Corpo de recém-nascido é encontrado em barco de migrantes em Lampedusa
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O corpo de um bebê recém-nascido foi encontrado neste sábado (16) em uma embarcação resgatada por equipes de emergência no cais Favarolo, na ilha italiana de Lampedusa, palco de uma crise migratória que mobiliza autoridades do país e da União Europeia (UE).
O bebê morto foi retirado, colocado em um caixão branco e levado para um cemitério local por equipes da Guarda Costeira que haviam realizado o resgate do barco com migrantes nos arredores da ilha, segundo relato da agência italiana Ansa. Uma pessoa, que se acredita ser a mãe do recém-nascido, foi levada para um hospital local.
Casos como esse vêm se repetindo. Há três dias, uma bebê de cinco meses morreu afogada após a embarcação improvisada na qual estava com outros 45 migrantes virar no mar. O grupo havia partido de Sfax, na Tunísia, e todos foram resgatados pela Guarda Costeira, exceto o bebê.
A menos de 150 quilômetros da costa da Tunísia, Lampedusa é um ponto de trânsito de milhares de migrantes, em especial aqueles que partem de países da África e atravessam o mar Mediterrâneo para chegar à Europa. A rota já registrou a morte de mais de 2.000 pessoas desde janeiro, uma cifra, porém, reconhecidamente subnotificada.
Ao longo dos últimos dias, a crise migratória regional escalou. Somente de segunda (11) a quarta-feira (13), ao menos 8.512 migrantes teriam desembarcado na ilha --cifra superior à da população local, de cerca de 7.000 habitantes--, segundo dados do Acnur, o alto comissariado da ONU para refugiados.
O quadro elevou a pressão sobre o governo da primeira-ministra Giorgia Meloni, política ultradireitista conhecida por seu discurso anti-imigração. Em vídeo nas redes sociais na noite desta sexta (15), ela disse que a pressão exercida sobre seu país é algo "insustentável". "Trabalhamos todos os dias para manter aqueles compromissos que assinamos, a começar pelo combate à imigração ilegal", afirmou.
O cenário na ilha despertou mobilizações de políticos locais e também da população, em especial após autoridades cogitarem a construção do que vem sendo chamado de uma "cidade de tendas", acampamento improvisado para acolher os imigrantes e prestar assistência.
Moradores chegaram a bloquear algumas das ruas para impedir a passagem de caminhões e de assistência humanitária. "Não temos medo da polícia, de [Giorgia] Meloni ou de Ursula Von der Leyen [a presidente da Comissão Europeia]", afirmou à Ansa Giacomo Sferlazzo, líder do grupo local Mediterraneo Pelagie.
"Ficaremos aqui até que a ilha seja esvaziada para que ela possa respirar e a população possa ficar tranquila, sem ser atormentada", seguiu ele. Acredita-se que a alemã Von der Leyen possa fazer uma visita à região neste fim de semana antes de partir para Nova York, onde ocorre a Assembleia-Geral da ONU na próxima semana.
Ao jornal Corriere della Sera o ministro do Interior italiano, Matteo Piantedosi, afirmou, sem detalhar, que o governo "trabalha numa perspectiva complexa que finalmente chegará à raiz do fenômeno [migratório]". Durante a semana, declarações do tipo levaram a especulações de que Roma para firmar algum acordo por fora dos padrões da União Europeia para diminuir os fluxos migratórios.
O cenário tem esquentado o debate político na Itália. A ONU pediu que "ninguém politize a tragédia dos refugiados e migrantes". "São necessárias soluções reais: adotar uma resposta europeia comum e ampliar a ajuda à África; caso contrário, mais Lampedusas acontecerão", disse Filippo Grandi, alto comissário para refugiados que é italiano.
Os fluxos migratórios em direção à África cresceram ao longo deste ano, cenário em partes motivado pela crescente instabilidade política no continente, em especial na região do Sahel, palco de seguidos golpes de Estado, pelos impactos da emergência climática nas economias locais e pela crise de insegurança comum a muitas dessas nações.