Sarkozy provoca repúdio ao dizer que Ucrânia não deve aderir à Otan e defender Putin

Por Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Onze anos depois de deixar o poder na França, o ex-presidente Nicolas Sarkozy segue causando polêmicas no país. A mais nova envolve a Guerra da Ucrânia: na semana passada, ele provocou indignação em Paris e Kiev ao sugerir que a solução para a guerra seria a convocação de novos referendos em territórios ocupados pela Rússia.

"Os ucranianos vão querer reconquistar o que lhes foi injustamente tirado. Mas se não conseguirem fazê-lo completamente, a escolha será entre um conflito congelado ou optar por referendos estritamente supervisionados pela comunidade internacional", disse o ex-líder francês em uma entrevista ao jornal Le Figaro para promover seu novo livro.

Sobre a Crimeia, ele chamou o desejo dos ucranianos de retomá-la de ilusão e apontou que "um referendo incontestável será necessário para solidificar o atual estado de coisas".

Sarkozy também afirmou que o presidente russo, Vladimir Putin, não é irracional e defendeu que a Ucrânia seja um país neutro; ou seja, não faça parte da Otan, a aliança militar liderada pelas grandes potências ocidentais. "A Rússia é vizinha da Europa e continuará sendo", disse. "Diplomacia, discussão e conversações continuam sendo a única maneira de encontrar uma solução aceitável. Nada é possível sem acordos."

Os comentários atraíram uma resposta imediata de Kiev. Mikhailo Podoliak, assessor de Volodimir Zelenski, fez como costuma fazer: correu para a plataforma X, ex-Twitter, e chamou os argumentos do ex-presidente francês de " fantástica lógica criminosa". "O encorajamento de Sarkozy é uma cumplicidade direta em um crime que já dura anos", escreveu, citando as negociações de líderes ocidentais com Putin em 2008, para acabar com a invasão da Geórgia, e em 2014, quando iniciaram-se os conflitos no leste ucraniano.

Sarkozy foi um dos líderes europeus que negociaram com o presidente russo para o fim da guerra contra os georgianos.

Jérôme Poirot, que foi assessor de inteligência do ex-presidente francês, disse que seus comentários foram vergonhosos e uma reescrita da história. "Ele não tem perspectiva sobre o que aconteceu ou sobre o que fez" durante seu mandato de 2007 a 2012, disse, lembrando que o ex-líder francês foi uma das principais vozes contra a adesão da Geórgia e da Ucrânia à Otan em 2008.

Fato é que a guerra da Ucrânia não tem previsão de acabar.

Neste domingo (20), por exemplo, Zelenski visitou a Holanda e ouviu do premiê holandês que seu país e a Dinamarca enviarão caças F-16 aos ucranianos, conforme Kiev vinha solicitando. Mark Rutte disse que a Holanda tem 42 F-16 disponíveis, mas não comentou se enviará todos para o país em guerra.

Dias antes, os Estados Unidos haviam aprovado a entrega dos caças. Tal autorização era necessária já que as aeronaves são desenvolvidas pela Força Aérea americana.

Paralelamente, a Rússia disse neste domingo que drones ucranianos atacaram quatro regiões na fronteira com a Ucrânia, ferindo cinco pessoas e forçando dois aeroportos de Moscou a desviar voos brevemente. Mais cedo, o Ministério da Defesa da Rússia comunicou que bloqueou um drone ucraniano na região de Moscou, forçando-o a cair em uma área despovoada.