Lula volta a relativizar conceito de democracia após críticas sobre Venezuela
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Na esteira de declarações em que relativizou o fato de o regime comandado por Nicolás Maduro na Venezuela ser uma ditadura, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a falar sobre o tema na noite desta quinta-feira (6). "Cada um de nós compreende a democracia do jeito que a gente quer", disse o petista.
"Aqui no Brasil eu vejo a democracia de um jeito, e eu a exerço. Eu duvido que alguém exerça democracia com mais plenitude do que eu", afirmou Lula durante entrevista ao canal SBT.
O presidente não relacionou diretamente a declaração ao contexto de Caracas, mas as falas sucedem outros momentos em que Lula disse que o conceito de democracia seria relativo. Por essas declarações, foi criticado por intelectuais e ativistas e inclusive ouviu opiniões contrárias de hoje aliados seus, como foi o caso de sua ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB).
As falas de Lula seguem ainda declarações que ele deu mais cedo tentando se afastar de questões externas à política doméstica brasileira. Durante um evento do setor industrial, o petista havia dito que não iria "se meter" em assuntos relativos à Guerra da Ucrânia, ainda que por diversas vezes tenha falado disso e que também tenha tentado colocar Brasília como uma negociadora pelo fim do conflito.
Durante a entrevista ao SBT, Lula disse que tem "um Brasil com 203 milhões de habitantes para se preocupar". "Eu tenho 33 milhões de pessoas passando fome, milhões desempregadas. Não quero priorizar a Venezuela. Quero priorizar o Brasil", declarou o presidente, que em maio recebeu Maduro em Brasília e elogiou o encontro com o ditador.
"A Venezuela é um problema dos venezuelanos. Cuba é um problema dos cubanos. Os americanos são um problema dos americanos. E o Brasil é um problema de nós brasileiros, isso que eu quero cuidar com muito carinho", seguiu Lula.
Ainda na conversa com o canal de TV, o presidente voltou a defender a libertação de Julian Assange, fundador do Wikileaks que, hoje preso em Londres, pode a qualquer momento ser extraditado aos EUA. "Por que que o Assange está preso? Ele deveria ter recebido o prêmio Nobel."
O presidente mais de uma vez disse nas redes sociais que a prisão de Assange, que enfrenta acusações que podem lhe render 175 anos de prisão, viola a democracia. Em novembro passado, o islandês Kristinn Hrafnsson, editor-chefe do Wikileaks, esteve no Brasil e conversou com pessoas do entorno de Lula, à época presidente eleito, para pressionar por ajuda pública.