Presença de Harry sem Meghan na coroação reabre feridas na família real

Por IVAN FINOTTI

MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) - O príncipe William, primeiro na linha sucessória para herdar o trono de Charles 3º, será um personagem atuante na coroação que acontece neste sábado (6), na Abadia de Westminster, em Londres.

Ele se ajoelhará diante do pai, que já terá sido coroado, colocará as mãos entre as do rei e recitará a Homenagem do Sangue Real: " Eu, William, príncipe de Gales, vos prometo minha lealdade, e fé e verdade vos darei, como vosso vassalo de vida e vossa extensão. Então, ajude-me, Deus".

No entanto, ao irmão mais novo, Harry, nenhum papel foi reservado. Ele irá à coroação, mas não estará com a mulher, a ex-atriz americana Meghan Markle, e tampouco ficará muito tempo pelo Reino Unido.

Ele chegará a Londres apenas nesta sexta (5) e dormirá uma única noite na cidade. Estará na Abadia de Westminster entre 11h e 13h (7h e 9h em Brasília) para a coroação e dará no pé menos de duas horas depois. É esperado que seu avião decole para a Califórnia entre 14h e 15h para uma viagem de dez horas.

A razão oficial para tanta pressa é que Harry quer estar em casa na noite do sábado, quando seu filho mais velho, Archie, fará quatro anos. Por outro lado, Charles ser coroado bem nesse dia dá o que pensar.

São velhas feridas sendo reabertas; feridas que apareceram em janeiro de 2020, quando o segundo filho de Charles e Diana Spencer (1961-1997) anunciou que estava se afastando de seu papel na monarquia.

Dias depois, a família real divulgou um comunicado dizendo que o príncipe Harry e Meghan, a duquesa de Sussex, não só deixariam de representar a rainha como se tornariam financeiramente independentes.

À época do anúncio, 95% da renda do casal vinha de uma mesada dada por Charles, como parte de sua renda do Ducado da Cornualha. Eram £ 2,3 milhões (R$ 14,5 milhões) ao ano. É provável que esse tenha sido o estopim para que Harry tomasse algumas decisões que fariam a festa da mídia nos anos seguintes.

O primeiro baque foi a entrevista dada a Oprah Winfrey em março de 2021. Ali, Meghan afirmou que havia preocupações sobre o quão escura seria a cor da pele do filho do casal. Segundo a duquesa, a família mantinha essas conversas com Harry, que as relatava à esposa -ela não revelou os envolvidos.

O assunto surgiu quando a ex-atriz contou que, ainda grávida, foi informada pela realeza de que Archie não se tornaria príncipe. Sem o título, ele não receberia segurança oficial. Membros do alto escalão da família real britânica se reuniram para discutir a crise provocada pela entrevista, e Elizabeth 2ª disse que as acusações de racismo tornadas públicas seriam "levadas muito a sério". "A família inteira fica triste ao saber como os últimos anos foram desafiadores para Harry e Meghan", disse o comunicado da rainha.

O ano de 2022 foi muito difícil para a realeza britânica. Nos primeiros meses, o príncipe Andrew, irmão de Charles, fez um acordo financeiro com uma mulher que o acusava de abuso sexual quando ela era menor de idade. Como consequência, teve seus títulos destituídos pela mãe.

Em setembro, a rainha morreu -e Andrew foi um estorvo para a família naquele momento. Mesmo assim, é esperado que ele compareça à coroação, mas não sua ex-mulher, Sarah Ferguson, a duquesa de York.

E, em dezembro, a Netflix lançou uma série documental em seis episódios sobre Harry e Meghan que critica o "racismo inconsciente" da coroa britânica e afirma que assessores da família real orquestravam ataques contra eles, plantando histórias e vazando notícias, no que o casal classificou de "jogo sujo".

Dias depois, em 10 de janeiro deste ano, o filho mais novo de Charles lançou o livro de memórias "Spare" ("O que Sobra", publicano no Brasil pela Companhia das Letras), no qual ele conta que experimentou cocaína aos 17 anos e matou 25 talibãs durante missões militares no Afeganistão. Em um trecho, ele afirma que, durante um desentendimento na cozinha de sua casa em Londres, William chamou Meghan de "difícil", "grosseira" e "ríspida", antes de agarrar o irmão pela gola e jogá-lo no chão.

Haverá muita segurança em torno da coroação, com o centro de Londres fechado para acomodar líderes internacionais de todo o mundo. E o fato de Harry ter dito que matou 25 talibãs enquanto servia as forças britânicas deixou a segurança do evento de sobreaviso contra a possibilidade de terrorismo.

Após o lançamento do livro, ele foi criticado por se referir aos mortos como "peças de xadrez", mas disse que as alegações de que estava se gabando ao escrever sobre as mortes são uma "mentira perigosa" e acusou a imprensa de colocar suas falas fora do contexto, o que, para ele, deixou sua família em perigo.

"Meu número: 25. Não foi um número que me deu satisfação. Mas também não me deixou envergonhado", escreveu. "Naturalmente, preferia não ter esse número em meu currículo militar, em minha mente, mas, da mesma forma, teria preferido viver em um mundo em que não houvesse Talibã, sem guerra...", escreveu.

"Enquanto estava no calor e na névoa do combate, não pensei naqueles 25 como pessoas. Você não pode matar pessoas se pensar nelas como pessoas. Não pode ferir pessoas se pensar nelas como pessoas. Eram peças de xadrez removidas do tabuleiro, os Maus retirados antes que pudessem matar os Bons."