiram a França ocupada.

A batalha, que matou mais de 1 milhão de pessoas, começou em 17 de julho de 1942 e terminou em 2 de fevereiro de 1943, com a capitulação do marechal de campo Friedrich von Paulus, chefe do 6º Exército alemão.

Nas comemorações dos 80 anos, houve um desfile da vitória, com tanques modernos e dos anos 1940, enquanto aviões sobrevoavam a cidade. Além disso, um busto de bronze de Stálin foi inaugurado, e as placas de chegada à cidade foram temporariamente substituídas de Volgogrado por Stalingrado.

No discurso inflamado, Putin evocou o espírito dos defensores de Stalingrado ao afirmar que a batalha foi símbolo da "natureza indestrutível" do povo russo e voltou a dizer que está pronto para recorrer a todo o arsenal da Rússia, que inclui armas nucleares.

"Aqueles que atraem países europeus, incluindo a Alemanha, para uma nova guerra e esperam obter uma vitória sobre a Rússia no campo de batalha, aparentemente não entendem que uma guerra moderna com a Rússia será bem diferente para eles", afirmou Putin, em tom de ameaça, reiterando que Moscou tem meios para responder a potenciais investidas do Ocidente.

Putin compareceu várias vezes ao aniversário da Batalha de Stalingrado. Em outros anos, membros do Parlamento alemão também participaram dos eventos comemorativos. Desta vez, é claro, não foram convidados.