Cúpula de Israel e palestinos faz promessas criticadas por membros do próprio governo

Por Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Diante da recente escalada de violência na Cisjordânia, autoridades israelenses e palestinas se reuniram neste domingo (26), na Jordânia, para discutir medidas com o objetivo de reduzir a tensão na região. Após o encontro, Israel anunciou que vai suspender de forma temporária a expansão de assentamentos, em decisão criticada por membros da coalizão ultradireitista liderada pelo premiê Binyamin Netanyahu.

O governo israelense se comprometeu a não construir assentamentos por quatro meses. Moradias já existentes não serão regularizadas pelos próximos seis meses. Os prazos podem ser prorrogados.

Em comunicado, o governo de Israel e a Autoridade Nacional Palestina (ANP) prometeram ainda, após "discussões profundas e francas", a trabalhar de forma conjunta para intensificar os esforços contra novos atos de violência na região. "Os entendimentos representam progresso para aprofundar as relações entre os dois lados", diz trecho do texto.

O encontro incluiu ainda autoridades dos EUA, do Egito e da Jordânia. Entre os participantes estavam o diretor dos serviços de inteligência palestinos, Majed Faraj, o diretor do serviço de inteligência interno israelense, Ronen Bar, e o coordenador do Conselho Nacional de Segurança americano para o Oriente Médio, Brett McGurk. Foi a primeira vez em anos que autoridades israelenses e palestinas se reuniram para discutir assuntos relacionados à segurança.

A Cisjordânia é um território palestino ocupado por Israel desde 1967. Mais de 475 mil israelenses moram em assentamentos na região, onde vivem aproximadamente 3 milhões de palestinos.

A expansão dos assentamentos foi uma promessa de campanha de Netanyahu, que lidera o governo mais à direita da história de Israel, com a participação de líderes nacionalistas. Nos últimos dias, aliados do premiê vinham pressionando pela construção de moradias como resposta aos ataques em Jerusalém.

Durante o encontro na Jordânia, dois israelenses foram mortos a tiros no norte da Cisjordânia, em ataque descrito por Israel como "ato terrorista". Autoridades israelenses afirmaram que o atirador é palestino, e que o Exército estava "perseguindo o terrorista e bloqueando áreas". Forças de segurança foram mobilizadas para inspecionar os veículos nas principais vias da região.

O episódio engrossa as estatísticas de violência nos últimos dias. As tensões na região aumentaram em janeiro, com a morte de dez palestinos durante uma ação do Exército israelense na Cisjordânia. À época, autoridades israelenses disseram ter trocado tiros com militantes da Jihad Islâmica e do Hamas, grupos considerados terroristas por diversos países ocidentais.

A Autoridade Palestina -concebida como um governo de transição até o estabelecimento de um Estado- disse que inocentes foram mortos na ação e que encerraria sua parceria com Israel na área da segurança. A cooperação, que já foi interrompida em outros momentos de crise, era considerada por muitos como responsável por impedir ataques contra Tel Aviv e por manter certa estabilidade na Cisjordânia.

Desde então, vários ataques foram registrados na Cisjordânia. Em um dos mais mortais, sete pessoas foram mortas a tiros em frente a uma sinagoga, em Jerusalém Oriental, no mês passado.

Após o encontro deste domingo, o ministro das Finanças de extrema direita de Israel confrontou a decisão do governo israelense de suspender a construção de assentamentos na Cisjordânia. "Não haverá congelamento na construção e desenvolvimento de assentamentos, nem por um dia (está sob minha autoridade)", escreveu Bezalel Smotrich nas redes sociais.

Já grupos de oposição palestinos, incluindo o Hamas, criticaram a decisão do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, de participar do encontro. O partido Fatah, de Abbas, comunicou que considera a reunião necessária para "tomar decisões difíceis e assumir a responsabilidade" com o objetivo de evitar mais mortes palestinas.

A reunião na Jordânia foi realizada a poucos dias do Ramadã (mês sagrado muçulmano), que começa no final de março e é um momento de preocupação para as autoridades.

Países do Ocidente criticaram nesta terça-feira (14) a decisão do governo de Israel de expandir os assentamentos na Cisjordânia num momento de tensão crescente na região. Em comunicado conjunto, as chancelarias de Alemanha, França, EUA, Itália e Reino Unido disseram que a medida irá exacerbar a crise entre israelenses e palestinos, já agravada após uma série de ataques nas últimas semanas.

O anúncio da suspensão dos assentamentos acontece ainda num momento em que o governo Netanyahu enfrenta protestos desencadeados por um projeto que ameaça a autonomia do Judiciário do país. Neste sábado (25), mais de 100 mil cidadãos se reuniram em cidades do país para protestar contra a proposta.

Desde o início do ano, ao menos 60 palestinos, a maioria militantes e alguns civis, de acordo com autoridades israelenses, e dez civis israelenses e um policial, foram mortos na onda de violência na região.