Mercenários podem se juntar ao Exército ou ir para Belarus, diz Putin
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após costurar um acordo em que trocou anistia aos amotinados do grupo mercenário Wagner pelo fim de um levante armado inédita em seus 23 anos de poder, o presidente russo, Vladimir Putin, disse nesta segunda (26) que os rebelados poderão escolher entre submeter-se às Forças Armadas ou ir para Belarus.
Foi a primeira manifestação de Putin após a crise, que durou de sexta (23) a sábado (24), com seu ex-aliado Ievguêni Prigojin, o chefe da organização militar privada que atuas na África, na Síria e na Guerra da Ucrânia.
"A rebelião armada seria reprimida de qualquer forma. Eu agradeço aos soldados que tomaram a decisão de parar o derramamento de sangue", disse o presidente russo. Ele também agradeceu ao ditador Aleksandr Lukachenko "pela solução pacífica" encontrada em sua mediação da crise.
Com a decisão, sai vencedor da disputa o grupo do ministro da Defesa, Serguei Choigu, que por meses era alvo de críticas de Prigojin. Há duas semanas, ele lançou o decreto obrigando a assinatura de contrato por mercenários, o que o líder do Wagner rejeitou, dando início à crise atual.
Restará sempre saber se Prigojin foi atraído a radicalizar para aí ser enquadrado ou se, como disse mais cedo, resolveu tomar o assunto em suas próprias mãos e "marcar até Moscou". Ainda há a possibilidade, nunca descartável na intrincada política russa, de o mercenário ter arranjado sua saída do guarda-chuva da Defesa russa e encontrar o beneplácito em Belarus, ainda assim servindo ao Kremlin.
"Qualquer motim irá falhar", afirmou o presidente em um pronunciamento seco de cinco minutos, que frustrou quem esperava alguma dramaticidade adicional aos fatos que se sucederam de forma vertiginosa nos últimos dias. Ao fim, Putin buscou dar baixar a temperatura dos eventos, ainda que tenha admitido "a grave situação" a que o país foi submetido.
Na tarde de sábado, havia helicópteros e pelo menos um avião russo abatidos pelo Wagner, cujos pilotos mortos foram homenageados por Putin, e uma coluna armada do grupo chegou a cerca de 400 km de Moscou após Prigojin tomar para si o Comando Militar do Sul, em Rostov-do-Don.
Ao desenhar o que deve ser o destino do Grupo Wagner, que já estava montando um campo grande para 8.000 soldados na ditadura aliada de Moscou de Belarus, Putin voltou a dizer que quem participa de sublevações é "um traidor".
Ele havia usado o termo contra Prigojin e os rebeldes em uma fala no sábado, antes de acabar cedendo e prometendo a anistia que confirmou na TV russa. E ainda distribuiu elogios aos soldados do Wagner, considerados alguns dos melhores de Rússia, sobre os quais disse haver "muitos patriotas".
Prigojin nunca disse que queria derrubar Putin, e sim Choigu, ainda que não com todas as letras. Repetiu essa afirmação em gravação divulgada nesta segunda, afirmando que sua prioridade era denunciar os erros na Guerra da Ucrânia e garantir a sobrevivência do Wagner.