Irmã mais velha carregou mochila com água, lanterna e celulares para sobreviver na Colômbia
BUENOS AIRES, ARGENTINA E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Com apenas 13 anos, a menina Lesly Jacobombaire Mucutuy foi crucial para a sobrevivência dos irmãos perdidos por 40 dias na Amazônia colombiana após um acidente aéreo, segundo indígenas e militares que participaram das buscas. Eles foram resgatados na sexta (9) e continuam recebendo tratamento médico, fora de perigo.
A mais velha das quatro crianças carregou durante esse tempo uma mochila com uma espécie de toldo, uma toalha, uma lanterna ?cujas pilhas já estavam ficando fracas? e dois celulares que eles usavam, ao que parece, para se entreter à noite. Também levava uma garrafa de plástico de refrigerante que eles enchiam de água.
"Ficavam sempre perto de um rio. Andavam com uma garrafinha de refrigerante e ali carregavam a água na mochila", contou à imprensa local o indígena Henry Guerrero, que fez parte do grupo, do lado de fora do hospital militar onde os irmãos se recuperam, em Bogotá. "Lesly foi muito inteligente", afirmou.
Segundo ele, as crianças armaram uma pequena barraca com o toldo, a toalha e um pedaço de madeira onde o irmão de 5 anos, Tien Noriel, foi encontrado pela equipe de resgate, muito fragilizado e sem poder caminhar direito. Nicolás Ordóñez, da comunidade Murui, foi quem os viu primeiro.
"Eu disse a eles: somos família, viemos pelo seu pai, sua avó e suas tias", disse o indígena ao canal RTVC. Em resposta, recebeu um grande abraço de Lesly, que segurava Soleiny, 9, pela mão e carregava no colo a irmã Cristin, que completou um ano enquanto ainda eles estavam perdidos na selva.
Ordóñez conta que eles indicaram que estavam com fome e que perguntou rapidamente por Tien, que se levantou da tenda e disse, consciente: "Minha mãe morreu". A equipe afirmou então que a avó e o pai estavam vivos, e o menino respondeu que queria farinha com linguiça.
Eles sofreram o acidente no dia 1º de maio, enquanto fugiam de dissidentes do acordo firmado em 2016 entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que recrutam e aterrorizam os moradores da região. O avião foi encontrado pouco mais de duas semanas depois, preso entre árvores e com a parte frontal destruída.
Além dos menores, estavam a bordo três adultos. O corpo do piloto, Hernando Murcia Morales, foi achado na cabine da aeronave. Os militares não informaram até o momento onde estavam os corpos da mãe das crianças, Magdalena Mucutuy, e do líder indígena Herman Mendoza.
Segundo o pai das crianças, Manual Miller Ranoque, os filhos relataram que a mãe permaneceu viva por quatro dias após a queda. Eles primeiro se alimentaram de cerca de três quilos de farinha de mandioca que retiraram dos destroços, afirmou o general responsável pelo resgate, Pedro Sánchez.
"Dias após o acidente, eles comeram a farinha que haviam levado para lá. Depois, ficaram sem comida e decidiram procurar um lugar onde pudessem permanecer vivos", disse ele, segundo a CNN internacional. "Eles estavam desnutridos, mas totalmente conscientes e lúcidos quando os encontramos", acrescentou.
"Suas origens indígenas permitiram que eles adquirissem certa imunidade contra as doenças da selva e o conhecimento da própria selva. Saber o que comer e o que não comer, além de encontrar água para mantê-los vivos, o que não teria sido possível se eles não estivessem acostumados a esse tipo de ambiente hostil."
Após a farinha acabar, eles sobreviveram da ração que estava em um dos cem kits lançados por helicópteros militares na floresta, que duraram cerca de 15 dias. Depois que o pacote também terminou, comeram frutas e frutos da região. Tien Noriel, de 5 anos, carregava sementes chamadas de mil pesos quando foi encontrado.
"É uma semente da qual sai um suco muito bom quando se esmaga. Eles se mantinham comendo isso, porque a ração que o Exército lançou já tinha terminado, então começaram a comer frutas silvestres, como o guanaco [uma fruta grande e espinhosa que dá em árvores]", disse o indígena Henry Guerrero.
As crianças relataram ainda que encontraram o cachorro chamado Wilson das Forças Armadas. O pastor belga de 6 anos desapareceu no dia 18 de maio, enquanto os procurava. Segundo o general Pedro Sánchez, os irmãos contaram que ficaram três ou quatro dias com o animal, que estava magro.
Neste domingo (11), quando o comandante das Forças Armadas, general Helder Fernan Bonilla, foi visitar e se informar sobre a evolução da saúde dos menores, os dois mais velhos, Lesly e Soleiny, lhe entregaram dois desenhos retratando Wilson e a floresta.
Os militares continuam buscando o cão, enquanto as crianças recebem tratamento com alimentos leves, atendimento psicológico e cuidados tradicionais indígenas. A equipe média informou que elas devem ficar pelo menos duas semanas internadas.