Justiça britânica retira nacionalidade de mulher que se juntou ao Estado Islâmico
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Justiça britânica confirmou nesta quarta-feira (22) a revogação da nacionalidade de Shamima Begum, uma ex-cidadã do Reino Unido que fugiu aos 15 anos para entrar no grupo terrorista Estado Islâmico (EI), na Síria.
Hoje com 23 anos, Shamima permanece na Síria e havia recorrido da decisão. A defesa alega que ela foi vítima do tráfico organizado do EI que a teria obrigado a se casar com um membro do grupo.
Shamima faz parte de um grupo que ficou conhecido como "noivas do Estado Islâmico" --mulheres que foram cooptadas para se unir aos terroristas, a maioria delas durante a adolescência e sob falsas promessas de boas condições de vida.
O governo britânico alegou motivo de segurança nacional para cancelar a cidadania da mulher em 2019, logo depois que ela foi encontrada em um campo de detenção na Síria. O caso dividiu a opinião pública devido a idade da jovem.
Shamima, cuja família tem origem em Bangladesh, casou-se com um militante do Estado Islâmico holandês e teve três filhos na Síria --nenhum sobreviveu. Ela foi capturada pelos curdos em 2019 em Baghuz, às margens do rio Eufrates, e mantida em campos de prisioneiros no nordeste sírio.
O Ministério do Interior britânico divulgou um comunicado informando estar "satisfeito" com a decisão. Já a defesa de Shamima e organizações internacionais se manifestaram contra o veredicto.
"Já não há proteção para uma criança britânica que é vítima do tráfico de menores fora do Reino Unido quando o ministro do Interior invoca a segurança nacional", disseram os advogados da mulher, Gareth Pierce e Daniel Furner, acrescentando que eles vão recorrer da decisão.
A Anistia Internacional também criticou a sentença. "O poder de banir um cidadão não deveria existir no mundo moderno, especialmente quando se trata de uma pessoa que foi gravemente explorada quando criança", disse a organização.
Em entrevista à BBC Shamima se disse arrependida e contou que, assim que chegou ao país, percebeu que o Estado Islâmico estava "prendendo pessoas" para "ficar bem em vídeos" de propaganda. A jovem disse ainda que não entende a raiva das pessoas contra ela. "Acho que [a raiva] é contra o Estado Islâmico. Quando eles pensam no EI, pensam em mim porque fui muito divulgada", disse.
Após o desmantelamento da organização jihadista, muitas das "noivas do Estado Islâmico" tentaram voltar a seus países de origem. Parte das que conseguiram foram processadas por traição --o Estado Islâmico assumiu vários atentados terroristas que deixaram mortos em países europeus.