Manifestantes incendeiam cafeteria favorita de Macron em Paris

Por Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Milhares de manifestantes contrários à reforma da Previdência da França voltaram, nesta quinta-feira (6), a ir às ruas do país para pedir o fim do projeto de lei que aumenta a idade mínima para a aposentadoria. Em Paris, um sinalizador atingiu uma das cafeterias favoritas do presidente francês, Emmanuel Macron, e incendiou o toldo do estabelecimento.

O La Rotonde é conhecido na França por ter oferecido um jantar comemorativo a Macron quando ele liderou o primeiro turno da eleição presidencial de 2017. O restaurante é caro e, na época, vários eleitores criticaram a ostentação do então candidato, chegando a compará-lo ao ex-presidente francês Nicolas Sarkozy -tratado como playboy pela mídia francesa.

"Temos a impressão de que estamos diante de um governo surdo e que Emmanuel Macron não está nem um pouco interessado no que está acontecendo em seu próprio país", disse à AFP Elise Bouillon, estudante de Arquitetura e Urbanismo. O presidente francês está em Pequim, onde se encontrou nesta quinta com o líder chinês, Xi Jinping.

A maioria dos protestos é pacífica, embora cenas de violência tenham sido registradas nas periferias. Nesta quinta, por exemplo, uma agência bancária do Credit Agricole foi saqueada em Paris, onde alguns manifestantes também jogaram garrafas e tinta em policiais. Oito pessoas foram presas na capital francesa.

Os principais alvos dos protestos tem sido, justamente, o presidente francês, além da primeira-ministra do país, Élisabeth Borne. "Greve, bloqueio, Macron vai embora!", gritavam manifestantes na cidade de Rennes, no oeste do país, onde a polícia disparou gás lacrimogêneo contra os manifestantes, que revidaram incendiando latas de lixo.

Líderes sindicais e manifestantes dizem que a greve nacional e os protestos só serão interrompidos quando o governo suspender a tramitação da reforma, o que Macron e Borne já disseram que não farão.

As últimas negociações entre governo e sindicatos não avançaram. "Dissemos mais uma vez à primeira-ministra que não poderia haver outro resultado democrático da reforma que não fosse a retirada do texto pelo governo", disse na quarta (5) Cyril Chabanier, da Confederação Francesa de Trabalhadores Cristãos. "Ela respondeu que manteria seu texto, o que é uma decisão séria."

De sua parte, Borne descreveu a reunião como "importante", "mesmo que nossas discordâncias sobre a idade não permitissem discussões aprofundadas".

O texto eleva a idade mínima para aposentadoria dos franceses de 62 para 64 anos até 2030 e prolonga os anos de contribuição para acesso à pensão integral, de 42 para 43 anos, já a partir de 2027.

Depois de aprovada por meio do artigo 49.3 da Constituição da França, que aprova textos mesmo sem a votação parlamentar, a reforma está sob análise do Conselho Constitucional do país. O conselho deve emitir um parecer sobre a constitucionalidade do projeto e de seu trâmite na semana que vem.

"A mobilização vai continuar, de uma forma ou de outra. É uma corrida de longa distância", disse Sophie Binet, líder do CGT, uma das maiores centrais sindicais do país.

Mas o governo tem algo para comemorar: segundo a agência de notícias Reuters, as autoridades francesas acreditam que as manifestações estão perdendo força.

Os trens, por exemplo, foram menos interrompidos nesta quinta do que nos dias anteriores. Paralelamente, menos professores estavam em greve, e a autoridade da aviação civil pediu às companhias aéreas que reduzissem os voos em 20% em cidades como Marselha, mas não nos aeroportos de Paris, como ocorreu nas greves anteriores.

Seja como for, Macron não deve ter ficado nada satisfeito com as cenas de seu restaurante favorito pegando fogo. A faixa de um manifestante em Paris já havia avisado o presidente: "Macron, você nos ouvirá até na China".