Manifestantes marcham a favor de Netanyahu e de sua reforma judicial em Israel
BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) - Apesar das crescentes acusações de que a reforma judicial proposta pelo primeiro-ministro Binyamin Netanyahu representa um perigo para a democracia em Israel, milhares de manifestantes foram às ruas de Tel Aviv nesta quinta-feira (30) para demonstrar apoio ao premiê.
"A nação exige reforma legal", gritavam os israelenses que participaram do protesto de direita. Eles carregavam a bandeira azul e branca do país, marcada pela característica Estrela de Davi.
A polícia israelense disse que estava respondendo a um grupo que bloqueou a rodovia Ayalon, até então palco de manifestações frequentes daqueles que veem no projeto de Netanyahu uma ameaça à independência judicial.
No início da semana, o primeiro-ministro anunciou um adiamento estratégico da reforma, a fim de buscar um consenso entre governo e oposição. Votações de alguns pontos do projeto, que, em geral, muda as regras de nomeação dos juízes da Suprema Corte e permite que o Parlamento derrube decisões da Justiça, agora ficam marcadas para o final de abril.
Também nesta quinta-feira, a nova chefe da ONG Human Rights Watch (HRW), Tirana Hassan, afirmou que o governo de Israel está em "ataque" contra os direitos humanos. Em entrevista à agência de notícias Reuters, ela pediu que os Estados Unidos e outros aliados façam mais para responsabilizar o país por supostos abusos e persuadi-lo a mudar o rumo que vem tomando.
"Com o estado atual do governo israelense e os ataques ao Judiciário em particular, vemos que este não é um governo compatível com os direitos humanos", disse Hassan, que classificou a reforma judicial proposta por Netanyahu como um "desastre".
As declarações foram vistas com desdém pelo principal porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Lior Haiat. "Este é um exemplo incrível de como ela [Hassan] e a organização são tendenciosas", afirmou. O ministro argumenta que Israel é "uma democracia forte e vibrante", e justifica sua afirmação citando os próprios protestos massivos contra a reforma. "Centenas de milhares de pessoas estão se manifestando nas ruas. Sem violência. Protegidas pela polícia. É assim que funciona uma verdadeira democracia."
Os protestos, no entanto, ocorrem sob forte repressão policial. No dia 9 de março, data considerada como o "dia de resistência" contra a reforma judicial, pelo menos 22 pessoas foram detidas em Tel Aviv e Jerusalém após registros de confrontos com os agentes de segurança. O presidente israelense, Isaac Herzog, chegou a propor uma reforma alternativa, temendo a explosão de uma guerra civil no país.
As polêmicas que envolvem Israel não se limitam à proposta de reforma judicial. Ainda nesta quinta, promotores israelenses indiciaram dois colonos judeus por terrorismo e vandalismo no que descreveram como um ataque a palestinos num vilarejo da Cisjordânia ocupada.
Durante o festival judaico de Purim, celebrado no dia 6 de março, os suspeitos, ambos homens na casa dos 20 anos, atacaram carros e seus ocupantes em Huwara com pedras e um machado, gritando "Morte aos árabes!". Dois palestinos ficaram feridos, diz a acusação.
Lesões corporais graves podem acarretar uma pena de até 20 anos de prisão no país, enquanto a pena máxima prevista para vandalismo é de cinco anos. No entanto, de acordo com o grupo de vigilância israelense Yesh Did, 93% das investigações sobre suposta violência de colonos entre 2005 e 2022 foram encerradas sem indiciamentos.
A situação em Huwara preocupa a comunidade internacional. No final de fevereiro, centenas de colonos israelenses realizaram uma incursão na cidade em vingança por dois assassinatos de conterrâneos. Um incêndio provocado por eles atingiu cerca de 30 casas e cem veículos, deixando mais de 350 moradores feridos. Em Zaatara, uma cidade próxima, um colono israelense matou um palestino de 37 anos a tiros.
A violência aumentou na Cisjordânia nos últimos meses, especialmente entre os territórios onde os palestinos buscam um Estado. Os incidentes de fevereiro ofuscaram uma reunião organizada pela Jordânia entre autoridades israelenses e palestinas com o objetivo de acalmar a situação. Posteriormente, o comentário de um ministro israelense de ultradireita de que Huwara deveria ser "apagada" apenas alimentou a preocupação ocidental.
Num relatório de 2021, a Human Rights Watch rotulou o tratamento de Israel aos palestinos e a ocupação israelense no local como "apartheid". Grupos israelenses se defenderam dizendo que o HRW e outros grupos de direitos humanos são preconceituosos com o país em suas publicações.
Nesta quinta, a relatora especial da ONU sobre direitos humanos nos territórios ocupados disse, em Genebra, que a situação na região estava se deteriorando. "Tenho visto formas crescentes de humilhação e indignidades impostas aos palestinos, um fortalecimento da arquitetura sufocante", ela afirmou em comentários separados na reunião das Nações Unidas.