Nova lei de imigração é 'escudo' que faltava à França, diz Macron

Por IVAN FINOTTI

President Emmanuel Macron looks on as he greets Slovenia's Prime Minister Robert Golob (unseen) at the Elysee Palace in Paris on December 13, 2023. (Photo by Ludovic MARIN / AFP)

MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) - O presidente da França, Emmanuel Macron, defendeu nesta quarta-feira (20) o projeto de lei sobre imigração aprovado na véspera pela Assembleia Nacional. Para ele, a nova legislação é "o escudo que faltava" a Paris para tratar as questões migratórias, às quais se referiu como um "problema".

Segundo Macron, no entanto, a lei não impedirá a França, "um país que sempre acolheu" -nas palavras dele- de continuar a acolher estrangeiros.

"Não há sobrecarga, não. Nunca usei esses termos, mas temos problemas reais de imigração. Há mais pressão migratória do que havia há dez anos no país. E sim, isso pressiona nosso sistema", disse o presidente em entrevista concedida ao vivo à emissora pública France 5.

O projeto do governo foi aprovado após uma negociação dramática, uma vez que os deputados da ultradireita votaram a favor, e os da esquerda -mesmo os do partido Renascimento, de Macron- votaram contra.

Originalmente, o projeto tornaria mais fácil obter uma autorização de residência para os imigrantes que trabalham em setores que carecem de mão de obra, enquanto facilitaria a expulsão de quem estivesse em situação ilegal. Mas, sem maioria na Câmara, o governo concordou em endurecer o texto.

A aprovação levou a uma fratura no primeiro escalão do governo, com o ministro da Saúde, Aurélien Rousseau, pedindo demissão.

"Não posso dizer que tenha havido uma ruptura completa. Porque não é exatamente o texto da maioria, mas você aprende a trabalhar com a maioria relativa", declarou o presidente, acrescentando que respeita a decisão de Rousseau.

Macron se esforçou para se distanciar de Marine Le Pen e de seu partido Reunião Nacional (RN). Le Pen havia descrito o projeto de lei, após reformulações e endurecimento, como "uma grande vitória ideológica".

Não há "nenhuma vitória ideológica", afirmou o presidente nesta quarta. Para ele, o apoio ao seu projeto foi uma "manobra grosseira" e "uma derrota ao RN". "Essa lei vai nos permitir lutar contra o que alimenta o Reunião Nacional porque nos tornará mais eficazes."

Segundo Macron, o texto aprovado pelos legisladores é, na verdade, um bloqueio contra a ultradireita e suas ideias. "Afirmo levar adiante o projeto que mais se opõe ao que o RN está fazendo. Simplesmente, penso que lutar não é recusar-se a lidar com os problemas que nutrem o partido dela. Pelo contrário, é atacá-los e mostrar que há resposta no campo republicano", concluiu.

O presidente também afirmou que o texto ainda pode passar por mudanças. "Vou submeter ao Conselho Constitucional porque penso que existem disposições que não estão em conformidade com a nossa Constituição."

A França tem um dos sistemas de segurança social mais generosos do mundo, concedendo pagamentos mesmo a imigrantes residentes. A ultradireita e, mais recentemente, os conservadores, argumentam que isso deveria ser reservado apenas aos franceses.

O novo projeto atrasa em cinco anos o acesso a benefícios de habitação para imigrantes desempregados vindos de fora da União Europeia. O texto também introduz cotas de migração e torna mais difícil aos filhos dos imigrantes tornarem-se cidadãos franceses.