Dinamarca reforça suas fronteiras após queima do Alcorão gerar fúria

Por Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O governo da Dinamarca anunciou que o país vem reforçando o controle de suas fronteiras para aumentar a segurança doméstica depois que cópias do Alcorão, o livro sagrado do Islã, foram queimadas em manifestações controversas. Os atos provocaram fúria em Estados de maioria muçulmana.

"As autoridades concluíram ser necessário, neste momento, aumentar o foco em quem está entrando na Dinamarca, a fim de responder às ameaças específicas atuais", disse o Ministério da Justiça dinamarquês em nota divulgada na noite desta quinta-feira (3).

Ativistas de extrema direita da Dinamarca queimaram pelo menos dez cópias do Alcorão na semana passada e planejam repetir o ato em novas manifestações marcadas para esta sexta (4) e para os próximos dias. Os eventos motivaram protestos, e autoridades receiam que possa também estimular casos de terrorismo em território europeu.

Os controles mais rígidos nas fronteiras da Dinamarca devem permanecer, pelo menos, até 10 de agosto, mas a data poderá ser prorrogada, segundo o governo. "As queimas do Alcorão, como disse a polícia, afetaram a atual situação de segurança", afirmou o ministro da Justiça dinamarquês, Peter Hummelgaard.

As equipes de fronteira foram reforçadas, e os agentes instruídos a verificar com mais afinco os dados dos viajantes que chegam ao país. Os passageiros que chegam ao aeroporto de Copenhague, por exemplo, enfrentarão maior escrutínio e verificações aleatórias, segundo a polícia.

Decisões semelhantes foram tomadas pelo governo da Suécia, onde cópias do Alcorão também foram queimadas. A polícia sueca admitiu, no mês passado, que a destruição de exemplares do livro religioso é um fenômeno crescente em seu território, o que tornou o país um "alvo prioritário de ataques".

Os atos aumentaram a pressão para que os países nórdicos imponham freios legais a manifestações do tipo. Também na quinta, a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, afirmou que nenhum texto religioso deve ser queimado em atos públicos. "Seria errado se alguém queimasse a Bíblia. Da mesma forma, não acho que devemos queimar a Torá [livro sagrado do judaísmo]", disse à emissora pública DR.

No centro dos debates está a liberdade de expressão, assegurada constitucionalmente também em casos de protestos de cunho antirreligioso. Governantes afirmam que não podem intervir sobre a realização de manifestações porque isso é uma decisão das forças de segurança, baseada em quesitos técnicos. Estas, por sua vez, argumentam que apenas obedecem à lei ao aprovar aglomerações do tipo e que as licenças que concedem se referem aos eventos em si, não às atividades que eles envolvem.

Governos e líderes de países muçulmanos, incluindo Turquia, Iraque, Emirados Árabes Unidos, Jordânia e Marrocos, criticaram os atos. Da mesma forma, os EUA e o papa Francisco também condenaram a queima do Alcorão. Segundo o pontífice, qualquer livro considerado sagrado deve ser respeitado.

Países como Arábia Saudita, Qatar e Irã ainda convocaram os diplomatas suecos em seus respectivos territórios depois de um protesto envolvendo a queima de um Alcorão em meados de julho. No Iraque, o episódio levou centenas de manifestantes a invadirem e atearem fogo à embaixada da Suécia e terminou com a expulsão da embaixadora da nação escandinava.

À medida que aumentam as tensões diplomáticas com países muçulmanos, as administrações da Suécia e da Dinamarca têm discutido como promover mudanças na legislação de modo a impedir a realização dos protestos. O chanceler dinamarquês, Lars Lokke Rasmussen, afirmou na semana passada que o governo busca uma "ferramenta legal" que permita às autoridades intervir.

"São atos profundamente ofensivos e imprudentes cometidos por indivíduos isoladamente. Essas pessoas não representam os valores sobre os quais a sociedade dinamarquesa está construída", disse.

A declaração, porém, não amenizou a crise. O porta-voz da chancelaria do Irã, Nasser Kanaani, por exemplo, disse que "o governo dinamarquês é responsável por prevenir insultos ao Alcorão e às santidades islâmicas, bem como processar e punir quem cometeu os insultos". Segundo ele, os Estados muçulmanos esperam ações práticas.