Em 1 ano, Trump desce ao inferno para reascender como favorito para 2024
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - Até que Donald Trump fosse a uma rede social avisar, pouco se sabia das investigações federais que enfrentava. "Meu lindo lar, Mar-a-Lago, em Palm Beach, na Flórida, está atualmente sitiado, invadido e ocupado por um grande grupo de agentes do FBI", escreveu ele no começo de agosto de 2022. Acuado, enfrentava uma operação policial e era alvo de apurações na Justiça e no Congresso.
Com resistência até dentro do Partido Republicano, que antes dominava, Trump enfrentou forte revés nas eleições legislativas de meio de mandato. Foi acusado de ser o responsável pelas derrotas que resultaram na maioria conquistada pelos democratas no Senado e no controle republicano frágil na Câmara.
Candidatos trumpistas também perderam disputas para o governo em estados-chave como Michigan e Pensilvânia, e fatia importante da legenda chegou a recomendar que ele não se candidatasse à reeleição.
Apontando o dedo de volta aos seus acusadores, Trump parecia derrotado e com poucas chances de voltar à Casa Branca, sobretudo diante de candidatos fortes como o então poderoso governador da Flórida, Ron DeSantis, reeleito no estado com força e descrito como o futuro do Partido Republicano. Em janeiro, chegou a aparecer em pesquisas a apenas 2 pontos percentuais de distância de DeSantis.
Mas bastaram alguns meses para ele reverter o cenário: um ano após descer ao inferno com a operação em Mar-a-Lago, Trump reascendeu como candidato favorito entre os republicanos para a próxima eleição presidencial. Continua cercado pela Justiça, réu em dois processos criminais e com mais dois à vista, mas soube usar as acusações a seu favor, arrecadando doações e disparando nas pesquisas.
O favoritismo ficou mais uma vez evidente na pesquisa do jornal The New York Times com o Instituto de Pesquisas da Faculdade Siena publicada nesta segunda-feira (31). Trump tem 54% das intenções de voto nas primárias republicanas, 37 pontos percentuais a mais que os 17% de DeSantis, segundo colocado.
A pesquisa só considera os eleitores com inclinações republicanas, que é quem deve votar nas primárias ?as regras variam, e em alguns estados é preciso ser filiado à sigla, em outros, qualquer um pode votar.
Um fator que preocupa adversários é que não há indicação de que os processos abalam as intenções de voto no republicano. O caso de Mar-a-Lago se tornou o primeiro processo criminal contra um ex-presidente em nível federal na história do país, com acusações de violações da lei de espionagem e de obstrução da Justiça por suspeita de armazenar e esconder das autoridades documentos secretos de maneira ilegal.
Mas para 71% dos potenciais eleitores nas primárias republicanas, Trump não cometeu crimes federais sérios ?17% afirmam que sim, e o restante não sabe ou se recusou a responder?, segundo a pesquisa.
Nesta terça-feira (1º), Trump pode se tornar réu pela terceira vez, em um processo que apura sua participação na invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021 e as tentativas de reverter a eleição que perdeu para Joe Biden. Há ainda uma investigação avançada na Geórgia por pressionar autoridades locais a "encontrar" votos a seu favor. Não que isso importe para a maioria do eleitorado republicano: 75% dizem que Trump "só estava exercendo seu direito de contestar a eleição", e 71% querem que o partido defenda Trump das acusações.
Embora tenha o favoritismo no partido, ainda há dúvidas sobre seu desempenho frente a frente com Biden. "Escrevo sobre Trump desde 1988. Em 2015, larguei tudo o que estava fazendo para cobrir sua campanha em tempo integral, porque sabia que ele tinha chance de chegar à Casa Branca. Não acho que seja o caso agora", diz o jornalista David Cay Johnston, vencedor do prêmio Pulitzer e autor da biografia "The Making of Donald Trump", além de dois outros livros sobre a era Trump no governo.
"Pesquisas a 16 meses das eleições não são um indicador confiável do que vai acontecer. Trump tem a liderança absoluta no partido, não há dúvida. Por outro lado, as eleições legislativas de 2022 e outros pleitos fora de época pelo país mostram que o apoio não se traduz no resultado das urnas. Nos indiciamentos em Manhattan e em Miami, houve repetidos pedidos de protestos, que não aconteceram."
Assim, para Johnston, não surpreende um aumento repentino nas pesquisas no momento em que ele é indiciado, embora o movimento não seja um indicador real do resultado das eleições. Pesquisa YouGov de 20 de julho apontou Biden com 47% e Trump com 43% num cenário em que os dois se enfrentam.
O ex-presidente tem apoio em todas as fatias com inclinação republicana, abrindo margem mínima para seus adversários, na pesquisa do New York Times. Tem ampla vantagem entre homens (55%), mulheres (53%), brancos (53%), negros (44%) e hispânicos (68%) e vai melhor que os rivais mesmo nas faixas tradicionalmente menos conservadoras e até entre eleitores de 18 a 29 anos (59%) ?entre os que têm de 30 a 34, atinge 41%. O mesmo cenário se dá entre os que moram em cidades (66%) em relação aos que vivem em subúrbios (49%).
O favoritismo se explica pelas prioridades para os eleitores republicanos. DeSantis, por exemplo, faz campanha em cruzada contra a chamada "ideologia de gênero" ou pautas raciais. Mas apenas 24% dos eleitores afirmaram que o candidato ideal "deve focar a derrota da ideologia radical ?woke? nas escolas, mídia e cultura". Já para 65%, o foco deve ser "restaurar a lei e a ordem nas ruas e na fronteira".
Além disso, Trump é crítico do envio contínuo de ajuda à Ucrânia, assim como a maioria dos eleitores republicanos, com 52% se dizendo contrários a enviar mais assistência financeira e militar ao país.
O ex-presidente também tem um discurso duro contra a imigração ilegal, e 57% dos eleitores se disseram contra uma reforma nas leis de imigração que legalize a situação dos imigrantes sem documentos.